Paralelo 29

Temas para um debate cordial

Foto: Agência Brasil, Arquivo

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – Escritor

Eu adoro debates, acompanho sempre que posso, mas gosto dos encontros acalorados. Trocas acirradas de ideias e farpas como complemento. Gosto das tiradas espirituosas. Brizola era um exímio debatedor com intervenções bem-humoradas. E isso levanta a plateia.

O participante tem que colocar o adversário em contradição. Resgatar suas atitudes passadas e compará-las com o presente. É assim que funciona. No debate da Band teve contrapontos acirrados, mas faltou o lance espirituoso, o improviso da jogada genial. Saudades do velho caudilho.

A turma que almeja a presidência, governo dos estados e Senado será chamada a expor suas propostas e suas visões de mundo.

E isso é bom para a democracia.

E nós, os eleitores, estaremos lá tentando identificar o cara que vai fazer a política com decência. E, no Brasil de hoje, respeitando a liturgia do cargo, como diria Ulisses Guimaraes.

Mas eu ando cansado de assistir a mesmice de sempre das últimas eleições. Os encontros – que deveriam ser algo trova de martelo – viraram debates para ataques pessoais, falar do mesmo e promessas do paraíso por salvadores da pátria.

Os assuntos: saúde, educação, segurança, infraestrutura, política econômica etc. São temas importantes, mas já sabemos o que dirão. O discurso está na ponta da língua. A cartilha está pronta.

Os temas deveriam ter caráter subjetivo. É a tal história: a gente sabe muito de uma pessoa vendo como ela trata o garçom, o porteiro ou o cachorrinho de rua.

Um debate eminentemente de ideias, no campo da política. E surpreendente com a subjetividade.

Vamos debater ideologia. O que os debatedores teriam a dizer sobre esse tema no que tange as coligações, apoios, acordos. A ideologia é a mesma de quarenta anos atrás?

Vamos debater corrupção. Seria possível fazer um governo sem corrupção? Qual seria a atitude do candidato diante de um volumoso desvio de verbas?

Vamos debater democracia. A democracia brasileira corre perigo? Como é possível alguém ser um ferrenho democrata no Brasil e apoiar regimes de exceção?

Vamos debater ditadura. Uma breve avaliação sobre o golpe de 64 no país e, aliada a isso, sobre ditaduras passadas e presentes na América Latina.

Vamos debater racismo. Existe racismo no Brasil? Qual a sua opinião sobre a frase “Não basta ser contra o racismo, tem que ser antirracista”?

Vamos debater homofobia. O senhor indicaria um ministro gay?

Vamos debater desigualdade social. O senhor pretende implantar o imposto sobre grandes fortunas? O senhor já pensou em taxar os ganhos na bolsa de valores durante a pandemia quando a maioria da população estava sem emprego e sem dinheiro?

Vamos debater a participação da mulher. O senhor garantiria paridade de gênero na composição de seu ministério?

Vamos debater feminicídio? Qual a política para diminuir o assassinato de mulheres? Qual a sua opinião sobre homem que – verbal ou fisicamente – bate em mulheres? [Perguntinha um tanto banal, mas espinhenta].

Vamos debater sobre privilégios. Qual a sua opinião sobre os penduricalhos nos salários de deputados e senadores? Qual a sua opinião sobre o custo do Judiciário? Um dos mais caros e morosos do planeta.

Qual a sua opinião sobre o salário do presidente? Ele não paga aluguel, comida, transporte, água, luz, segurança e ainda ganha uma razoável remuneração. O presidente da república precisa receber salário?

E por fim. Pediria um breve comentário sobre o último livro que o candidato leu ou está lendo.

Conforme as respostas que o candidato der, eu saberei como ele tratará a saúde, educação, infraestrutura, cultura e economia etc…

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