Paralelo 29

Emoção, críticas à impunidade e pedidos de justiça marcam início da obra do Memorial às vítimas da Kiss

Foto: Samuel Marques, SEC, PMSM

Espaço será erguido em homenagem à2 242 vítimas teráauditório, escritório, sala multiuso e jardim cercado por pilares de madeira

JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29*

Um ato simbólico na manhã fria desta quarta-feira (10) marcou o início da obra de construção do Memorial em homenagem às 242 pessoas que morreram no incêndio da boate Kiss, em 27 de janeiro de 2013, em Santa Maria. O ato foi marcado por emoção, críticas à impunidade e pedidos de justiça, em frente ao prédio da antiga boate, na Rua dos Andradas, no Centro da cidade.

Muita emoção marcou os discursos, principalmente de pais de vítimas do incêndio, como Adherbal Ferreira, primeiro presidente da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), e de seus sucessores, Sergio Silva e Flávio Silva, e do atual, Gabriel Rovadoschi Barros, que também é sobrevivente do incêndio.

A solenidade foi transmitida ao vivo no canal da TV Ovo no YouTube. Segundo Gabriel, a frase “desfazer a ruína e construir a memória” foi lapidada em muitas conversas para que se chegasse a uma conceção de monumento.

“Desfazer a ruína é diferente de destruir ou demolir. É desfazer porque a gente sente que cada tijolo, madeira, espelho, cada objeto que tem lá vai ser pego com o carinho devido e com a dimensão que representa cada movimento nessa obra, pois sabemos que cada tijolo tirado ali reflete em movimentos muito grandes dentro de cada um de nós. Assim que encaramos esta obra e a sensibilidade de desfazer a ruína, com um olhar tão sensível e sutil que essa história exige”, declarou o atual presidente da AVTSM.

Em seu discurso, Sérgio Silva, que não mora mais em Santa Maria, fez referência à impunidade. Ele finalizou falando que o Memorial é necessário para ressignificar a tragédia. Quem também discurso em uma linha parecida foi o jornalista Marcelo Canellas, que desde o início da tragédia, acompanha as histórias de cada família.

O Memorial será erguido em homenagem aos 242 jovens vítimas da tragédia de 2013 que deixou, ainda, 636 feridos. O incêndio da Kiss é considerada a maior tragédia do Rio Grande do Sul e a segunda maior do país em número de vítimas em um incêndio.

Além de homenagear as vítimas, a marioria jovens, o Memorial também servirá para conscientizar sobre a importância de prevenção contra incêndios e para a luta contra a impunidade.

A empresa vencedora do processo licitatório e responsável pela execução da obra é a INFA Incorporadora Farroupilha, de Triunfo. A obra está orçada em R$ 4,87 milhões, e é custeada com verbas do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL), do Ministério Público do Rio Grande do Sul – que em maio de 2023 oficializou o repasse de R$ 4 milhões. O restante do valor (R$ 870 mil) é contrapartida da Prefeitura. O prazo para entrega é de 240 dias (8 meses).

Prefeito também fez menção à omissão

Em seu pronunciamento, o prefeito Jorge Pozzobom (PSDB) lembrou que o primeiro ato do seu primeiro governo, ainda em 2017, foi um decreto envolvendo a associação. Ele lembrou que houve momentos tensos, mas que nunca houve desrespeito com os familiares.

“Este dia é um simbolismo da não omissão. Era inadmissível que o Poder Público não conversasse com a Associação e não tivesse, minimamente, um respeito e empatia com os pais e familiares. Negociamos a desapropriação do imóvel junto aos proprietários e colocamos o dia 27 de janeiro no calendário oficial do Município, sempre primando pelo trabalho coletivo. Agradecemos, em especial, ao Ministério Público do Rio Grande do Sul, que foi incansável e aprovou por unanimidade o projeto do Memorial para ser financiado pelo Fundo de Reconstituição de Bens Lesados. Nosso recado para o mundo inteiro é que esse Memorial, além de acolher e preservar a memória, sirva de exemplo para que uma tragédia como esta não se repita”, pontuou o prefeito Jorge Pozzobom acompanhado do vice-prefeito Rodrigo Decimo.

Soltura de balões e remoção do letreiro

Um dos pontos mais emocionantes do ato foi a soltura de 242 balões brancos representando cada uma das vítimas do incêndio

O início das obras foi simbolizado pela remoção do letreiro da boate, que foi retirado lentamente, e da porta principal. Depois, um abraço coletivo entre os pais e parentes de vítimas e uma oraçãomarcaram o encerramento do ato. A execução dos serviços seguiu até às 17h desta quarta-feira de forma interna, sendo retomada na quinta (11).

As primeiras etapas da execução da obra incluem o recolhimento dos itens classificados pela AVTSM, que farão parte do acervo do Memorial; a remoção do telhado; a classificação dos resíduos que ainda existem no local e recolhimento por empresa especializada; e a abertura de espaço na fachada para acesso de máquinas e equipamentos.

MEMORIAL ÀS VÍTIMAS DA KISS

A busca pelo Memorial às Vítimas da Boate Kiss ocorre desde 2013, ano em que aconteceu o incêndio na casa noturna e resultou em 242 mortes e em mais de 600 feridos.

O projeto arquitetônico foi escolhido por meio de concurso nacional aberto de arquitetura, organizado pelo Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) do Rio Grande do Sul em 2018. Ao todo, foram entregues 121 propostas.

A escolhida por unanimidade pelo júri como vencedora foi a do arquiteto Felipe Zene Motta, da empresa Motta e Zene Engenharia e Arquitetura, de São Paulo, que prevê um jardim naturalista circular de flores e um auditório. Ao redor, haverá 242 pilares de madeira, cada um representando uma vítima da tragédia.

O memorial terá 383,65m² de área total construída distribuída em um único pavimento e inclui sala de escritório, sala multiúso, auditório, banheiros masculino e feminino, acessos ao auditório, depósito, área técnica, varanda e jardim. A construção terá uma estrutura mista de concreto armado e de madeira laminada colada (MLC).

O Paralelo 29 fez a cobertura ao vivo do ato pelo instagram. A Prefeitura de Santa Maria também fez a cobertura do evento.

(*Com informações da Prefeitura de Santa Maria)

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