Paralelo 29

CRÔNICA DO DIOMAR: Inteligência Artificial…de quem é este texto, realmente?

Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil

DIOMAR KONRAD – PUBLICITÁRIO

Talvez este seja o meu último texto como pensador autônomo, pois os próximos virão com meu nome acrescido da sigla IA.

Sim, porque até mesmo sistemas automáticos vão ter autoestima e não serão bobos de deixar que eu continue publicando crônicas em meu nome quando o trabalho todo foi deles. Mas certamente terão um pouco mais de dificuldade em escrever de forma irônica, pelo menos nos primeiros aplicativos.

O que quero dizer é que, como fruto da inteligência humana, que muitas vezes também é artificial (porém, mais em um sentido de fingimento ou ignorância mesmo), A IA também virá em diferentes níveis, cada uma com seu preço, é claro.

Teremos, então, inteligências artificiais criadas para diferentes públicos em função de sua capacidade de entender o texto. Diante dessa dedução, os inventores da IA terão que adaptar os algoritmos para atender analfabetos funcionais ou digitais ou experts em determinado assunto.

No caso de um professor universitário, por exemplo, que esteja em fase final de carreira e que acumulou a leitura e síntese de um conjunto amplo de obras, em suas áreas, desde as mais clássicas até as mais recentes, a IA teria que se superar para surpreendê-lo. No caso de um jornalista, ela até poderia, rapidamente, fazer a síntese das principais notícias do mundo em segundos, o que pouparia o trabalho de um editor, mas suas conclusões iriam carecer do caráter ideológico na formulação da opinião, a não ser que já existam IAs de esquerda, centro, direita ou extrema direita.

Talvez as IAs sejam mais eficientes em identificar o conteúdo “perigoso” que se esconde atrás de cada texto, refutando a sua publicação.

Mesmo assim, podem incorrer no erro de muitos censores do tempo da ditadura, que não conseguiam entender figuras de linguagem nas obras de arte. Teve até um caso em que o censor exigiu que os autores de uma peça de teatro comparecessem na delegacia.

Os vivos foram, mas o tal de Sófocles nunca apareceu para dar o seu depoimento sobre a obra subversiva. Está sendo procurado até hoje.

Para aqueles que gostam de desafios na área escrita, os quais, eu diria, saem das redações literalmente cheirando a texto, não parece que vai alterar de fato a construção de boas ideias.

Sempre é bom lembrar que a IA pode escrever bons textos, baseados nas informações existentes, mas não consegue, pelo menos ainda, ser criativa nem promover diálogos.

Como todo desenvolvimento tecnológico, a IA assusta as pessoas e vem com a antiga promessa de desemprego, o que entendo como natural em uma sociedade que se apega ao passado como se aquele fosse realmente um tempo bom. Nem sequer nos lembramos do quão trabalhoso era ter que datilografar uma folha novamente quando esquecíamos uma linha bem no final.    

Uma coisa é certa: a IA não virá de graça e em breve estará no mercado de ações. Talvez no futuro seja considerada uma commodity.

Talvez haja uma guerra mundial pela detenção da tecnologia. O mundo está tão ruim que penso que nem mesmo a IA tenha solução para tantos problemas que causamos como espécie.

A IA que tenho no meu computador não concordou com o texto, disse não entender certos termos e sugeriu modificações. A IA do editor deste portal falou quase a mesma coisa, mas de outra forma.

Felizmente, elas ainda não têm a última palavra e o texto passou. Resta saber se vai direto para o leitor ou se alguma IA filtra antes. Tomara que não.

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