MARCOS RIBEIRO
Delegado de Polícia
Ligado à diretoria da Cacism (Câmara de Comércio, Indústria e Serviços de Santa Maria) o atual Consepreo (Conselho Municipal Pró-Segurança Pública) de Santa Maria, entidade privada sem fins lucrativos, foi fundado em maio de 2018.
Antes disso, porém, outros Consepros já tinham funcionado por vários anos na cidade com a participação de outros segmentos da sociedade, sempre com o objetivo de colaborar com os órgãos de segurança pública, sobretudo na destinação de recursos financeiros.
Embora possam enfrentar críticas de possível interferência privada indevida nas instituições de segurança pública, os Consepross, entretanto, sempre tiveram reconhecida a sua importância no auxílio às atividades policiais, que constituem um dever precípuo do Estado.
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Digo isso porque, no contexto da grave crise sanitária e econômica produzida pela pandemia do Covid-19 em todo o país, causou-me espanto o conteúdo da nota divulgada pela Cacism em 19 de março deste ano nas redes sociais, endereçada aos associados da entidade e à comunidade de Santa Maria em geral.
Segundo a nota, a partir daquela data, as atividades do Consepro estariam suspensas “enquanto policiais e viaturas estiverem nas ruas, fiscalizando e reprimindo empresas e pessoas que estão apenas trabalhando para sustentar a si e seus familiares”.
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Ou seja, a entidade pareceu aqui estar tentando determinar quais ações de fiscalização as polícias poderiam ou não realizar, e induzindo a população a um falso dilema entre salvar vidas e garantir o sustento dos trabalhadores, como se os dois objetivos fossem excludentes e não pudessem ser buscados simultaneamente.
A polêmica nota foi uma reação da Cacism contra o Decreto 55.782/21 (qualificado pela entidade como “decretos ditatoriais”), que impôs restrições de bandeira preta no período entre 06-3-2021 e 21-03-2021 em todo o Rio Grande do Sul, face ao agravamento da pandemia de Covid-19.
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É lamentável que uma entidade privada da importância da Cacism passe a impressão de que está transformando um trabalho, que seria voluntário em prol das forças de segurança, em moeda de chantagem e retaliação às medidas de restrição recomendadas por autoridades sanitárias aos cidadãos e às diversas forças econômicas do Estado para a proteção da vida das pessoas em função do agravamento da pandemia do novo coronavírus.
Some-se a isso o fato de que, dois dias depois, em 21 de março, numa Carta Aberta à população a ser encaminhada aos três poderes, mais de 1500 lideranças empresariais e da área econômica de todo o Brasil seguiram numa direção muito mais sensata.
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Eles, ao contrário, defenderam medidas restritivas similares às implantadas pelo decreto do governo estadual combinadas com medidas de apoio econômico a pequenas e médias empresas.
Na carta, ao criticarem o governo federal, eles afirmaram que a insuficiência de vacinas no país ocorre não em função do seu custo elevado ou da falta de recursos orçamentários, mas em decorrência da falta de prioridade dada à vacinação.
LUDWIG LARRÉ – Crônica: Dummheit uber alles
Dessa forma, embora possam ser legítimas as reivindicações de seus associados, a Cacism não foi feliz na sua nota quando suspendeu os serviços do Consepro para exercer pressão sobre o Poder Público em nome de seus interesses.
Imaginem, leitores, o constrangimento às instituições de segurança pública e seus servidores, se a Cacism, toda vez que não estiver de acordo com qualquer decisão governamental que entenda ser prejudicial aos seus interesses particulares, resolva novamente usar o Consepro como meio para ver atendidas as suas reivindicações.