BRUNA OSÓRIO PIZARRO – Psicóloga e psicanalista
A data de 19 de agosto é marcada como o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua. Em Santa Maria, a Secretaria de Desenvolvimento Social realizou o 1º Seminário Alusivo ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua na Câmara de Vereadores da cidade.
Esta é uma temática de meu interesse, que diz respeito à inclusão e proteção social. Além disso, de alguma forma me envolvi, pois, meu companheiro, James, foi um dos “palestrantes”.
Ele atua no Caps Cia do Recomeço, como assistente social. Acompanhei a movimentação pré-evento e a mobilização para que usuários se fizessem presentes para compor a última parte da programação.
A TV Câmara Santa Maria, para quem não sabe, transmite de forma instantânea, ou melhor, ao vivo, as ações que acontecem no Plenário. Muitas são as vezes que acompanhamos, as sessões da Câmara de Vereadores de Santa Maria, seja ao vivo ou pelo canal do YouTube, de casa. Confesso que às vezes, acompanhar aumenta minha ansiedade. Em outras, me acordam para um “mundo” no qual eu vivo.
Eu tenho mania de ver a política a partir de onde moro, não apenas por este viés, mas também. E o “mundo” pode se chamar “Santa Maria” em muitos momentos. Coloco os grandes escândalos nacionais, em proporções menores e vejo repetições aqui, bem pertinho. Essas não saem na TV, “ninguém dá bola”, ou ainda “muitos se indignam”, mas “dá trabalho demais denunciar!” ou “preferem nem saber”.
As denúncias partem daquilo que não calamos. E requer energia, bem como este texto que me dedico a escrever. Aliás, torço para que a gente lide bem com aquilo que não contamos a ninguém…
No dia 19/08, não pude estar presente na Câmara de Vereadores e acompanhar este debate importante realizado pelo município. Como de praxe, fui acessar o YouTube, canal da “TV Câmara Santa Maria”, para prestigiar o Seminário.
Quando conheci o James, ele estava muito envolvido com a luta da população em situação de rua a nível estadual. Era outra época, onde essa população era incluída nas pautas das políticas públicas, um mundo tão diferente do qual estamos vivendo agora.
Acesso o canal do YouTube e a transmissão, gravação e o vídeo disponibilizado até agora vai até o primeiro minuto da fala do James. Ele chegou em casa comentando que alguns colegas haviam pontuado que após o primeiro minuto de fala dele, foi parada a transmissão ao vivo (simultânea).
A gravação que está disponível no YouTube é de uma hora, um minuto e dez segundos (1:01:10) e da programação divulgada no site da Prefeitura (link ao final do texto), foi transmitido apenas a primeira fala, do promotor de Justiça Joel Oliveira Dutra.
As falas seguintes foram de pelo menos seis usuários da rede, de três trabalhadores, inclusive de uma convidada de fora, Juliane Jacoby, que veio contar sua experiência do Centro Pop de Novo Hamburgo/RS, no qual atua como coordenadora do projeto.
Psicóloga Bruna Osório Pizarro estreia no Paralelo 29
Isso me fez questionar sobre as sutilezas de uma democracia ou de como ela se derrete na interrupção. De como a política se dá nos detalhes. Fiquei me perguntando: Quem ficou de fora?; Por quê? Quem pôde ser escutado? Por quê? Para quem foi interrompida a escuta?
Será que quem me lê agora, acha que isso tem algum significado? Será que alguém articula isso com democracia? Será que há coincidência em tempos como o de hoje? Ou só será que serei chamada de paranóica e/ou “louca”, estratégia tão utilizada pelo machismo – (para mulheres)?
Estamos em ano eleitoral e temos que saber que políticas só se constroem a partir dos próprios sujeitos de direitos. Democracia é qualidade de vida, participação social, cidadania. A proposta do SUS, na 8ª Conferência de Saúde que aconteceu lá em 1986 era uma proposta da “questão democrática da saúde”, como bem lembra Paulo Amarante, psiquiatra e um dos pioneiros do movimento brasileiro de reforma psiquiátrica.
A democracia vai muito além do que uma maioria dos votos. Democracia é onde todos/as/es pessoas têm direitos, e perpassa a participação popular de projetos construídos socialmente, coletivamente. É muito importante para que as políticas sejam eficientes, que seja uma construção coletiva!
Nem vou adentrar o que preconiza o SUAS, mas pelo que escutei de quem estava no Plenário, a Juliane dá um bom caminho para qualquer (ou nem tanto “qualquer”) gestão que se importe com a inclusão de todes.
Espero tanto, que até o final do dia seja compartilhado no canal da TV Câmara Santa Maria a ÍNTEGRA do 1º Seminário Alusivo ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua de Santa Maria/RS, realizado pela própria Prefeitura, por meio de suas Secretarias e equipamentos do SUAS e SUS. Imagina que legal, a gente, realmente, poder prestigiar o que é construído coletivamente! Ver, rever, aprender, questionar, construir…
Enquanto aguardo, me pergunto, quem sou eu para “pedir” alguma coisa? Em Santa Maria acontecem coisas estranhas, sempre assim, nos detalhes…
Link do 1º Seminário Alusivo ao Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua disponível no YouTube
Link da divulgação da atividade no Site da Prefeitura