“Triste
O silêncio
Profundo
Que desconhecia
Ouviu a própria voz
E ela era muda”
Assim, com essa teia de palavras, a poeta Melina Guterres, a Mel Inquieta, provoca o leitor a imaginar e a imaginar-se diante do espelho do tempo.
Então imagine-se outono, como ela propõe no poema OUTONOU-SE. Mais que simplesmente passear por um outono com suas folhas caídas, Mel faz um convite para quem quiser flanar por outras estações.
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OUTONOU-SE
E a alegria
Fez um voto de silêncio
Calou-se
Diante do templo
Recolheu-se
Escondeu-se
Dentro de si
Sem mais espelhos
Transformou-se
Sem interferências
Tocou-se
Acariciou
Própria face
Sentiu o sorriso
Triste
O silêncio
Profundo
Que desconhecia
Ouviu a própria voz
E ela era muda
Assumiu a surdez
Brindou o fim dos tempos
Sobrevoou invernos, infernos
Eras, ervas, perfumes, primaveras
E outros verões
Sua alma, outono.
Caiam folhas,
Máscaras,
Rosnou
Riu,
Não era alegria,
Era a beleza mais pura,
Era ela,
Sem adjetivos do nunca
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Aventura no cadarço do salto alto
Em ANDORAR, Mel proclama: “Tenho uma aventura amarrada no cadarço do meu salto alto”. E prossegue a poeta a andejar, ou melhor, voar sobre trilhos, com o trem. E levitar como o mendigo que tudo se desfez.
Nesse poema, que também tem estação do ano, Mel cria cores e ventos, reflete-se em espelhos, faz alquimia e parte, livre, do passado para o presente, como o voar das andorinhas.
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ANDORAR
Tenho uma aventura
amarrada no cadarço
do meu salto alto
Pedras não suportam
o peso de mi alma
viram areia e amaciam
o andar
Pelo trilhos
voo com o trem
e levito como
o mendigo que de tudo se desfez
Pareço torta,
levo o velho rock na escuta,
toco minha gaita de boca imaginária
escrevo sobre doentes a duendes
tenho um lado escravo
um passado de luta e preguiça
tenho uma meia carteira
cartas a serem enviadas
personagens a escrever
histórias a contar e outras a criar
tenho um saco do tamanho da minha gaveta
e um cigarro de palha para não esquecer
que o campo é meu vizinho
a terra fria e seu inverno aquecido
a la lenha e chimarrão
tenho o voo da borboleta
em mãos
e desenho o mapa
de mi vida com
tinta óleo
crio cores e ventos
sou reflexo, espelhos
um balaio de fantasia
jogo pimenta
faço alquimia
saio livre
e parto do passado para o presente
com o voar das andorinhas…
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Sinestesia pura
A poesia é isso: linguagem. Mais que sentimento, é palavra no papel. Não qualquer palavra, mas aquelas que se encaixam no fazer poético.
Aquelas que dão cor ao poema. Que emitem sons. Que espalham cheiros. A poesia de Mel é isso, sinestesia pura.
Mel Inquieta ou Melina Guterres, poeta, jornalista, escritora e roteirista divulga seus poemas (e de outros poetas) na Rede Sina, plataforma de produção de conteúdo que ela fundou e administra.
A poesia de Mel também está no Instagram, no perfil Poesia com Mel.