É a primeira vez que a ADB-4en-PINACA, que simula efeitos da maconha, é encontrada no Estado
A equipe da Divisão de Química Forense do Instituto-Geral de Perícias (IGP) identificou, pela primeira vez no Rio Grande do Sul, uma nova droga sintética, conhecida pelo nome científico de ADB-4en-PINACA. Ela pertence ao grupo das chamadas Drogas K pelo pontencial alucinógeno.
Segundo o portal do governo do RS, a nova substância psicoativa (NSP) foi encontrada em fragmentos de papel, conhecidos popularmente como selos ou micropontos. A apreensão ocorreu na Região Metropolitana de Porto Alegre, onde a nova droga está sendo vendida.
Introduzida há pouco tempo no mercado brasileiro, a Droga K é um canabinoide sintético também conhecido por outros nomes como K2, K4, K9, sipice ou cloud 9, famoso por causar o “efeito zumbi”. Essas novas substâncias psicoativas são desenvolvidas para imitar os efeitos de drogas controladas, como cannabis e LSD, mas com o objetivo de escapar das restrições legais.
Novas substâncias psicoativas
As NSPs, conforme definição do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), são moléculas frequentemente criadas para mimetizar os efeitos de drogas ilícitas já conhecidas, como cannabis, LSD, cocaína e ecstasy.
Essas substâncias buscam escapar das regulamentações aplicadas às drogas controladas e podem ter efeitos semelhantes, mas variáveis em potência e toxicidade.
A NSP identificada pelo IGP, a ADB-4en-PINACA, é parte da classe dos canabinoides sintéticos que simulam os efeitos do THC (encontrado na maconha).
Embora os canabinoides sintéticos também atuem sobre receptores de canabinoides, à semelhança do THC, eles são diferentes estruturalmente e podem afetar o cérebro de maneiras distintas, com maior potência ou mesmo causando efeitos imprevisível em comparação com o uso de cannabis, já que são moléculas muito variadas e os estudos toxicológicos são limitados.
Metodologia de identificação
A identificação da ADB-4en-PINACA foi possível graças ao uso de técnicas avançadas de análise química no laboratório da Divisão de Química Forense do IGP.
As amostras foram inicialmente analisadas por Cromatografia em Fase Gasosa acoplada à Espectrometria de Massas (CG-EM) e por Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier e Refletância Total Atenuada (ATR-FTIR).
Como nem o IGP nem a Polícia Federal do Rio Grande do Sul possuíam o padrão analítico da substância, foi necessária uma análise complementar realizada em parceria com a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
Utilizando a Cromatografia Líquida Acoplada à Espectrometria de Massas com analisador híbrido Quadrupolo Tempo de Voo (LC-QTOF), foi possível determinar a massa do composto com alta resolução e precisão, confirmando a identificação inequívoca da substância ADB-4en-PINACA.
Vale destacar que todo o rigor técnico e metodológico adotado no laboratório para a identificação de drogas é pautado em recomendações internacionais.
Equipamentos e avanços no laboratório do IGP
A identificação da ADB-4en-PINACA representa um avanço significativo, especialmente devido à fase de implementação de equipamentos no IGP. O instituto possui atualmente um equipamento de LC-QTOF, que está em fase de treinamento e desenvolvimento de métodos.
Esse equipamento permitirá ao IGP realizar internamente análises de alta precisão e resolução, o que significa um passo importante para agilizar futuras identificações de substâncias complexas na própria instituição e reforçar o controle sobre o mercado ilícito de drogas sintéticas.
Implicações jurídicas e notificações
Embora a ADB-4en-PINACA não esteja nominalmente listada na Portaria 344/1998 da Anvisa, sua estrutura química a classifica como um canabinoide sintético, o que a coloca dentro das substâncias proscritas por essa regulamentação.
Após a confirmação da substância, o IGP notificou a Anvisa e informou as delegacias responsáveis, garantindo a rápida comunicação da presença de uma nova droga, colaborando para a elaboração de estratégias de combate ao tráfico.
Canabinoides sintéticos
Os canabinoides sintéticos, conhecidos popularmente como “drogas K”, representam um dos grupos de NSPs mais comuns no mercado ilícito global.
Essas substâncias têm características moleculares variadas e não estão diretamente relacionadas ao THC da cannabis natural, o que resulta em diferentes níveis de potência e riscos à saúde.
Muitas vezes, essas drogas são encontradas impregnadas em papeis e selos, como o que acontece com o LSD, e são associadas a produtos vegetais que disfarçam sua composição. Os efeitos variam, mas a toxicidade e a imprevisibilidade das reações são altas.
A importância do monitoramento e da comunicação rápida
A identificação precoce de novas substâncias psicoativas, como a ADB-4en-PINACA, é essencial para antecipar e combater o tráfico de drogas sintéticas no país.
O IGP destaca que o monitoramento contínuo e a rápida comunicação às autoridades policiais e sanitárias são fundamentais para proteger a sociedade dos riscos associados às NSPs e para aperfeiçoar a abordagem investigativa no combate ao tráfico de substâncias psicoativas emergentes.