ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
É senso comum de que os eleitos para a Câmara e ao Senado representam o povo brasileiro. O sufrágio universal é inconteste diante dessa premissa.
A eleição é o símbolo da democracia, e aceitamos a questão da representatividade pura e simplesmente. Participamos ativamente do processo, e sempre teremos alguém com os nossos anseios ideológicos no legislativo. E depois da posse, esperamos que os eleitos trabalhem para o povo, em benefício do povo. Mas nem sempre as notícias vindas de Brasília são auspiciosas.
Assim, alguns representantes são movidos pelo interesse econômico do grande capital. E formam bancadas das mais variadas e que, por vezes, causam estranheza, mas não surpresa: bancada da bala, do boi, da bíblia e por aí vai.
Os crimes de colarinho branco são uma sombra constante sobre a credibilidade do Congresso. Escândalos envolvendo políticos e desvios de recursos públicos contribuem para um ciclo vicioso que mina a confiança da população nas instituições democráticas.
A percepção que chega aqui na base é de que o Congresso age em benefício próprio. Um exemplo que alarma e derruba o queixo é o Fundão Partidário. Algo próximo a R$ 5.000.000.000,00 para as eleições de 2024. [Coloquei em números para perceber o tamanho da coisa].
No entanto, o que mais exprime a falta de representatividade do Congresso é quando colocamos os dados sobre a participação das mulheres, negros, povos originários e LGBTQIA+.
Observa-se uma discrepância significativa entre a diversidade da população brasileira e a representação parlamentar. Essa camada da população é sub-representada refletindo uma vasta lacuna.
Aliás, o que funciona muito bem no Congresso é o patriarcado. E esse poder ainda vai longe. É uma engrenagem rígida, intransponível e feita para perpetuar quem já está inserido nela. Ou seja, manutenção do status quo.
Numa recente pesquisa – censo de 2022 – o percentual de pessoas autodeclaradas pardas ou pretas chegou a 55%. E, como sabemos, as mulheres são a maioria da população, algo em torno de 52%.
Nas duas casas legislativas, Câmara Federal e Senado, o percentual de mulheres é de 15% e de pardos ou pretos chega a 24%. No ato de promulgação da reforma tributária, a foto da mesa e dos papagaios diz muito sobre a representatividade do Congresso.
Os números não possuem ideologia, são frios e não mentem. Eles também são rígidos e diante destes dados o óbvio sobressalta.
A conclusão é simples: o atual Congresso não representa a população brasileira, embora todos os trâmites legais da nossa democracia representativa.