Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: A boate do DCE

O fusquinha, em frente ao prédio da engenharia em 21.07.83., em uma carreata de final de curso/Arquivo Pessoal: Athos Miralha

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Um pequeno contratempo me impediu de ir até a Cesma para assistir ao lançamento do documentário “Clube Universitário – A Boate do DCE”.

Certamente, o curta produzido por Luciano Ribas trará boas recordações para a nossa memória afetiva da boate.

Eu também fui assíduo frequentador da boate do DCE, mesmo antes de entrar na universidade. Eu era um jovem tímido metido.

Mas a frequência se acentuou após a minha “conversão” em universitário do Centro de Tecnologia, então nos anos 80 a diversão nos finais de semana era a boate do DCE.

São tantas as lembranças, mas uma ficou muito bem marcada na memória… e não é um coração partido. Mas foi de partir o coração. Um fusquinha é o protagonista destas recordações.

Eu tinha um fusca branco 1600 dois carburadores ano 76. Coisa potente. Eu me achava dirigindo um Porsche. Placas? DN 2936. Lembro até hoje.

Eu sempre estacionava em alguma rua em declive, pois o fusquinha tinha a mania de só dar a partida no estilo “pegar no tranco”. Naquele sábado, deixei ali perto do Pingo, na Floriano. Um pouco abaixo, assim para empurrar eu não precisava pedir ajuda.

E fui para a boate, empolgado como guri de bombacha nova. Quando cheguei o Crocante já estava dançando a break para dar início aos trabalhos.

Eu estava fadado a ficar solito no meio do ambiente enfumaçado. Numa primeira olhadela, nenhum conhecido… nenhuma conhecida… a minha anônima paixão dos olhos castanhos e cabelos esvoaçantes do grupo Germinal não estava presente. Reconheci alguns estudantes da Resistência.

Acabei encontrando um colega de turma, mas ele já estava com umas quatro ou cinco doses de gin com tônica na minha frente. Então, fui atrás do prejuízo “gintonítico”.

Eu sempre afirmava para os amigos que quando ia para o DCE eu nunca voltava para casa sem comer alguma coisa. E, na ampla maioria das vezes, acabava comendo o Xis do Tareko em frente ao Hospital de Caridade.

Naquela inesquecível noite, para não perder o costume, o meu destino seria o Xis do Tareko. A minha surpresa! O fusquinha não estava estacionado ali na Floriano.

Alguém havia arrombado e batido em um carro lá em frente ao Empório Doméstico, uma quadra abaixo. E o fusca fora guinchado. Isso o porteiro de um prédio me disse. E sentenciou.  

– O senhor vai se incomodar… [Acho que foi a primeira vez que fui elevado a condição de senhor].

E ele estava certo. Mas faz muito tempo e minha memória ficou lá dentro da boate do DCE, junto com as doses de gin com tônica. E com a falta dos olhos castanhos…

E esse eu não tivesse ido na boate naquela noite?

O fusquinha não teria sido roubado e eu não teria esta história para contar. Mas teria muitas outras, inclusive aquelas que envolvem paixões arrebatadoras e impossíveis.

O curta “Clube Universitário – A boate do DCE” traz recordações de um lugar que está nos corações e nas mentes dos estudantes universitários. Aqueles mesmos que fundaram a Cesma e protagonizaram grandes mobilizações na cidade. Louvável resgate histórico.

Espero estar presente em uma nova sessão do curta.

ps: O auditório João Miguel de Souza na Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria, um local mais do que apropriado para o lançamento do curta. Cumprimentos aos organizadores.

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