JOÃO EICHBAUM – ADVOGADO E ESCRITOR
Dizia o saudoso e eternamente irreverente Vinicius de Morais, num de seus versos provocantes e satíricos: “enquanto eu tiver língua e dedo, mulher não me mete medo”.
Ele sabia que um toque de pele com o dedo deslizando pelo corpo ou tocando no clitóris da mulher do momento, faz eriçar os pelos de todo o corpo e atiça o tremor do desejo. E esse tremor é o sinal dado pelo cérebro, num caminho sem encruzilhadas que, de um jeito ou de outro, leva ao orgasmo.
O orgasmo, para quem não sabe ou não consegue exprimir, é o ponto extremo, o ápice atingido pela estimulação, pelo processo de excitação, ou pelo exercício da atividade sexual, propriamente dita, seja ela qual for, solitária ou dividida.
Trata-se de uma função orgânica, presente em todos os seres da raça animal. Na espécie humana, entra em ação, no processo de excitação, o sistema nervoso simpático e parassimpático.
A natureza humana não faz diferença alguma, entre os seres humanos, para livrar alguns deles desse fenômeno, em razão de sua posição na sociedade, ou de sua profissão.
Tanto quem fez votos de castidade, como os liberados desse despropósito, estão sujeitos àquela função fisiológica em que a adrenalina, despejada pelas funções supra-renais provoca a dilatação das artérias para a passagem do sangue que, por seu turno, exige do pulmão a oxigenação necessária.
Raras, raríssimas são as pessoas impedidas pelo hipotireoidismo para a produção de hormônios, como a adrenalina.
Se o pensamento excita, imagine-se o toque de pele com pele e especialmente dos lábios mornos e úmidos, no processo de alimentação do desejo, comandado pelo cérebro, a partir do hipotálamo e do neocórtex, que provocam as sensações do corpo no caminho que leva ao orgasmo.
Principalmente quando a pele é tocada pela ponta dos dedos, que reúnem a maior densidade de terminações nervosas, transmissoras das ordens do cérebro.
Não. Não é o que vocês estão pensando. Não se trata aqui de um ensaio sobre o mecanismo da libido ou sobre a pungência sexual. O assunto desta crônica foi provocado por uma decisão do Sumo Pontífice da Igreja Católica.
Sua Santidade neste ano resolveu convidar, ou convocar, como personagens, ou figurantes, da teatralidade litúrgica chamada lava-pés, mulheres que cumprem pena numa penitenciária feminina de Roma. Nessa cerimônia, o celebrante não só lava os pés das pessoas que representam os doze apóstolos, mas os beija também. E aí é que entram em ação os lábios e os dedos.
O papa argentino está muito longe de lembrar um galã, tipo ex-marido da Gisele Bündchen: não tem o encanto pessoal que seduz. Mas a alquimia da celebridade, numa hora dessas, funciona.
Com o toque dos dedos do macho e do beijo que umedece os pés da fêmea, as sensações eróticas promovem o eriçamento da pele dela. Aí os estímulos ao prazer são inevitáveis.
O papa que, pela idade, anda com a testosterona abaixo de zero, não pensou nisso, mas a liturgia pode ter levado as mulheres ao pecado solitário.