Paralelo 29

GILSON PIBER – Opinião: Até o Censo cortaram

Sem pesquisa, Brasil fica sem informações para políticas públicas/Foto: Lícia Rubinstein, Agência IBGE de Notícias

GILSON PIBER

Jornalista

O Censo Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que estava previsto para 2020 e foi postergado para este ano, não vai ser mais realizado.

A justificativa do governo federal é simples: não há previsão orçamentária.

Dos R$ 2 bilhões previstos, apenas R$ 71 milhões foram aprovados pelo Congresso Nacional em março. Entretanto, o orçamento sancionado e publicado no Diário Oficial da União da última sexta-feira (23) trouxe um veto do presidente Jair Bolsonaro, que reduziu o valor para só R$ 53 milhões.

GILSON PIBER – Opinião: Você tem medo da Covid-19?

Conforme o sindicato nacional dos servidores do IBGE, a decisão inviabiliza até os preparativos para o levantamento ir a campo em 2022.

Azar do Censo dirão algumas pessoas. Porém, a não realização do levantamento dos dados populacionais vai gerar impacto nos repasses do Fundo de Participação dos Municípios e em uma série de outras transferências da União para estados e municípios.

A pesquisa também proporcionaria trabalho e renda, mesmo de forma temporária, para mais de 22 mil agentes censitários e cerca de 182 mil recenseadores.

O último Censo Demográfico no país ocorreu de 2010.

GILSON PIBER – Opinião: “A boca e o cérebro”

Sem dados atualizados, o governo e seus órgãos ficam desinformados sobre a realidade do país e as reais necessidades de políticas públicas que contemplem, principalmente, as camadas mais carentes da população.

De acordo com informações do IBGE, “em 2019, do montante total cerca de R$ 396 bilhões que foram transferidos pela União a estados e municípios, cerca de R$ 251 bilhões (65% do total) foram transferências que consideraram dados de população”. Sem a nova contagem da população, as estimativas ficam defasadas.

Vale lembrar que a pandemia de covid-19 se aproxima dos 400 mil mortos no país. E os dados do Censo serviriam para balizar o processo de superação e recuperação na fase pós-pandêmica.

GILSON PIBER – Opinião: Discursos atrasados

A arquiteta e urbanista Danielle Klintowitz, que coordena o Instituto Pólis, atesta isso.

“A gente tem que entender quem são essas pessoas. Quem são as pessoas que estão passando fome? Quem são as pessoas que foram mais atingidas pela pandemia? Onde elas moram? Em que condições elas moram? Qual é a raça que elas têm? E assim, entender por que foram elas, quais são os serviços que estavam disponíveis para elas, qual o nível de escolaridade… e só então, a gente vai entender qual é o foco das políticas públicas que a gente precisa fazer”.

GILSON PIBER – Opinião: Música e escolhas

Ao não oferecer verbas orçamentárias suficientes para a realização do Censo Demográfico, o Executivo federal desvaloriza o IBGE e a própria pesquisa sobre o Brasil e os brasileiros. Mais um gol contra do governo da Pátria Amada Brasil.

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