Paralelo 29

FABIO VASCONCELOS: E agora, Santa Maria? Você está pronta?

Monumento O Idealista, de Juan Amoretti/Ilustração de Fabio S. Vasconcelos
FABIO S. VASCONCELOS – ARQUITETO E URBANISTA, PSICANALISTA E TEÓLOGO*

Santa Maria, no Rio Grande do Sul, emerge como um farol de esperança em meio à devastação provocada pelas recentes enchentes que assolaram outras regiões do Estado.

Enquanto municípios como Porto Alegre e as cidades do Vale do Taquari, Serra Gaúcha, Vale dos Sinos e Vale do Rio Pardo enfrentam e enfrentarão os desafios monumentais de reconstruir suas economias e infraestruturas após os desastres naturais, Santa Maria surge como uma oportunidade única de impulsionar sua economia e a recuperação regional.

Considerando que essas áreas devastadas são as maiores produtoras de riquezas do Rio Grande do Sul, os desafios de reconstruir suas economias após os desastres naturais serão gigantes, e outras regiões ou municípios terão papéis importantes nesse processo econômico.

Santa Maria emerge como um polo de estabilidade econômica, com sua economia e população praticamente intactas em relação a outros polos.

Enquanto alguns lamentam ou apenas sobrevivem diante das dificuldades, Santa Maria tem a oportunidade de se reinventar, de ‘vender lenços’ e criar novas realidades.

A cidade poderia ser o palco do início de um novo ciclo econômico que não apenas recuperaria sua imagem de outrora, mas também romperia com a dependência enraizada de uma história saudosa de ciclos econômicos nada sustentáveis, abraçando um futuro de prosperidade e diversificação econômica.

Com uma matriz econômica predominantemente baseada em comércio e serviços, o ‘Coração do Rio Grande’ possui os recursos e a expertise necessários para desempenhar um papel crucial nesse processo de reconstrução gaúcho.

O município apresenta uma infraestrutura logística desenvolvida, incluindo uma base aérea militar e um aeroporto civil estrategicamente localizado, facilitando o transporte rápido e eficiente de suprimentos, equipamentos e recursos para as áreas afetadas e de atuações futuras.

Sua conectividade com importantes rodovias e ferrovias garante a eficiência no transporte de mercadorias e equipamentos para outras regiões do Rio Grande do Sul e além de suas fronteiras.

A indústria da construção civil pode ser potencializada em Santa Maria, com a instalação de fábricas de materiais de construção, como tijolos, cimento, telhas e outros produtos essenciais para a reconstrução das áreas afetadas pelas enchentes.

Equipamentos e maquinários também podem ser produzidos localmente, aproveitando a mão de obra qualificada da região e com os devidos e necessários incentivos fiscais disponíveis.

Diante disso, a cidade pode se tornar um grande centro de distribuição de implementos, produtos e insumos, como alimentos, água potável, roupas e medicamentos, para atender às necessidades imediatas das comunidades em reconstrução.

A disponibilidade de recursos locais, transmissão de conhecimento e a capacidade logística de Santa Maria garantiriam uma resposta rápida e eficaz diante dessa realidade iminente.

Observando esse momento, somado ao desvelamento de seus ativos naturais, à beleza da região e à qualidade de vida ainda pouco explorada por falta de protagonismo, se pode também impulsionar ainda mais a economia local considerando um potencial turístico significativo, especialmente para o turismo de negócios, conferências e eventos, aproveitando sua infraestrutura e localização estratégica para tempos de crise.

É nesse cenário, sem dúvida, que Santa Maria aparece como uma alternativa sumária de ocupar o lugar de catalisador do renascimento econômico e social das áreas afetadas pelas enchentes. O momento é propício para a cidade assumir e transformar desafios em suas oportunidades de crescimento e progresso sustentável.

No entanto, para isso, a cidade precisa de líderes públicos e privados com coragem e visão, dispostos a abraçar esse protagonismo oportuno e a conduzir a comunidade em direção a um futuro mais próspero e resiliente para todos.

O momento é agora. Oportunidades como essa não surgem com frequência, e é crucial agir com determinação e audácia para transformar potencial em realidade. Será que você está pronta, Santa Maria?

*Fabio Vasconcelos foi vice-presidente do Instituto de Planejamento (Iplan) do governo Cezar Schirmer, em Santa Maria

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