ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – Escritor
Participei de uma laive em que deveríamos responder a seguinte pergunta: e se os Farrapos tivessem vencido?
Alguns historiadores defendem a tese de que não perdemos a guerra. Para outros os gaúchos comemoram como se tivessem vencido. O certo é que esta discussão vai longe.
Mas a pergunta é bem clara. Parte do pressuposto que havia uma derrota. E se tivéssemos vencido? A esta pergunta formulei minhas elucubrações. Uma futurologia do passado.
A primeira situação que vejo é a de que Sepé Tiaraju seria o nosso Mártir da Independência. Seria o nosso Tiradentes. O santo padroeiro de toda a nação.
Também acredito que o território seria bem diferente. Um acordo entre os mandantes, comandantes e contrabandistas faria do Rio Grande do Sul, Uruguai e Santa Catarina a denominada primeira República dos Farrapos.
Coloquei Santa Catarina por dois motivos: o primeiro é que nós não abriríamos mão de um litoral exuberante para nossos veraneios e devaneios. E Anita – a Garibaldi – estaria de acordo com a ideia. O outro motivo coloco mais abaixo.
Se tivéssemos vencido, Bento Gonçalves seria aclamado nosso primeiro e perpétuo presidente. Mas o perpétuo durou pouco e Netto não quis sucedê-lo.
Assim, tentou manter-se na presidência e foi deposto por um Charrua, chamando Calderón, que ficou no comando até meados da década de 90, quando foi degolado por Adão Latorre.
Aí entram na história o Júlio, Borges e Assis, e a coisa mais ou menos se repete.
Nesse momento consolida-se o nome República do Rio Grande do Sul. E a capital seria Restinga Seca contando hoje com mais de 999 mil habitantes. Por que Restinga Seca? Não tenho a mínima ideia, mas nada a ver com Antonio Meneghetti.
Este imenso torrão teria como presidentes: Vargas, Olívio Dutra e Pepe Mujica. Leonel Brizola também seria aclamado presidente e, possivelmente, teria recebido um Nobel da paz ou da educação.
Se os Farrapos tivessem vencido nós teríamos toda a obra de Mario Benedetti, Horacio Quiroga e Eduardo Galeano disponíveis nas nossas bibliotecas. Seriamos conterrâneos de Alfredo Zitarrosa, Ana Prada, Los Olimareños e Bajofondo. É mole ou quer mais?
Fico só imaginando como seriam as nossas seleções de futebol. Seleção Farroupilha de Futebol.
Teríamos um goleiro tipo Mazurkiewicz e craques na estirpe de Luiz Suarez, Cavani, Hugo de Leon, Ancheta, Rubem Paz, Obdulio Varela e Ghiggia.
Todos eles acompanhados de Renato, Eurico Lara, Tesourinha, Carpegiani, Caçapava, Falcão e Valdomiro. Aqui vem o segundo motivo pelo qual Santa Catarina faria parte desta república no caso de vitória dos Farrapos. Eu preciso de Falcão e Valdomiro nesta seleção. Bem entendido?
Se os Farrapos tivessem vencido, nós poderíamos sofrer outros golpes e crises políticas, mas estaríamos livres do golpe de 64 e não seríamos atormentados pelo fantasma da Copa do Mundo de 50, isso seria coisa para os brasileiros.
Enfim, eu não saberia dizer qual o tamanho dos desfiles e festejos farroupilhas, mas lembremos que seriam desfiles e festejos de vencedores.
Não imagino nada menos do que dois meses acampados na orla do Guaíba ou na orla do Vacacaí em Restinga Seca. O pôr do sol do Passo das Tunas seria aclamado como o mais bonito do planeta.
Então, e se os Farrapos tivessem vencido?