O deputado estadual Valdeci Oliveira (PT) assume nesta segunda-feira (31) a presidência da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (ALRS). Ao lado do Executivo e do Judiciário, o Legislativo forma o tripé dos Poderes da República no Estado. A solenidade será às 15h, no Plenário 20 de Setembro, com transmissão pelos canais oficiais.
O ex-agricultor, ex-balconista e ex-metalúrgico, que nasceu em São José da Porteirinha, no interior de Dilermando de Aguiar, na época distrito de Santa Maria, a 7 de setembro de 1957, chega ao comando do Parlamento Estadual por meio de um acordo entre as bancadas, uma tradição da Casa, que garante a pluralidade e a alternância de partidos na presidência do Poder Legislativo.
Assim, Valdeci Oliveira vai substituir Gabriel Souza (MDB), que presidiu a ALRS no ano passado e entrega o cargo nesta segunda-feira, em solenidade oficial.
Valdeci leva proposta de renda básica ao governador
De dirigente sindical a chefe de Poder
Aos 64 anos, o deputado assumirá o cargo mais importante da sua trajetória política, que começou como vereador em Santa Maria, em 1989 e seguiu como deputado federal, prefeito da cidade duas vezes e, por fim, deputado estadual. No desempenho de um de seus mandatos, foi líder do governo Tarso Genro (PT) na Assembleia, o que, segundo ele, deu experiência de diálogo com todos os segmentos.
Antes de entra na política partidária (ele se filiou ao PT em 1986), Valdeci participou do movimento sindical, presidindo o Sindicato dos Metalúrgicos de Santa Maria.
Deputados Giussepe e Valdeci estão do mesmo lado no projeto do ICMS
Em entrevista ao Paralelo 29, Valdeci fala dos desafios que terá, a partir desta segunda-feira, no comando da ALRS, entre eles a condução de 17 bancadas e de 55 parlamentares em um ano eleitoral marcado por tensões.
Como presidente da ALRS, o deputado santa-mariense também poderá assumir o governo do Estado em caso de viagem ou impedimento do governador e do vice-governador.
Deputado santa-mariense faz apelo para que irmã Lourdes não seja transferida
“Minha gestão será democrática, plural e colaborativa”
Paralelo 29 – Um dos grandes desafios é comandar o Parlamento gaúcho em um ano eleitoral. Como o senhor pretende encarar esse desafio?
Valdeci Oliveira: Com muita responsabilidade, sensibilidade e uma capacidade incansável de dialogar. Eu vou procurar permanentemente ser um radical do diálogo, um agente facilitador de convergências e sintonias dentro do Parlamento gaúcho. As disputas políticas legítimas entre as bancadas têm que ocorrer dentro do plenário e nas comissões da Assembleia, mas não dentro da gestão da Casa, que será democrática, plural, compartilhada e colaborativa com todas instituições e forças que quiserem ajudar o Rio Grande. Já as disputas eleitorais são saudáveis que venham a ocorrer, mas no momento adequado, que é justamente o período destinado às eleições. Antes disso, nós, deputados e deputadas, temos muitas tarefas a cumprir no sentido de ajudar a resolver ou a amenizar uma série de problemas que castigam o Rio Grande. Eu tenho certeza que os e as parlamentares têm profunda consciência disso e vão ajudar muito a Mesa Diretora a manter um bom e produtivo ambiente de trabalho.
Leite anuncia que servidores terão salários em dia em 2022
“Os desafios serão diários, diversos e graúdos”
Paralelo 29 – Que outros desafios o senhor espera encontrar na Presidência da Assembleia Legislativa?
Valdeci – Nós temos uma experiência política bastante razoável tanto dentro como fora da Assembleia. Isso vai nos ajudar muito neste momento. Não faz muito tempo, nós exercemos o papel de líder do governo Tarso Genro no Parlamento. Essa tarefa de ser o representante de um governo no Legislativo é bastante complexa, pois a disposição para o diálogo tem de ser total. E muito do que eu aprendi na liderança de governo, eu vou levar agora para a presidência. Os desafios que teremos serão diários, diversos e graúdos, afinal a Assembleia é uma das principais instituições do Estado e conta com 17 bancadas parlamentares que representam as mais diversas visões políticas e sociais. Mas nós pretendemos superar um a um respeitando as pessoas, respeitando as diferenças e sempre defendendo o interesse público e o interesse coletivo.
Petista é eleito presidente da Câmara com discurso conciliador e de independência
“Sempre haverá humildade seja com quem for”
Paralelo 29 – A Mesa Diretora da Assembleia é bastante plural. Como será lidar com tantas visões diferentes, mesmo em questões administrativas, já que também há um papel político do presidente?
