PEDRO LUÍS PINTO – ADVOGADO E ESCRITOR COM DOUTORADO EM CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS*
(artigo escrito há um ano pelo autor e readaptado para o cenário atual)
Há várias mortes anunciadas em Santa Maria. Parece que a cidade não aprendeu com as tragédias que dizimaram famílias e comoveram toda uma nação, para não dizer o planeta.
O que será preciso para que os administradores das coisas públicas aprendam a dar ouvido à ciência? Lembro que uma vez um vereador, James Pizarro, fez um projeto de lei e colocou 100 árvores protegidas que não poderiam ser derrubadas. Pergunto: quantas restam?
Para quem transita pela Rua Euclides da Cunha, ao chegar no trevo do Itararé, como é conhecido, segue à frente ou ingressa na Rua Silva Jardim, alguém já observou o que está do lado direto no sentido centro/bairro?
Essa imagem é uma bomba relógio que todos os administradores relegam para depois. Pois bem, o depois chegou mais cedo, está fazendo vítimas nas áreas ribeirinhas, pela enchente.
Graças a Deus que não se registraram grandes desmoronamentos nas encostas. Quanto mais vamos esperar que isso aconteça?
Os insipientes não veem isso, mas aqueles que têm olhos sociais e preocupados com a cidade, enxergam e denunciam aos ventos. E o Ministério Público, parece também não enxergar.
Isso é uma calamidade, depois não vai adiantar correr com defesa civil, ambulâncias, e alentos quaisquer. O hoje precisa viver e ser resolvido. É preciso retirar essas famílias dependuradas sobre os morros para que não tenhamos que enfrentar uma tragédia anunciada.
Ninguém se dependura nos morros se tiver outra oportunidade. Mais que isso, Santa Maria sempre foi conhecida por uma cidade abraçada pelos morros.
É preciso que a política, os políticos, os gestores públicos criem uma situação para retirar todas as famílias dos morros e os transformem em parques públicos. É preciso que o Ministério Público cumpra o seu papel e faça valer a força da lei.
O que Santa Maria está esperando? Mais um desastre? Dessa vez um deslizamento, o que será preciso para ações mais enérgicas, mais voltadas às questões da cidadania?
É preciso acordar e fazer alguma coisa antes que seja tarde demais. Carecem medidas imediatas para retirada dessas pessoas, não só pelo risco pessoal e de suas famílias, mas pelo risco sanitário e da própria cidade, pois a invasão das áreas ambientais se estende para às margens da barragem que abastece o município de água potável.
Essas atitudes não dão voto, pelo contrário, retiram, mas é preciso uma postura de estadista. Muitas das ações são relegadas a planos futuros em razão de que outras prioridades devem ser atendidas. As atuais enxurradas, enchentes nos mostram o contrário. Precisamos de ações preventivas, voltadas não apenas ao presente, mas olhando para o futuro.
Que essa calamidade nos dê força, nos alcance o incentivo de virar a página e buscar um planejamento para os próximos anos, para as próximas décadas.
Não é hora de buscar culpados, tampouco de encontrar erros. É chegada a hora de unirmos esforços para construir um futuro melhor, preventivo, que possa trazer estabilidade às pessoas que vivem à dependuradas nos morros, quase todas sem nenhuma opção.
*Pedro Luís Pinto foi radialista em Santa Maria e atualmente mora em Santiago