JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29
A fala mansa e baixa está por trás de um vigor impressionante presente em Manoel Franciso da Silva, um senhor de 94 anos que edificou seu nome na história da construção civil em Santa Maria. Manoelzinho, como é conhecido, recebeu José Mauro Batista e Rodrigo Dias, da equipe do Estação 29, podcast do Paralelo 29 em seu escritório, no centro da cidade, para contar sua trajetória.
Na sala ampla em que dá expediente todos os dias em um imponente prédio da Rua do Acampamento, Manoelzinho vai mostrando fotografias antigas e duas pinturas produzidas pelo artista plástico Jonessy Nunes. Um dos quadros retrata um guri puxando bois com um arado.
Com uma impressionante memória, Manoelzinho vai dizendo os nomes dos bois com os quais lavrava uma área de terras do pai para plantação de arroz. Tinha por volta de 12, 13 anos de idade e morava no interior de São Pedro do Sul.
Aos 15 anos de idade, o guri decidiu que queria iniciar um negócio próprio. Arrendou uma olaria em nome do pai. Ao encerrar o período de arrendamento do seu primeiro negócio, mirou o horizonte e enxergou o futuro em Santa Maria.
Assim, no início da década de 50 do século passado, aos 20 anos, o jovem Manoel Francisco mudou-se de mala e cuia para o Coração do Rio Grande.
Instalou-se em uma olaria que funcionava na propriedade Frederico Schereschewsky, na antiga Soteia, casarão histórico que pertenceu à familia Niederauer e que é considerada a construção mais antiga de Santa Maria, hoje em ruínas. Na olaria, trabalhou como capaz.
Novo começo no Taperinha
Nesse período, conheceu os irmãos Antônio, Ângelo e Ricardo Rizzato, da antiga Farmácia Rizatto. Os três irmãos começaram um projeto audicioso, o Edifício Taperinha, no Centro de Santa Maria. Manoelzinho foi trabalhar no Taperinha, inicialmente montando a equipe de carpinteiros.
Na sequência, foi promovido a apontador de obra – uma espécie de almoxarife responsável pelo controle da entrada e saída de material. Também controlava os horários dos operários e de outros funcionários da construção.
Uma ferragem e o sonho de construir
Depois de trabalhar no Taperinha, abriu, em 1958, a ferragem Centenário, na Rua do Acampamento.
Foi a partir da pequena casa comercial que o ex-oleiro e ex-apontador de obras vislumbrou uma grande oportunidade de negócio que surguia com a fundação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), dois anos depois.
“O Marianinho (José Mariano da Rocha Filho) fundou a Universidade e faltava moradia, faltava apartamento em Santa Maria”, recorda Manoelzinho, referindo-se a 14 de dezembro de 1960, data em que foi fundada a Universidade Federal.
Apostando na ideia de construir apartamentos para estudantes que chegavam à cidade em busca do curso superior, Manoelzinho ergueu sua primeira obra, o Edifício Panambi.
O prédio, pequeno para os padrões dos grandes edifícios que viria a construir, ainda existe na esquina das ruas Tuiuti e Professor Braga, no Centro da cidade.
São Lucas, um marco na trajetória
Depois vieram outros prédios – um na Acampamento e, mais tarde, o Dom Érico, até que o empresário decidiu fazer uma aposta mais ousada. Pediu um empréstimo e começou a construir o edifício São Lucas, um prédio bem maior, na Rua Venâncio Aires, também no Centro.
As vendas foram um sucesso. Sobrou dinheiro, o empresário conseguiu quitar o financiamento com antecedência e ainda ficou com apartamentos. Foi o divisor de águas.
Com uma parte do dinheiro que ganhou com esse emprendimento, Manoelzinho comprou a fazenda em Santa Flora, distrito de Santa Maria. Com as contas equilibradas, o empresário juntou capital para outros empreendimentos como os edifícios Florença e Veneza. São tantos edifícios erguidos nesses anos todos que Manoelzinho não arrisca um número.
EMPREENDEDORISMO: Aos 93 anos, Manoelzinho Silva constrói prédios e história em Santa Maria
A construção de uma família
Ao lado de Manoelzinho há mais de seis décadas, a eposa, Inês Zamberlan da Silva, “uma gringa de Val Varonês” (localidade de Silveira Martins, na Quarta Colônia), como ele define, foi o pilar da família. Ela sempre ajudou nos empreendimentos, participando de negociações e até “lavando laje” das construções. O casal tem três filhos: Evandro, Stela e Fernando.
Manoelzinho e Inês criaram os filhos com o espírito do trabalho e do empreendedorismo. Hoje, o grupo Silva Zamberlan, uma sociedade familiar, detém três empresas na área da construção civil e a propriedade rural, onde a família se dedica ao agronegócio, além de um estacionamento. As construtoras são independentes embora pertençam ao grupo.
Afora isso, o empresário tem salas comerciais alugadas e um novo empreendimento em vista: a construção de um complexo de salas comerciais na região Sul de Santa Maria.
De tijolo em tijolo, desde os tempos de olaria, Manoel Francisco da Silva construiu sua trajetória empresarial de sucesso. Um fundamento que ele aplica é que é preciso terminar uma obra para começar outra.