ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR
Caminhar é uma necessidade e me dedico a esse vício de três a quatro vezes por semana. Durante os dias úteis sou caminhante urbano e nos fins de semana um trilheiro pela grande Santa Maria da Boca do Monte.
Era uma tarde nebulosa, depois de caminhar pela Euclides da Cunha, bater umas fotos na estação e cruzar pelo nosso murinho da vergonha, estou na parte mais fácil da caminhada: descer a avenida Fernando Ferrari.
Alguns metros à minha frente um cidadão caminhava com uma passada curta, mas ligeira. A nossa distância aumentava gradativamente. Mas tive momentos de observação de suas ações.
Ele, o cidadão, retirou um iogurte da sacolinha de mercado, abriu e jogou a tampinha na calçada. E aquela atitude me deixou incomodado. Eu estava com uma garrafinha de plástico comigo desde a Praça Saldanha Marinho à procura de uma lixeira.
Mais um tempinho e o transeunte à minha frente se livrou do potinho de iogurte no chão, agora na sarjeta. E fiquei ainda mais incomodado.
Mais alguns metros e o indivíduo retirou outro iogurte da sacolinha e aí foi uma dupla agressão ao meio ambiente e aos ambientalistas. Um crime duplamente qualificado.
Jogou a sacola e a tampinha do iogurte na rua. Em poucos minutos o elemento atirou o potinho vazio no jardim de uma casa.
“Cadeira elétrica pra ele.” – pensei.
É numa hora dessas que sinto não ser barraqueiro. Comprar umas brigas desnecessárias, xingar a rodo e se estressar e não mudar porra nenhuma.
Mas montar barraco não é o meu feitio. Em seguida, o delinquente entrou em uma farmácia e não tive mais notícias, e minha indignação ficou para trás.
Mas tem mais…
Na esquina seguinte está localizada uma loja para cachorrinhos e gatinhos. Na calçada, quatro carros estacionados em diagonal – no passeio público e em cima do piso táctil – um acinte aos pedestres. A péssima educação não distingue classe.
Segui na minha jornada cotidiana e encontrei, finalmente, uma lixeira.
Os personagens desta crônica são instruídos. Não são pessoas que não tiveram acesso à educação e a informação. Mas não conseguiram pensar no bem comum. Não conseguiram se colocar no lugar do outro.
Aprendo e reflito com estas cenas do cotidiano. São as pequenas ações do nosso dia que dizem quem somos. É no detalhe que nos mostramos para o mundo.
Não é uma questão de cumprimentar o porteiro. Se trata em educação e respeito aos demais. Empatia é a palavra correta. Ter a mente colaborativa e humana, apenas isso, parece tão fácil.
Chego em casa e vou encerrar a minha caminhada no aplicativo. Então, percebo que esqueci o celular na confeitaria, lá na Rio Branco, em que tomei café com pão de queijo e comprei uma garrafinha de água.
“Bem-feito para mim. Fico criticando a vida alheia. Volta lá e não relincha!” – pensei.
Por sorte a atendente guardou o celular e me devolveu com um simpático sorriso. Fui até ao balcão e adquiri dois potes de iogurte. Para comer em casa, óbvio.