JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29*
Quem viveu em Santa Maria de 1968 a 2019, certamente ouviu falar nele. Certamente, muitas gerações nesses mais de meio século já foram, pelo menos uma vez, no famoso Restaurante Augusto, que funciou de 1968 a 2019, no Centro da cidade. Pois o Augusto, agora, tem sua história contada em um livro que foi lançado no final da tarde deste sábado (29).
O resgate dessa rica história da gastronomia e de afetos santa-marienses está nas páginas do livro “Restaurante Augusto: Histórias de uma Santa Maria que não existe mais”, de autoria do músico e agora escritor Sávio Augusto Werlang, ex-tecladista da banda de rock progressivo Poços e Nuvens e que estreia no mundo da literatura.
O lançamento oficial ocorreu na Livraria Athena, no Shopping Praça Nova Santa Maria, com a presença do autor. Outras duas sessões de autógrafos já estão programadas, e uma terceira, na 52ª Feira do Livro, no segundo semestre, ainda está sendo articulada.
PRÓXIMOS LANÇAMENTOS
- Cesma – 5 de abril, com sessão de autógrafos
- Arquivo Histórico Municipal – 24 de maio – Uma tarde para lembrar memórias
- Feira do Livro de Santa Maria – 22 de agosto a 6 de setembro, ainda sem previsão de data para o lançamento
Uma família, uma história
O Paralelo 29 conversou com Sávio Werlang no primeiro lançamento da obra, que narra a trajetória da família Martins, que se mudou de Portugal para o Brasil, mais precisamente para o Coração do Rio Grande do Sul. Essa família foi fundamental na fundação de dois dos mais icônicos restaurantes de Santa Maria, o Vera Cruz e o Augusto.
A história começa com a chegada do português Manoel, pai de Augusto Martins, e se desenrola ao longo de mais de 80 anos, revelando a influência da família na cena gastronômica regional.
Com um olhar histórico e cultural, Sávio Werlang adota um tom altamente reverencial em sua obra de estreia no mundo literário. Admirador declarado tanto do restaurante quanto da cidade, Werlang resgata memórias e celebra uma época que ficou no passado.
“Pra quem conheceu o seu Augusto, ele era quase um personagem, uma pessoa bem caricatural. Atendia muito bem, circulava entre as mesas. Imagina, 50 anos um restaurante que lotava todos os dias. Tem um capítulo inteiro só com histórias, depoimentos, depoimento do caixa, depoimento do gerento, depoimento do garçom”, adianta Werlang.
QUEM É O AUTOR
Sávio Augusto Werlang nasceu em Santa Maria “com um ano e três meses de idade”, como costuma dizer pela importância que a cidade tem em sua vida.
Músico e compositor, integrou conhecidas bandas santa-marienses, como Poços e Nuvens, Transneptunia e Serpent Rise. Só na Poços e Nuvens ele foi tecladista por 24 anos. O livro sobre o Restaurante Augusto é a sua primeira obra literária.
O Restaurante Augusto
Inaugurado em 1968 pelo ex-agricultor português Augusto Martins, o estabelecimento que ficava na Rua Marechal Floriano Peixoto, entre as ruas Astrogildo de Azevedo e Tuitui, no Centro de Santa Maria, fechou as portas definitivamente em 30 de janeiro de 2019, 51 anos após a inauguração. Foi um baque para Santa Maria e para quem teve o prazer de conhecer o local.
Antes disso, em 2015, surgiram boatos sobre o possível fechamento do histórico restaurante. Contudo, ele ainda continuaria a funcionar por quase meia década.
Com a morte do fundador, Augusto Martins, em 2015, o negócio teve continuidade, já que décadas antes, em 1985, Augusto havia passado o comando da casa ao filho Augustinho.
Nesse período de “aposentadoria”, Augusto ou Seu Agusto, como também era chamado, era uma espécie de relações públicas do restaurante, circulando entre as mesas e conversando com clientes. Mais tarde, em 1988, o genro Marco Fank viria a fazer parte da sociedade.
