Após uma década de vida no campus, cão vira fenômeno nas redes sociais e levanta debate sobre o abandono e a responsabilidade com os animais na universidade
MARIANA HENRIQUES – ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UFSM
Silveira não é apenas um cachorro. Ele é uma figura ilustre que há cerca de 10 anos vive entre os prédios e ruas do campus sede da UFSM.
Nos últimos dias, no entanto, o cão ganhou projeção nacional: uma postagem sobre ele no X (antigo Twitter) alcançou milhares de visualizações, compartilhamentos, rendeu diversos memes e homenagens. No dia 19 de maio, o termo “silveira” esteve entre os assuntos mais comentados por brasileiros na rede social.
No Instagram, o carisma de Silveira também conquistou seguidores de todo o país e ampliou a visibilidade do trabalho dos voluntários que cuidam dos animais do campus.
De mascote a celebridade

Segundo a professora Fabiana Stecca, coordenadora do Projeto Zelo, Silveira chegou ainda filhote ao campus e nunca mais saiu. “Ele apareceu menor, e desde então vive aqui. A gente estima que ele tenha cerca de 10 anos e já faz quase nove que ele está entre nós”, conta.
Durante a pandemia, Silveira ficou instalado em sua casinha ao lado do antigo pronto-socorro do Hospital Universitário de Santa Maria.
Com o retorno presencial, no entanto, ele voltou a circular pelos prédios e áreas de convivência, especialmente a região do Restaurante Universitário, onde conquistou uma nova cama comprada pelos voluntários.
“Ele ficou do tamanho certinho da cama. É o nosso grandalhão”, brinca a professora.
Saúde, cuidados e “auposentadoria”

Com cerca de 10 anos de idade e mais de 43 kg, Silveira apresenta hoje diversos problemas de saúde comuns a cães idosos e de vida livre: artrose, problemas de pele (já precisou retirar nódulos) e dificuldades digestivas.
Já teve episódios de gastroenterite e atualmente segue uma alimentação regrada, à base de ração sênior ou de raças pequenas — não aceita grãos grandes e não pode comer comida de humanos.
“Ele é fino. E a ração dele, por conta das condições de saúde, não costuma vir das doações”, explica Fabiana.
Silveira é atendido regularmente no Hospital Veterinário Universitário (HVU) e está passando por um check-up para avaliar se ainda pode seguir com a rotina de cão de vida livre.
“A gente está usando esse momento de visibilidade para refletir: será que não é hora de ele se ‘auposentar’? Ele precisa de um lar definitivo, seguro, com carinho e cuidados que a vida no campus não garante”, reforça a coordenadora.
Curiosidades do Silveira
Quem convive com Silveira no dia a dia, compartilha histórias que mostram o quanto ele é único:
- Devido à sua popularidade no campus, ele foi carinhosamente apelidado de Pró-Reitor de Assuntos Caninos da UFSM (PRAC-UFSM) pela comunidade acadêmica;
- Ele prefere gente a cachorro. Já se envolveu em confusões com outros animais e até levou uma mordida;
- Silveira tem um lugar preferido na UFSM: o sofá da Biblioteca Central. Fica visivelmente irritado se alguém estiver sentado no “lugar dele”;
- Faz uma ronda diária pela universidade. De manhã, diariamente, passa pela Odontologia e Terapia Ocupacional, seguindo para outros locais do campus;
- É um cachorro que exige atenção: por ser extremamente sociável, precisa de uma adoção muito especial — ele fica triste se não vê gente por perto;
- Uma curiosidade inusitada: ele late mais para carros brancos. O motivo? Ninguém sabe, mas o comportamento já foi observado várias vezes.
Projeto Zelo: educação e acolhimento
Por trás do cuidado com Silveira e de outros aproximadamente 80 animais no campus, está o Projeto Zelo, iniciativa de educação para proteção animal ligada à Pró-Reitoria de Extensão (PRE) da UFSM.
Atuando desde 2014, o Zelo enfrenta diariamente os desafios do abandono — o campus ainda é um ponto comum para o descarte irresponsável de cães e gatos.
“Nós cuidamos de animais que não têm tutor. Se não fosse essa rede de voluntários, eles não teriam acesso a alimentação, tratamento, castração e atendimento veterinário”, destaca Fabiana.
Para manter essa estrutura, o projeto conta com doações e com o apoio da comunidade. Além do brechó solidário localizado no Colégio Politécnico, na sala C9, o público também pode adquirir ecobags, adesivos e bottons com a identidade do projeto. Toda a renda é revertida aos cuidados com os animais.
As contribuições podem ser feitas por Pix (chave: fabiana@ufsm.br), com qualquer valor, ou com doações de roupas, calçados, ração, medicamentos e itens diversos.
Educação e empatia
Os animais do campus são bem cuidados, muitos circulam livremente e até acompanham aulas. Mas para que essa convivência aconteça com responsabilidade, a comunidade acadêmica precisa se envolver.
“Chove, faz sol, tem feriado — e os voluntários estão sempre ali. Precisamos de mais gente com sensibilidade para a causa animal. Nossa missão é educar e mostrar que todo cão ou gato abandonado merece uma segunda chance”, explica a professora Fabiana.
A adoção responsável é a principal meta do Projeto Zelo. O grupo realiza o acompanhamento dos perfis dos animais e oferece suporte às famílias interessadas, ajudando a encontrar o melhor ambiente para cada um deles.
“Muitos cães de grande porte ainda esperam por um lar. Queremos mostrar que todo animal tem potencial de ser adotado e amado — e que o campus, apesar de acolhedor, não é o lugar ideal para eles viverem para sempre”, conclui Fabiana.
Você pode acompanhar a rotina do Silveira no perfil @silveirapodrao e conhecer mais sobre o cuidado com os animais do campus no perfil do @zeloufsm. Os itens disponíveis para venda podem ser encontrados no perfil @grifedozelo.