JOÃO EICHBAUM – ADVOGADO E ESCRITOR
A Unisinos serviu de palanque eleitoral para Lula, projetando sua imagem e semelhança num senhor chamado Pimenta, “anunciar uma série de medidas para as pessoas físicas recuperarem o que elas perderam”.
O governador Eduardo Leite – segundo o jornal Zero Hora – “anunciou, em coletiva de imprensa, o repasse de R$ 12 milhões para melhorar as condições dos abrigos que estão recebendo as famílias afetadas pelas enchentes”.
É assim que eles governam: anunciando. Para tais governantes, os verbos “anunciar” e “administrar” são sinônimos. E, com suas atitudes, nos concedem o direito de imaginar que assim costumam agir, acalentados pela certeza de conquistar o aplauso do povo.
Lula veio ao Estado, pela terceira vez, só para anunciar medidas. Para quem não sabe, ou não se lembra: Lula tem, no seu cortejo de acompanhantes, um auxiliar encarregado da “comunicação social da Presidência da República”, distinguido com o pomposo cargo de Ministro.
Não é na palavra que se esgota o dever de administrar. É na ação. Os governantes são eleitos para agir, para se cercarem de auxiliares qualificados, preparados para enfrentar e resolver problemas. Não basta acenar com dinheiro.
É disso que o povo empilhado em abrigos precisa? De anúncios, de promessas? De anúncios que precisam passar pela esteira enferrujada, sempre emperrada, da burocracia, para se tornarem realidade? Fará bem aos ouvidos desse povo o som pomposo do anúncio de R$ 12 milhões?
Parecerá a esses infelizes que estão ouvindo o som da felicidade, com tanta moeda tilintando? Isso substituirá o direito constitucional à privacidade?
Amenizará seu desconforto, aquela sensação de serem servidos com ações benéficas, afagos, como se fossem animais de estimação?
Conceitos primários de democracia ensinam que o poder emana do povo e esse delega poderes a determinadas pessoas para que elas administrem os interesses da comunidade.
Mas aqui, no torvelinho mortal de uma catástrofe sem precedentes na história, é o próprio povo, através de gente compelida pelo amor ao próximo, comprometida com a virtude da solidariedade que, assumindo riscos para a própria saúde, está enfrentando de fato todos os percalços possíveis e imaginários, a fim de resgatar vidas e oferecer condições mínimas de sobrevivência aos despojados da sorte.
Ninguém exige dos governantes que se joguem na água com suas sunguinhas de franjas douradas enfiadas no rego, para mostrar serviço, para serem vistos como heróis, para provar que não são menos corajosos. Não, nada disso.
O que se deseja é que eles ponham o que de melhor há na máquina estatal a serviço de quem precisa ser poupado dos turbilhões da desgraça: soldados, bombeiros, marinheiros, mergulhadores, forças terrestres, navais e aéreas, mão de obra qualificada e preparada para enfrentar o pior.
Além desses, são imprescindíveis técnicos, engenheiros, hidrólogos, geólogos, meteorologistas, gente que saiba prevenir desastres, evitando o desperdício de dinheiro para arrumar o desarrumado. Esse é o dever dos governantes. A isso se chama administração.
Para tanto, não são necessários anúncios, promessas, discursos movidos a cifrão e gastos com o dinheiro público para aproveitar a desgraça como cabo eleitoral.