Um ano antes do fechamento definitivo do Augusto, Fank morreu de forma trágica, aos 60 anos, em um acidente de moto na RS-149, no acesso a São João do Polêsine, na Quarta Colônia.
Casa de artistas, políticos e celebridades
Com seus famosos pratos, entre eles o galeto que virou referência no país e até no Exterior, o Augusto era o que se podia chamar de um ambiente plural e democrático.
Por ele passaram lideranças locais e até de outros países, como políticos de diferentes tendências ideológicas, atores, músicos, celebridades em geral, professores, empresários, estudantes..
O Augusto era tão democrático e diverso que por suas mesas passaram políticos da Arena e do MDB, nos idos dos anos 60 e 70.
Os ex-deputados Nelson Marchezan e Renan Kurtz eram frequentadores assíduos. Também passaram por lá Ulysses Guimarães, Pedro Simon, Luiz Carlos Prestes, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes, entre tantos outros políticos de diversos matizes ideológicos. E Augusto, o anfitrião, tirava fotos com todos.
O último dia

No último dia de trabalho, quando o tradicional estabelecimento abriu e fechou as portas pela última vez, o então diretor-proprietário Augusto Ricardo Martins, o Augustinho, sentenciou algo que os santa-marienses não gostariam de ouvir.
“Chegou o momento, tudo tem um fim”, disse Augustinho à reportagem do Correio do Povo, que acompanhou o último dia de funcionamento do histórico restaurante em 2019.
Gostinho de passado
Em seu livro, Sávio Werlang tempera as histórias com os depoimentos de diversos personagens, incluindo um dos garçons que serviu milhares de clientes ao longo dos anos.
Na sua receita literária sobre uma parte importante da história da cidade, Werlang adicionou pitadas de humor, muitas lembranças e, sobretudo, afetos, gerando um cardápio recheado de recordações e emoções a ser servido aos leitores.
Quem passear pelas páginas desse menu de histórias servido pelo autor sentirá o sabor do passado bem ao gosto dos famosos pratos do Augusto, entre eles aquele foi considerado o principal da casa, o revenciado galeto à primo canto. Por muitos, foi considerado “o melhor galeto do mundo”, como teria dito o líder trabalhista Leonel Brizola em uma de suas estadas no local.
O famoso galeto ao primo canto

Carro-chefe do Augusto, o galeto à primo canto significa, em italiano, primeira canto, uma referência ao ingrediente principal, o galeto servido, com frangos de cerca de um mês.
A origem desse prato famoso surgiu no antecessor do Augusto, o Vera Cruz, aberto anos antes pelo patriarca da família Martins, Manoel.
Manoel, então morador de Rio Grande, no Sul do Estado, passou pela Região Central em uma viagem a Uruguaiana.
Santa Maria estava no caminho e Manoel gostou tanto do Coração do Rio Grande que abriu o Vera Cruz, na Avenida Medianeira, e chamou o filho Augusto para ajudar no negócio.
No Vera Cruz, Augusto criou a famosa receita do galeto ao primo canto, selecionando os pequenos frangos que seriam assados no espeto com um tempero à base de ervas finas (sálvia, alecrim, manjerona e cheiro-verde).
A receita ainda levava alho, tomate, cebola, primenta-do-reino, vinagre e sal. Depois de duas décadas trabalhando com o pai, em 1967, Augusto decidiu abrir sua própria galeteria, que começou as atividades ao lado do imponente prédio da SUCV, na então badalada Avenida Rio Branco, no Centro de Santa Maria.
Depois de um período, o restaurante foi transferido para o endereço onde funcionou até seu último dia. Sentiu um cheiro de passado? Então, não deixe de se deleitar com as histórias contadas no livro de Sávio Werlang.
(*Com informações da assessoria de imprensa do lançamento e do Correio do Povo)