ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA
Naquele dia 15 de julho de 1971, às 21h35, havia um determinado desenho no céu. O famoso ‘escrito nas estrelas’ estava ali, e eu nasci aos pés do Morro da Caturrita, na Casa de Saúde.
Pois então, segundo aquele desenho do céu, eu sou uma pessoa do signo de câncer, elemento água, um ser que se deixa levar pelas emoções. Portanto, se eu sigo meu coração, ele dá voltas surreais e, sim, permanece sangrando.
A vida da perspectiva do canceriano é um rio de sangue e lágrimas. Dizia ainda no céu daquele dia que meu ascendente é peixes, outro signo do elemento água e recheado de emoções.
Assim, viver nos dias de hoje com esse céu é um desafio a mais para nós, reles caranguejos. Tal qual esses animaizinhos, adoramos um buraco na areia para espiar às vezes, correr para o buraco (de lado) e sumir. É uma defesa da nossa energia, digamos. Vá que passe um humano, né?
Tanta emoção me leva a sentir as dores do mundo e isso exige exercícios mentais para dar conta de tudo dentro do peito. Recentemente conheci uma psicóloga do clima.
Achei essa profissão muito interessante e necessária. Por exemplo, fiquei com um peso no peito vendo as notícias da enchente na zona Norte e região metropolitana do Rio de Janeiro, no fim de semana. Dói saber que os mais pobres, quando arranjam um teto, vai tudo abaixo. Não poderiam estar ali.
Enfim, faz parte da nossa coleção Primavera/Verão 2024 de tragédias evitáveis. Isso dói num canceriano. Pobre psicóloga.
Na verdade, depois dos 50, quase tudo dói, por dentro e por fora. Por outro lado, temos experiência e recursos internos para melhorar as coisas. Me dizem que não vou resolver os problemas do mundo, blá, blá, blá. Mas e se eu conseguir lá meus resultados? Já vai valer a pena ter vivido.
O calor insano e eu, do nada, penso nos trabalhadores da construção civil, ou nos cozinheiros, enfim, em quem não tem escolha. Ainda mais, sabendo que este calor pode matar as pessoas mesmo. Aí eu sofro mais um pouco, e vida que segue.
Mas tudo na vida acaba tendo sua compensação, diante da dança mecânica das estrelas, dos planetas regentes, do sol, desse céu nosso.
Assim que hoje, 15 de janeiro, eu olho a luz do céu e quero acreditar que sim, o sol central da galáxia está enviando alguns raios de luz à Terra, e olha que isso é raríssimo, já que estamos nas bordas da Via Láctea. Mas é o que dizem as pessoas que estudam muito o céu.
Meu coração é do tipo que acredita em tudo até que se prove o contrário. Então, estou acreditando que no meio das tragédias evitáveis, tem luz. Aquela famosa do ‘fim do túnel’. Vamos acreditar.