Paralelo 29

A religião e o ensino

Monumento a Pagliuca, na Avenida Rio Branco, em Santa Maria/Foto: Athos Ronaldo Miralha da Cunhas, Arquivo Pessoal

JOÃO EICHBAUM

Advogado e escritor

Depois de ter um vigário que, havendo brigado com a amante, saíra desesperado atrás dela, deixando o povo esperando pela missa do galo na matriz, a freguesia de Santa Maria enfrentou dois outros problemas.

O vigário Marcelino recebeu uma tunda de chicote, na calada da noite, quando passava pela praça. Em razão disso, a igreja foi interditada, ficando o povo sem serviços religiosos, missas, batizados, casamentos e encomendações fúnebres.

Padre Becker, um dos sucessores do vigário espancado, quis botar ordem na paróquia e se deu mal. Recebeu a visita hostil de um grupo de homens, que lhe deram prazo de vinte e quatro horas para deixar a cidade.

A face religiosa da cidade começou a tomar outra aparência quando a paróquia foi entregue ao padre Caetano Pagliuca.

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O jovem e dinâmico palotino se dedicou à reforma da matriz, construiu o orfanato e o asilo (prédio onde hoje funciona a Unifra) e se engajou na construção do Hospital de Caridade.

Pelo que se depreende da narrativa dos historiadores, Pagliuca não só era bom de negócios, como usava do autoritarismo da Igreja, para firmar liderança. Assim, deixou sua marca em várias instituições,   impulsionando a hegemonia da Igreja Católica.

Tornada diocese, Santa Maria, providenciou residência principesca para o bispo. Até alguns anos atrás chamava atenção, pela beleza arquitetônica, o primeiro palácio episcopal, na esquina da Vale Machado com a travessa Otávio Binato.

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Mas, nessa época já estava sendo ocupado pelas irmãs missionárias de Jesus Crucificado. O bispo havia se mudado para um palácio mais vistoso, na rua Silva Jardim.

Com uns puxadinhos emendados ao antigo palácio episcopal, as freiras instalaram um pensionato para moças. Claro, para bancar pensionato, só podiam pertencer a famílias de posse, da campanha, principalmente filhas de fazendeiros que vinham cursar o ensino médio.

As sucessivas levas de moças ricas que vieram, gostaram e ficaram. A procura pelo ensino médio cresceu e o sentido aguçado da irmã Consuelo, do Colégio Santana, captou cheiro de ensino superior no ar.

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Em pouco tempo estava criado o Curso de Línguas Neo-latinas e Anglo-germânicas, lá mesmo, no prédio do Santana.

E foi um grande passo para que outra história entrasse no palco dessa cidade, que cresceu sempre varrida pela súbita desordem do vento norte e coberta por cerrações que a sufocam e lhe roubam a beleza do céu, ao amanhecer.

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