ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
O Brasil sempre esteve dividido após a redemocratização. Um Gre-Nal em cada eleição. No entanto, essa polaridade ficou acentuada com a ascensão do capitão.
Para esse antagonismo, o mês de março é crucial. Uma turma quer comemorar o que eles chamam de revolução de 64 a outra parte deseja apenas rememorar o golpe de 64 para que não se repita.
Aos trancos e barrancos vamos levando e sustentado a nossa frágil democracia. Os golpistas de 64 sempre estiveram na espreita, envergonhados de mostrar a carinha, mas de uns tempos para cá os adoradores do nada brilhante Ustra resolveram sair do armário e aprontaram um descabido e aloprado oito de janeiro.
O 8/01 ainda vai reverberar na política por um bom tempo e, consequentemente, nas eleições. Mas eu gostaria de reverberar aqui o 31/03; uma data que tem um simbolismo especial.
Embora o presidente Lula não deseja molestar os milicos, dizendo que o golpe de 64 é coisa do passado, nós não podemos deixar passar em alvas nuvens uma data arrebatada de efemérides…
Devemos rememorar o golpe de 64. A quartelada que alguns acreditam que aconteceu em 1º de abril de 1964. Eu sou conservador, fico com a tese do dia 31 de março.
2024 marca os 60 anos do golpe e uma data redonda dessas – que desce quadrada – é motivo de reflexões para os sensatos e democráticos.
A minha contribuição é bem simples. Não vou sair aos berros de “Abaixo a ditadura!” pelas congestionadas vias da web, vou recomendar, apenas, dois livros escritos por quem viveu aquele período.
“O baú do guerrilheiro – Memórias da luta armada urbana no Brasil” de Ottoni Fernandes Júnior. Editora Recorde.
“Gracias a la vida – Memórias de um militante” de Cid Benjamin. José Olympio Editora.
A literatura sobre o golpe de 64 é muito vasta. Talvez seja o período mais investigado pelos historiadores. Pelo menos para mim, foi o período da história do Brasil que eu mais li. Por conta dessas leituras escrevi ficção – baseada em fatos reais –, um livro de narrativas curtas: Contos de Chumbo.
Assim, resolvi recomendar os livros de memórias por quem esteve na luta. A vivência em cada página é real. Os autores, Cid e Ottoni, trazem um vasto depoimento de todas as agruras, ansiedade e conflitos por aqueles que estavam na luta armada.
Relatos das prisões e torturas a que foram submetidos. Experiências pessoais mesclado com oportunas reflexões sobre as venturas e desventuras da esquerda brasileira. Importante reflexão à esquerda.
Uma pergunta foi a mais reflexiva: por que, quando a guerrilha já estava liquidada, alguns dos mais brilhantes jovens daquela geração, insistiram em caminhar para a morte? Como afirmei lá no começo. Rememorar para que não mais aconteça.