Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: Desvio de função

Foto Marcelo Camargo, Agência Brasil
ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Desvio de função é quando o trabalhador executa atividades diferentes daquelas para as quais foi contratado. Os bancários sabem muito bem como isso funciona. Mas temos desvios de função que são honoráveis desvios.

Uma tragédia climática do porte que está ocorrendo no Rio Grande do Sul ou uma pandemia ocorrida recentemente tem a capacidade de gerar o sentimento mais genuíno nas pessoas: a solidariedade.

Uma multidão Brasil adentro está sendo solidária com os gaúchos atingidos pelas enchentes. Um movimento jamais visto de cooperação. Não é em todas as pessoas que afloram esse sentimento. Algumas veem oportunidade de negócio e cometem abusos nos preços.

Outras cometem furtos às residências abandonadas, outros saqueiam, outros assaltam e alguns não estão nem aí para o que está ocorrendo.

A grande maioria é solidária e os exemplos são múltiplos. É com os solidários que devemos nos identificar e tecer os mais valorosos elogios. Nesses casos o envolvimento é primordial e pode ser feito das mais variadas formas.

Advogados, comerciários, médicos, artesãos, juízes, bancários, caixas, estudantes professores e um sem fim de pessoas estão nessa ajuda humanitária aos desabrigados.

Aposentados… não podemos esquecer. O leque de profissionais nesta onda humanitária é muito vasto e de todas as idades. Tem sexagenários, septuagenários e octogenários nessa empreitada. Para ajudar não há pré-requisito e não se pede currículo vitae.

Basta ter um mínimo de compaixão e a pessoa já está apta.

Por vezes a simples presença, um abraço e um sorriso é suficiente para acalentar a alma. Passear com cachorrinho estressado é uma baita contribuição nesse momento de tristeza.

Todas as pessoas que estão ajudando de uma ou de outra maneira, não foram formados para tal. A única formação das pessoas que estão na ajuda humanitária é a trajetória de vida. E atitudes pró-ativas diante das tragédias.

Eu preciso abrir um espacinho na crônica para falar do senador gaúcho. Vamos lá. Na campanha para o Senado fiz um chiste envolvendo o general Hamilton Mourão com uma indagação.

– Como uma pessoa, que na pandemia usava máscara com distintivo do Flamengo, vem pedir votos para os colorados e gremistas no Rio Grande do Sul?

Era apenas uma brincadeira. Pois o senador é natural de Rio Grande do Sul. E tem o direito de postular cargos políticos.

Mas o envolvimento desse representante do nosso estado no senado ficou a desejar e com desculpas esfarrapadas. Não se comoveu com a tragédia porque a ajuda dele seria um desvio de função.

Volto para a crônica…

Então, temos uma conclusão: nesse sentido a solidariedade está ligada intimamente com o desvio de função. Um desvio de função que não causa prejuízo ao trabalhador, pelo contrário, enobrece.

Neste caso, viva o desvio de função!

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