Paralelo 29

ALESSANDRA CAVALHEIRO: Basta de negacionismo!

Foto: Ricardo Stuckert, PR
ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA

Não dá mais para afirmar que a tragédia do clima, que se repete e se intensifica, é só coisa da natureza, que sempre aconteceu e que isso não tem a mão do homem.

Até o Papa Francisco já afirmou que quem nega as mudanças do clima é tolo. O fato é que a situação tem a mão de cada um de nós.

Uma narrativa criminosa alimenta as opiniões de pessoas que não apreciam o conhecimento da natureza, não conhecem as bases da humanidade. Eu e você somos a natureza, afinal. O que ocorre é um prejuízo coletivo irreparável. 

Até os mais ambiciosos, estúpidos e ignorantes percebem, enfim, que o dinheiro não salva a vida de seus entes queridos. A chuva volumosa cai em curto período de tempo, é arrasadora, leva embora sua vida inteira de batalha por melhores condições da família.

Mas o que acontece? Sim, porque os alertas estão aí há décadas. Estamos dormindo, sonhando com a morte da bezerra, olhando memes de gatinho, fazendo comprinhas na internet e, de repente, vai tudo embora.

Quem está preparado, ao menos para sobreviver? Estamos vulneráveis demais. A vida vai por água abaixo, e fim. Portanto, agora apenas cuide bem de si e dos seus. A prioridade é a segurança de cada um.

Oportunidades

Para quem quiser despertar para a realidade e sair da bolha das ideias antiquadas e mortais, há muita informação disponível.

Se você não gosta de aprender e tem muito dinheiro, então pague para alguém lhe instruir sobre as formas corretas de produzir, sem agredir o meio ambiente e parar um pouco de matar os seres. Tire a morte das suas mãos com ajuda do conhecimento, mesmo que alheio.

Por exemplo, a agência Pacto Global (não é globalismo, por favor) produziu um Guia Prático de Finanças Sustentáveis, justamente para fornecer informações aos pequenos e grandes produtores do agronegócio.

O estudo mostra instrumentos financeiros para o setor agropecuário ser desenvolvido. Este é só um, de tantos estudos que pessoas abnegadas têm feito pelo bem comum. Será em vão?

Não dá mais para engolir a desigualdade. Na tragédia do clima, fica mais clara a situação daqueles que estão vulneráveis. Pessoas consideradas invisíveis por um bando de gente egoísta e assassina. Basta, como diria minha amiga argentina, Mafalda. 

Aprendendo as lições

A água seca, tudo passa. Ainda não vislumbramos os resultados desta nova tragédia, que tem potencial para ser das piores da história. Os prejuízos que teremos como consequência são incalculáveis. 

Precisaremos reconstruir pontes, barragens, estradas. Reforçar o abastecimento de água, luz, enfim. Como ficarão os transportes? Além da infraestrutura, quem reconstruirá as casas, como recuperar móveis, objetos, máquinas, os instrumentos de trabalho?

E as vidas que se foram? Quantos animais estão morrendo ou lutando desgraçadamente contra as águas, abandonados e perdidos? 

Esperança

Resta deixar aqui uma palavra de esperança, meu respeito aos desesperados, desejo de sorte e força para reconstruir. Mas não posso negar minha indignação com quem destrói a sensível teia da vida. Quem destrói será certamente destruído: isto sim, é uma lei natural. 

É hora de acordar e seguir com coragem, porque as tragédias estão anunciadas e infelizmente, esta não será a última. Vale agora a força e a valentia histórica do povo gaúcho para, mais uma vez, recomeçar.

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