ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA
Têm coisas difíceis de entender e aceitar. Estamos num tempo em que a ignorância assombra e mata mais a cada dia. Por exemplo, aqueles que são contra as vacinas.
Para produzir uma vacina, profissionais passam décadas estudando, trabalhando exaustivamente no tema, em conjunto com cientistas de várias partes do mundo. Não fossem as vacinas, ainda estaríamos morrendo às toneladas por causa da Covid-19, por exemplo.
Estamos num tempo em que nós, jornalistas, somos criticados por ouvir a ciência. Por que minha indignação? Por causa da situação da dengue, principalmente no Sul e Sudeste do Brasil.
É revoltante ouvir certas notícias. Não tem como engolir certas coisas neste país. Vamos ligar alguns pontos sobre a situação atual.
O infectologista Antonio Carlos Bandeira, especialista em saúde pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), fez uma declaração importante: “O Brasil perdeu o timing para erradicar o Aedes”.
Ele tem autoridade no assunto. Como citei, é daqueles estudiosos de uma vida inteira, careca de saber das coisas. Foi ele que descobriu, em 2015, a chegada do vírus Zika ao Brasil, doença também transmitida pelo Aedes aegypti.
Bandeira defende, diante dos fatos, que haja investimento pesado em vacina contra a dengue e em pesquisas nacionais. Pois bem, há vacinas, porém, ainda não estão disponíveis para todas as faixas etárias.
Aí, verificando os números da vacinação, vimos que o Ministério da Saúde divulgou no começo de março: das 1.235.119 vacinas contra a dengue distribuídas aos municípios, apenas 182.204 foram aplicadas em crianças e adolescentes que fazem parte do público-alvo definido pela pasta.
A quantidade de doses aplicadas equivale a 14,75% do total distribuído. Diz ainda a notícia: com baixo índice de vacinação, estados avaliam ampliar público-alvo para evitar “vencimento” de doses.
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O mosquito vive mais no calor
É uma luta para ter vacinas. Ter a aceitação das vacinas. Aplicar as vacinas. A população está morrendo por causa da dengue, e a tendência, sabemos que é catastrófica devido ao aumento das temperaturas do planeta. O calor propicia maior reprodução e mais tempo de vida dos insetos como o aedes, transmissor de todas as arboviroses que atualmente circulam no país, inclusive a dengue.
Ah, mas esse negócio de mudança climática é papo ideológico de esquerda. Pergunto: quanto você, que acredita nesta estupidez, tirou nas provas de ciências? Se é que foi às aulas e chegou a fazer provas. Ignorância mata, caros leitores.
Voltando às informações do infectologista. Temos uma explosão de casos de dengue este ano. “Preocupa a grande quantidade de casos que a gente tem. Porque uma grande quantidade de casos implica uma grande quantidade de complicações e uma grande quantidade de possíveis óbitos”, diz Bandeira.
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Perdemos a chance de erradicar
Importante ressaltar que o Aedes aegypti chegou a ser erradicado do território brasileiro por volta de 1950 como resultado de medidas para controle da febre amarela. Mas o estudioso afirma que nunca mais esse cenário ocorrerá.
“O Aedes veio para ficar e só faz aumentar. Começou em 1980 no Rio de Janeiro e, hoje, já está presente em praticamente todos os municípios do Brasil. É um mosquito altamente domiciliável. Nessas temperaturas elevadas, não tem como. A saída nossa agora é a vacina. Não tem outra.”
Li num material informativo que a dengue é transmitida pela fêmea que está infectada. Ela gosta de se alimentar do nosso sangue no começo da manhã e no fim da tarde.
Portanto, são momentos para passarmos repelente. Na atual situação sanitária, no mínimo, é diária a tarefa de revisar todos os possíveis focos.
Pesquisas mostram que o maior número de focos do mosquito Aedes Aegypti está dentro das casas. Esta é outra informação que indica que devemos revisar todos os cantos.
A picada deste mosquito não causa dor nem coceiras. Assim, precisamos ficar de olho no próprio inseto, que é um pouco maior (5mm) que os pernilongos que azucrinam a nossa vida. São mais visíveis. Olho vivo, outro ponto.
Nunca tivemos tanto movimento enquanto sociedade, com apelos diferentes e muita informação chegando a todo momento.
O celular está na mesa das refeições, na cama, no banho, na academia, na mesa de trabalho. Sempre. Sem conexão, perdemos o chão. Mas de que adianta tanto acesso à informação, se continuamos altamente vulneráveis?
Estamos a passos largos para uma crise sanitária jamais vista, basicamente, em função de águas paradas. E de mentes paradas. É hora de pensarmos com seriedade sobre o nosso papel diante desta realidade.