Paralelo 29

ATHOS: Hipopotomonstrosesquipedaliofobia

Foto: Pixabay
ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

O monstruoso vocábulo hipopotomonstrosesquipedaliofobia define o medo que as pessoas têm de palavras grandes. Ironicamente, a própria palavra que exprime essa fobia é assustadora.

É possível que seja a palavra mais dialética da língua portuguesa, pois é, literalmente, o que ela expressa. Quem não tropeçará nas sílabas?

Se não fosse pela fobia no final, teria tudo para ser nome de um remoto antepassado Neandertal. Ouvi, pela primeira vez, numa reportagem sobre medos. E uma das fobias que me chamou atenção foi uma pessoa que disse ter medo de tartarugas. Medo de tartaruga?

Se fosse fugir desse medo a pessoa teria receio de perder a corrida? Eu temo muito mais um leopardo, uma onça.

Se digitar fobia no Google aparecerá uma extensa relação das fobias no Wikipédia. Os mais variados e impensáveis medos. E isso nos faz refletir sobre o vasto mundo, ainda intransponível, que á a mente humana.  Mas isso é tema para os psiquiatras. Prefiro refletir os meus medos, aliás, medo de espelho é eisoptrofobia ou catoptrofobia.

Carlos Marighela, entre uma guerrilha e um aparelho, pronunciou a frase “não tive tempo de ter medo”. Talvez seja essa uma maneira de não ter medo, a falta de tempo, mas se tiver medo do tempo, você sofre de cronofobia.

Não imagino como seria uma pessoa acometida de afobia, que é o medo de falta de fobia. Se a pessoa é afóbica, ela tem uma fobia, então, onde está a falta da fobia… É demais para a minha vã filosofia, e eu não sou filosofóbico.

Outra doença que achei estranha é a penterofobia – medo da sogra – que, pelo andar da carruagem e relatos nas mesas de café, deve ser uma pandemia.

Podemos afirmar que as denominações dessas doenças não são nada poéticas. Experimente cantar a música “Medo de avião” do Belchior. “Foi por aerodromofobia que segurei pela primeira vez a tua mão”. Fica muito estranho.

No mundo do futebol guasca, volta e meia um medo assola uma parcela dos gaúchos, a celsorothfobia. No entanto, não é uma doença fatal, no máximo causa uma segunda depressão. O receio é que a celsorothfobia possa ser um sintoma da rebaixamentofobia, essa, sim, mais grave.

Se é difícil e causa medo pronunciar hipopotomonstrosesquipedaliofobia, experimente falar em alto e bom som pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico.

Isso tudo para definir uma doença pulmonar aguda causada pela aspiração de cinzas vulcânicas. E pensar que há poucos dias essas cinzas vulcânicas andaram rondando o Rio Grande e eu achei que poderia causar, apenas, uma alergiazinha.

Eu não sei quais as minhas verdadeiras fobias, mas de literofobia e logofobia eu não devo sofrer, senão essa crônica não seria escrita.

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