Prisões ocorreram depois de uma mobilização na noite do último domingo e da ampla repercussão na mídia estadual
JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29
A Polícia Civil de São Gabriel prendeu dois homens, de 32 e 36 anos, flagrados agredindo uma mulher na saída de um bar na madrugada de 15 de março, em São Gabriel.
Os dois são irmãos e estavam foragidos em Porto Alegre e em Passo Fundo, onde foram localizados nesta quarta-feira (26).
As prisões são preventivas e ocorreram depois de uma ampla mobilização e da repercussão na mídia estadual que publicou o vídeo das agressões a Dienifer Costa Schultz, de 30 anos.
A ação policial foi coordenada pelo delegado Daniel Severo, da Delegacia de Polícia de São Gabriel, com o apoio de agentes de Porto Alegre e de Passo Fundo.
As prisões de três envolvidos foi solicitada na quarta-feira passada, dia 19, quatro dias depois das agressões. No entanto, a Justiça indeferiu a prisão de um terceiro envolvido que teve uma participação menor nos fatos.
Os mandados de prisão foram expedidos no último domingo (23), data em que um grupo de mulheres e amigos de Dienifer realizaram uma manifestação em São Gabriel.
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“Vencemos uma batalha”, diz vítima das agressões

Em entrevista ao Paralelo 29, Dienifer disse nesta quarta-feira que se sente aliviada com as prisões. No entanto, ela ressalta que as mulheres precisam se unir e se mobilizar para vencer uma batalha cultural contra o machismo.
“Essa foi a primeira batalha vencida. Ainda temos outras pela frente e acredito que com a punição dos agressores muitas outras mulheres vão começar a ter coragem para enfrentar seus abusadores, e pretendo ajudar a todas elas nisso”, disse.
Dienifer contou ao Paralelo 29 que a ideia é manter a mobilização e seguir trabalhando para dar apoio, não só psicológico, mas também jurídico para que nenhum tipo de agressão ou abuso fique impune.
“Vamos reescrever a história desta cidade que sempre foi manchada pelo machismo e pela impunidade”, ressaltou Dienifer.
Ativista santa-mariense destaca importância da mídia

A manifestação contou com a participação de Ana Cristina Londe, policial que militar nas causas feminista, antirracista e de direitos humanos.
Ana Cristina viajou de Santa Maria a São Gabriel para apoiar o movimento por justiça para Dienifer. Amigos da vítima criaram um grupo de WhatsApp para mobilizar gabrielenses.
“Eu diria que o barulho midiático é de sua importância. Só não o é se o resultado final tiver por intenção o apagamento do fato. Vivemos numa sociedade machista e misógina, e fazer ecoar é fundamental”, diz Ana Cristina.
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Caso Ângela Diniz
A policial cita como exemplo um rumoroso caso do passado, que foi o assassinato de Ângela Diniz em 30 de dezembro de 1976, em Búzios, no Rio de Janeiro. Ela foi morta a tiros aos 32 anos pelo então namorado, Doca Street.
No primeiro julgamento, o assassino foi condenado a dois anos de prisão com direito a liberdade. Contudo, houve uma enorme repercussão, e Doca foi novamente a julgamento em 1981.
Dessa vez. pegou 15 anos de reclusão por homicídio qualificado (na época não existia a tipificação de feminicídio, que é de 2015).
Embora Doca tenha cumprido apenas três anos e meio da pena em regime fechado, o novo julgamento foi considerado um marco no movimento feminista brasileiro.