Paralelo 29

CRÔNICA: A palestra

Foto: Agência Brasil

DIOMAR KONRAD – Publicitário e cronista

Convidado para participar de um evento no formato palestra, achei o tema interessante e decidi dedicar algumas horas do precioso tempo na solenidade.

Como era um evento aberto, pensei que poderia chegar lá e escolher qual a minha forma de participação, pois haveria vagas para palestrante, coordenador de mesa, debatedor, ouvinte, servidor de água mineral, organizador da lista de presença, pessoa que entrega os certificados e até assistente técnico para os equipamentos multimídia.

Numa dessas, caso a vaga de palestrante já estivesse ocupada e o mesmo fosse de fora, talvez pudesse ser o acompanhante no seu jantar. Tudo por conta do evento, é claro. Afinal, quem de nós, caro leitor, nunca pensou que o palestrante era chato e sabia muito pouco, aventando a possibilidade de tomar o seu lugar?  

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Qual não foi a minha decepção ao saber que todos os cargos, exceto o de ouvinte, já estavam preenchidos. Devo ter chegado tarde demais. Da próxima vez, vou me antecipar. Para não fazer desfeita ao convite, resolvi me sentar e assistir a palestra. Foi aí que me dei por conta de algumas coisas.

A primeira delas é que havia pouca gente, bem menos do que a lista que assinei lá fora. Para os que não estavam ali, certamente o certificado era bem mais interessante do que o assunto. A segunda é que depois da palestra propriamente dita, a sessão foi aberta para as perguntas e ninguém se manifestou.

Quando chegar a minha vez de palestrar, vou contratar alguém para fazer os questionamentos, pois assim não fica aquela situação chata, em que o pessoal da mesa precisa fazer alguma coisa para o assunto não morrer. 

DIOMAR KONRAD – Crônica: O petróleo não é nosso

É claro que nem sempre é assim. Tem aqueles eventos nos quais aparece o aprendiz de palestrante. É alguém que, em vez de fazer uma pergunta, fica um bom tempo dissertando sobre o que leu, chegando a falar para mais de cinco minutos e, no final, para disfarçar, tenta fazer um questionamento, mas esse tem cara de resumo de tudo que pensa.

É melhor que nada, é preferível um sujeitinho assim do que a plateia muda. Pena que, nestes casos, o palestrante é obrigado a responder.

Esses aprendizes podem estar com sentimento de desfeita, por não terem sido convidados a palestrar. Para os mesmos, proponho oferecer um mini-certificado. Juntando dez, você ganha um certificado de palestrante.  

A palestra termina com um sentimento de vazio. E a pessoa que me convidou não foi. Será que levou o certificado? 

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