RODRIGO DIAS – ADVOGADO E ESPECIALISTA EM GESTÃO PÚBLICA
Há precisamente um ano, em 8 de janeiro de 2023, eventos impactantes ecoaram na capital do Brasil, deixando profundas marcas na história brasileira. A democracia foi submetida a uma rigorosa prova, revelando sua resiliência diante das adversidades.
Ao revisitar esse período, evoco a notável conquista de Tiro por Alexandre, o Grande, em 332 a.C. Embora minha perspectiva possa suscitar divergências, como profissional do direito, minha abordagem fundamenta-se na aplicação da lei, que, em sua essência, exalta os princípios democráticos.
Ao explorar a complexidade de Alexandre, destaco não apenas suas táticas militares, algumas consideradas severas, mas também sua reputação como estrategista.
Conforme relatos históricos, antes de atacar Tiro, Alexandre buscou negociar a rendição da cidade, a última fortaleza dos persas. Contudo, os tírios responderam de maneira brutal, assassinando os emissários de Alexandre e lançando seus corpos ao mar.
Diante dessa hostilidade e da dificuldade em conquistar a cidade de forma convencional, devido à sua localização insular, Alexandre optou pela construção de uma extensa passarela suspensa.
Seu respaldo estava em um sonho no qual Hércules o guiava. A construção da ponte ocorreu de janeiro a julho de 332 a.C.
Teorias contemporâneas indicam que a viabilidade da construção da passarela sobre o mar, com quase um quilômetro de extensão, deveu-se à baixa profundidade das águas na época. Parte dessa estrutura, erguida com pedras, permanece visível até hoje, representando um elo duradouro com a ilha.
Essa narrativa estabelece uma analogia com os eventos de 8 de janeiro no Brasil, quando, uma semana após a posse do governo atual, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, insatisfeitos com os resultados das eleições de 2022, invadiram e vandalizaram áreas do Congresso, Palácio do Planalto e Supremo Tribunal Federal.
Assim como Alexandre enviou emissários para negociar a rendição de Tiro, os processos democráticos, como as eleições de 2022, cumpriram seu papel como mensageiros da democracia.
Contudo, à semelhança dos habitantes de Tiro que atacaram os emissários de Alexandre, o grupo que invadiu os edifícios desafiou a ordem democrática, ignorando os resultados eleitorais. Em um Estado Democrático, tal comportamento é inaceitável e deve ser reprimido de acordo com a lei vigente.
Diante da reação adversa e da complexidade em lidar com a situação de maneira convencional, as autoridades agiram com firmeza, refletindo a estratégia de Alexandre ao tentar conquistar uma ilha. A construção da passarela em Tiro, apesar de desafiadora e demorada, simboliza a resposta após a invasão.
A resolução das autoridades e os processos judiciais representam um caminho sólido para as instituições democráticas, resistindo aos desafios e fortalecendo-se ao longo do tempo.
À semelhança da passarela de Tiro, que permaneceu visível por séculos, a resposta das autoridades brasileiras ressoa como uma advertência constante, indicando que os alicerces da democracia estão firmes e não serão abalados por ações isoladas.
Para concluir, é crucial refletir sobre as palavras de Winston Churchill: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.