DIOMAR KONRAD
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Na época de Marx, a classificação dos estratos sociais era bem simples: ou você era burguês, dono dos meios de produção ou era proletário, destinado a vender sua força de trabalho para receber um salário.
Havia, é claro, o chamado pequeno burguês, um setor intermediário que não explorava ninguém diretamente, mas também não era explorado.
Se Marx tivesse o poder de renascer, teria muito mais trabalho para classificar a sociedade atual.
Ainda bem que as cadeiras estão bem melhores e ele não sofreria tanto com os furúnculos.
DIOMAR KONRAD – Crônica: O recall
O que dizer de um agricultor que é dono da terra, mas tudo que planta segue as diretrizes da empresa que o contrata, impedindo-o de cultivar alimentos para seu sustento? Seria uma espécie de assalariado dentro de sua própria propriedade?
E de um trabalhador do moderno delivery, que trabalha por conta sem direito a férias e outros direitos sociais? Seria o ápice do capitalismo, no qual a pessoa se autoexplora?
E aqueles que compõem a nata do funcionalismo, incluindo aqui os militares, cujo sobrevivência depende da própria mobilização interna dentro do Aparelho do Estado?
Poderiam ser classificados como uma casta autossuficiente mantida pelo poder estatal?
DIOMAR KONRAD – Crônica: A indenização
E os demais servidores públicos, condenados a ganhar cada vez menos, além de serem acusados injustamente de dilapidar o patrimônio público?
Seriam os novos proletários estatais? E os donos das microempresas, agora chamados de empreendedores? Seriam mesmo pequenos burgueses?
Outro problema a ser enfrentado por Marx seria uma nova classificação do desemprego que, segundo sua antiga lógica, serviria para formar uma mão de obra excedente, a fim de garantir a permanência dos baixos salários.
A explicação atual é a falta de qualificação e assim ficou mais fácil culpar o trabalhador pelo seu próprio fracasso, pois em um mundo de oportunidades só não alcança a felicidade quem não tem determinação.
DIOMAR KONRAD – Crônica: Download
Os mendigos, os usuários de drogas e aqueles que desistiram de procurar emprego seriam facilmente classificados como lumpen proletários.
Esta classificação, creio eu, ainda seria útil, mas agora com novos e diferentes grupos.
Faltaria ainda classificar um grupo específico, formado pelos corruptos, milicianos e traficantes, que poderiam ser chamados de liberais à custa dos outros, sempre encontrando brechas na lei, na opressão e dependência de produtos químicos oportunidades para estabelecer zonas de poder e estados paralelos.
DIOMAR KONRAD: Crônica: O provedor
No caso de milicianos, poderiam ser considerados os novos senhores feudais, com domínio total sobre sua área de atuação.
Marx teria que voltar bem mais qualificado, pois senão até ele ficaria desempregado e não teria o apoio da fundação Engels de apoio à pesquisa.
Mas em uma coisa tenho certeza que o velho barbudo acertaria em cheio: o petróleo que produzimos não é nosso.
Apesar de toda a campanha realizada no século passado, de criação da Petrobras, da chamada autossuficiência na produção, não temos refinarias suficientes ou com tecnologia adequada para produzir nosso próprio combustível.
DIOMAR KONRAD: Crônica – A Abstenção
Por isto, exportamos óleo cru e importamos gasolina ou derivados e seguimos a lei de mercado, com aumentos sucessivos baseados no dólar.
Isto ocorre também porque a Petrobras não é mais nossa, mas sim dos acionistas, que controlam a política de preços no país.
Além disso, há toda uma cadeia de distribuição e de impostos que dobra o preço dos combustíveis na bomba.
A solução, para o velho Marx, seria simples. Reestatizar a Petrobras e construir refinarias para produzir os derivados.
Mas quem seria capaz de explicar isso a uma população desinformada que acredita que tendo armas em casa estará protegida?
DIOMAR KONRAD – Crônica: A experiência
O pensamento conservador sempre existiu, mas esteve acobertado por sucessivas ondas de avanço social.
Mas quando surge um representante, digno de sua mais elevada ignorância, muitos correm atrás.
A classe média, como dizia Trotsky, oscila entre o proletário e o burguês. Quando políticas econômicas progressistas aumentaram o número de pessoas nesta categoria, a primeira coisa que elas fizeram foi assumir seu lado conservador, votando contra quem os tinha elevado de posição.
E agora, no governo que elegeram, voltaram a ser pobres e ainda continuam ignorantes.
E o SUS que eles desprezaram está salvando suas vidas.