Estátua viva
Dia desses, repercutiu e gerou polêmica nas bolhas sociais de Santa Maria a foto de um artista de rua que interpreta uma estátua viva fardada e armada.
A imagem foi registrada e compartilhada pelo Zé Mauro, gerando uma onda de polarização nos comentários da postagem.
Vivemos tempos de tamanha polarização, que o polo sul se deslocou na Terra plana e a Antártica já faz parte do Brasil.
Fugindo do assunto para não perder a piada nem a Geografia, tem outro polo em Santa Catarina, ali entre a Gamboa e a Guarda do Embaú: Polo Lopes. (kkkkkk!)
Voltando ao assunto, o soldadinho prateado, sob cuja tinta e a farda pesada um artista suava o pão de cada dia, foi taxado por uns de apologia ao regime militar; por outros, de ato de denúncia contra o mesmo sistema.
LARRÉ – Crônica: O Dia da Terra
E eu aqui, tentando angular em perspectiva, refletia se não estávamos diante de uma das próprias definições da arte, qual seja despertar sentimentos e discussões, rupturas de conceito, debate de ideias.
Ah! A História e a Sociologia da Arte!
Head out on the highway, a imagem de nosso artista de rua me levou por outras sinapses e questionamentos.
Quais personagens locais, transformados em estátuas, melhor representariam o imaginário santa-mariense?
Enquanto você pensa, lembro que outro artista do segmento das estátuas vivas já concorreu a vereador.
Na época, ouvi de eleitores frustrados que o candidato teria feito muitos votos, caso prometesse ficar paradinho e não abrir a boca no parlamento.
LARRÉ – Crônica: Um gato vadio, o mago e Raul Seixas
Particularmente, fico sestroso em relação ao resultado de possível enquete ou referendo popular sobre o tema.
Assusta-me cogitar que, como se fosse um Big Brother, veria meus favoritos sendo eliminados a cada paredão.
Como já temos o Dr. José Mariano da Rocha Filho, uma de nossas poucas unanimidades – ao menos até a Era do Negacionismo e dos inimigos da Ciência –, sugeriria bustos do Eduardo Trevisan, do Prado Veppo, do Pedro Freire Jr., do Maestro Setembrino, da Vó Diná (já ouviram falar? Pesquisem).
Temo que meus favoritos e outros da mesma envergadura seriam esmagados pela galeria de ídolos de barro moldados, erigidos, cultuados e adorados na aldeia ao longo das últimas três décadas.
LUDWIG LARRÉ – Crônica: Comentarista do BBB
Os processos de canonização são eficientes e, diante de tais ídolos homenageados em nossas praças e parques, invejarei os pombos.
Antes de ser acusado de tal, assumo que, perante esse panteão, um pombo me representa. Acho digno! Sem asas, de preferência.
Sobre as vidraças estilhaçadas, contemporizo, propondo um consenso afetivo.
Cada vez que passo pelas estátuas do Mario Quintana e do Carlos Drummond de Andrade (que finjo ser Erico Verissimo), no banco da Praça da Alfândega, em Porto Alegre, imagino uma obra semelhante em um banco do Calçadão Salvador Isaia, em Santa Maria.
Nele estão o Claudinho Cardoso – que, por imortal, pode ser homenageado em vida – e o não menos imortal Paulinho Bilheteiro.
Tem que ser no banco da Boca Maldita, em frente à Galeria Chami, senão não vale.
LUDWIG LARRÉ – Crônica: 1964 e algumas realidades alternativas
A poucos metros dali, próximo à Galeria do Comércio, havia uma escultura com a qual simpatizava bastante: a estátua do leitor.
Não sei qual artista assina a obra de arte. Sei que, há uns dois ou três anos, encontrei-a depredada, sem o livro, com os braços quebrados e as mãos postadas como quem pede esmola.
Psicografei o espírito do Chico Ribeiro ou da Dona Aracy de Azevedo Klumb em uma quadrinha desaforada:
Santa Maria, que dor!
O retrato é o seguinte:
até a estátua do leitor,
quebrada, virou pedinte.
Pedi ao Zé Mauro que providenciasse uma foto atual da estátua do leitor para ilustrar este texto. Ele me informou que o leitor/pedinte foi removido do Calçadão para a Avenida Presidente Vargas.
LUDWIG LARRÉ – Crônica: “Passos do Vislumbre”
Na foto atual de meu prestimoso editor, a obra está junto ao MASM e ao antigo Skatto Bar.
Fiquei pesando se o destino não teria sido o Largo da Biblioteca Pública Municipal Henrique Bastide.
Nesse caso, o serviço de delivery teria cometido um erro de uma quadra. Who knows? O fato é que o Zé Mauro foi até lá, fez foto atual e – pasmem! – a obra está depredada da mesma forma que estava no local de origem.
Depois, eu que sou louco, como diz meu querido amigo Claudinho!
Evocando a proteção divina, fico imaginando como seria, caso Santa Maria entrasse na disputa da maior estátua de Cristo do Brasil.
Na pujante cidade de Encantando, a comunidade e a iniciativa privada bancaram do próprio bolso o Cristo Protetor, que supera em alguns metros o Cristo Redentor do Rio de Janeiro.
LUDWIG LARRÉ – Crônica: Teteza
A Depressão Central seria tão generosa? Não vejo possibilidade. Até porque nosso monumento ao empreendedorismo local – há décadas dominando a paisagem da baixa Avenida Rio Branco – é mais alto que os cristos.
Então, senhoras e senhores? Qual monumento melhor representaria o imaginário dos habitantes da Cidade Ex-Cultura?
“Um engano em bronze é um engano eterno”, advertiu Mario Quintana. Pensem bem! Um monumento equivocado é um equívoco monumental.