Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: Hoje eu lembrei da tia Haydée

Foto: Reprodução
ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Hoje, em dado momento do dia, me veio à memória uma situação que era protagonizada por uma tia muito especial: a tia Haydée.

Numa longínqua tarde, lá no final dos anos oitenta do século passado, se armava um aguaceiro vindo lá das bandas de Dilermando de Aguiar. Eu estava fazendo uns trabalhos de aula na mesa da cozinha, quando ouço o comentário da mãe.

– Preciso fazer um bolo de chocolate para esperar a Idê – Idê era como nós a chamávamos –, pois logo ela deve aparecer para uma visita.

Naqueles tempos não tínhamos os meios de comunicação de hoje. Eu retruquei.

– Mãe, como a senhora sabe que a tia Idê vai aparecer para tomar café?

– Dia de chuva… a Idê gosta de passear na chuva. Sempre foi assim, desde os tempos em que morávamos em Ramiz. [Ramiz Galvão, coladinho em Rio Pardo.]

Não deu outra. Debaixo d’água, a tia chegou para o café da tarde com a mãe. Sorridente como sempre.

Hoje aconteceu comigo.

Olhei lá para os lados de Dilermando e vi que estava se armando um aguaceiro. Igual aqueles aguaceiros que a tia gostava.

Vou pra rua – pensei – e vou comprar os apetrechos para tomar café em casa. Os tempos são outros e eu não seria protagonista de uma visita sem avisar. E ainda mais encharcado.

Caminhei uns 9km pelas ruas de Santa Maria e voltei para casa todo molhado. Mas tomei um café preto com broa de milho que comprei na Mercapan.

Só faltou o bolo de chocolate da mãe e o extremado bom-humor da tia Idê. Mas valeram as doces lembranças.

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