ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
Alguns eventos que julgávamos enterrados no passado, uma página virada, voltam para o debate: censura de livros em nome da moral e dos bons costumes.
Num primeiro momento, não acreditamos na notícia por ser esdrúxula. Mas a verdade é confirmada. Aí avançamos do estado de incredulidade para o “sem palavras”. Tipo: não estou acreditando que em pleno século XXI isso esteja acontecendo.
Censura de livros não faz parte de nosso debate. Típica atitude dos regimes de exceção. O nosso governo foi eleito democraticamente, óbvio.
Mas o país está dividido e não podemos desdenhar da capacidade de mobilização da extrema-direita derrotada em 2022.
O combo é completo, censura, misoginia, trabalho escravo, racismo, etc. Basta um leve confronto de asteroides e está feito o estrago.
A censura de obras literárias é preocupante. Porque é só o começo e o desfecho disso tudo está nos livros de história e sabemos muito bem o tamanho do retrocesso.
“O Avesso da Pele” de Jeferson Tenório mobilizou discussões nas redes sociais após ser criticado e censurado por uma diretora de escola estadual em Santa Cruz do Sul. “O Outono da Carne Estranha” de Airton Souza também foi alvo de censura.
Esses episódios de censura ressaltam a importância de proteger a liberdade de expressão e garantir que a diversidade de vozes continue a enriquecer nossa sociedade literária e cultural.
Então, surgem notícias de novas censuras. Um caso no Paraná, na Bahia e outro em Goiás.
Reacende o amarelo piscante.
Como já disse Émile Zola “Os governos suspeitam da literatura porque é uma força que lhes escapa”. Não são só os governos, os energúmenos também.
Só temos um encaminhamento: propor o debate. O confronto de ideias é a melhor solução para buscar o convencimento de quem está “a lo largo” dos acontecimentos. Censura de livros nos dias atuais é algo como terraplanismo literário.
Temos que ler e discutir à exaustão, porque em 2026 nós não podemos perder o bonde da história e desembarcar em pautas reacionárias.
Diante desse cenário desafiador, é fundamental que os cidadãos reafirmem seu compromisso com os valores democráticos e os direitos humanos.
A literatura desempenha um papel crucial nesse processo, ao ampliar vozes marginalizadas e promover a empatia e a compreensão entre diferentes grupos sociais.
Obras como “O Avesso da Pele” e “Outono da Carne Estranha” oferecem perspectivas importantes sobre as experiências inclusivas, desafiando estereótipos e desconstruindo narrativas hegemônicas.
O mundo mudou e está mudando e algumas pessoas resolveram dar marcha ré ou manter o olhar no retrovisor da história. O terraplanismo tem várias facetas. E o único perigo é cairmos no abismo da ignorância.