EDINARA LEÃO
Respingada de ocasos,
era tarde e
não foi preciso anunciar a partida.
Houve uma curva no desmembramento,
eu estava estufada de dias de névoa.
Não anunciava o abatedouro,
os dias já se apartavam do tempo arredio.
Cansada de andar,
a confusão dos caminhos devorava-me.
Aquele não era o barco de mim.
Do dentro de mim, desprende-se um elo.
E, na corda bamba do palhaço,
cerca-me o tempo da lucidez.
Não há como não ver.
Os panos caídos dos palcos desprendem-se.
Tarda a noite a desatar a tarde.
Se só eu vejo,
dai-me, senhor dos descompensados,
olhos de não ver.
Não quero ver além da pele pétrea das gentes
que não são nada além do que peles com sopro.
E, se são apenas pedras que andam,
deveriam saber o segredo das pedras,
mas já despersonificadas
da agonia do andar,
ignoram o segredo e se desviam.
Assisto agora ao paramento
de minha constância.
Haverá outro lugar
além do des-fim e do des-mundo
para descansar uma alma?
Eu que me acerco do novelo
e o percebo sem fio
para tecer os dias de agora.
Os olhos do passado sangram
a agonia do tempo.
Só há um barco e os pés
não alcançam o porvir.
Era época de invernos,
mas o outono achegou suas folhas
de amarelo plátano.
Rasgaram o último dos véus.
Já não posso ver.
Assisto ao paramento de meus dias.
Eu nada.