Valdeci – Eu estou desde 2011 na Assembleia. Já participei da Mesa Diretora em diferentes oportunidades, já presidi uma das mais importantes comissões da Casa, a Comissão de Saúde, já fui o ouvidor do Parlamento e coordeno uma série de frentes parlamentares. Não faltará “casca”, portanto, para lidar com as situações que vão surgir. E, da mesma forma, sempre haverá humildade no trato e nas relações estabelecidas pelo presidente seja com quem for. E sobre a pluralidade da Assembleia, temos permanentemente que saudá-la e respeitá-la, já que esta é uma vocação muito positiva do Parlamento.
Transferência de irmã Lourdes pode impactar economia solidária local
“Pela dureza da vida, só completei meus estudos aos 35 anos”
Paralelo 29 – Do ponto de vista pessoal, o que significa assumir o comando do Legislativo gaúcho?
Valdeci – Eu não gosto de enxergar as coisas pelo lado pessoal, pois tudo o que somos e representamos na nossa trajetória é fruto de lutas coletivas. Então, eu creio que assumir o comando do Legislativo representa uma vitória para todas aquelas pessoas – e não foram poucas – que ajudaram a construir a nossa militância. Eu sou oriundo de uma família bastante simples, nasci no interior do interior do hoje pequeno município de Dilermando de Aguiar (na época que nasci pertencia a Santa Maria) e, pela dureza da vida, só consegui completar meus estudos com 35 anos de idade. Se eu tivesse tentado encarar os desafios que encarei de forma solitária, certamente teria ficado no meio do caminho. Mas o apoio e a solidariedade da família e de muitos companheiros e companheiras tornaram possível algo que tinha tudo para não acontecer. Eu só tenho que agradecer e trabalhar muito para retribuir a generosidade das tantas pessoas que acreditaram no potencial daquele rapaz que trabalhou na lavoura, que foi metalúrgico e que atuou no balcão das famosas Casas Jaraguá, em Santa Maria.
Governador analisará pedido de inclusão imediata de SM na duplicação da 287
“Os pleitos de Santa Maria ganharão mais visibilidade”
Paralelo 29 – Do ponto de vista político, qual o significado do cargo para o senhor e para Santa Maria e região?
Valdeci – O presidente da Assembleia Legislativa tem, obviamente, um compromisso de atuação com o Estado inteiro, e assim vai ser na nossa gestão, sem excluir ninguém em função de questões políticas ou geográficas. Agora, com certeza, os pleitos, projetos e reivindicações de Santa Maria, que é uma das maiores cidades do Estado, ganharão mais visibilidade e nitidez no âmbito estadual pelo fato do presidente (do Parlamento) ser da cidade e ser morador do Bairro Tancredo Neves. Mesmo sendo o presidente de um Poder, eu não deixarei de lado os compromissos firmados com a cidade e com a região no decorrer do nosso mandato de deputado, seja nas questões do Hospital Regional, do Hemocentro Regional, da Casa de Saúde, do Husm (Hospital Universitário), da infraestrutura, da defesa da educação, da cultura, da geração de trabalho e renda, da economia solidária, e em tantas outras áreas e setores. Estarei sempre à disposição dos prefeitos, vereadores e vereadoras, das demais lideranças e, é claro, da comunidade local e regional. Santa Maria e a Região Central poderão contar, sim, com um forte aliado dentro do Parlamento gaúcho.
Santa Maria vai sediar audiência pública sobre duplicação da 287
“Serei candidato à reeleição”
Paralelo 29 – O senhor pretende concorrer à reeleição? Como conciliar a presidência da Assembleia com a campanha eleitoral?
Valdeci – Sim, serei candidato à reeleição. Como sempre faço, respeitarei, integralmente, todas as determinações previstas na lei eleitoral. Vamos conciliar isso de forma tranquila (historicamente, os presidentes de parlamentos disputam reeleição) sem prejudicar jamais a Assembleia. Eu já avisei os meus apoiadores e apoiadoras que, em função da presidência e da prioridade que damos a essa atribuição extremamente relevante, eles e elas vão ter de se multiplicar para suprir a nossa ausência na linha de frente da campanha, em muitos momentos.
Paralelo 29 – Como será sua interlocução com movimentos sociais e outros segmentos, como os empresariais?
Valdeci – Será direta e franca. Os movimentos sociais, populares, sindicais e empresariais são fundamentais para apontar caminhos, soluções e também reivindicações que se fazem necessárias para o desenvolvimento econômico e social do estado. Eu sou oriundo dos movimentos sociais e conheço muito bem a importância que eles têm.