Paralelo 29

E se os Farrapos tivessem vencido?

Obra de Guilherme Litran, Carga de cavalaria Farroupilha, acervo do Museu Júlio de Castilhos

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – Escritor

Participei de uma laive em que deveríamos responder a seguinte pergunta: e se os Farrapos tivessem vencido?

Alguns historiadores defendem a tese de que não perdemos a guerra. Para outros os gaúchos comemoram como se tivessem vencido. O certo é que esta discussão vai longe.

Mas a pergunta é bem clara. Parte do pressuposto que havia uma derrota. E se tivéssemos vencido? A esta pergunta formulei minhas elucubrações. Uma futurologia do passado.

A primeira situação que vejo é a de que Sepé Tiaraju seria o nosso Mártir da Independência. Seria o nosso Tiradentes. O santo padroeiro de toda a nação.  

Também acredito que o território seria bem diferente. Um acordo entre os mandantes, comandantes e contrabandistas faria do Rio Grande do Sul, Uruguai e Santa Catarina a denominada primeira República dos Farrapos.

Coloquei Santa Catarina por dois motivos: o primeiro é que nós não abriríamos mão de um litoral exuberante para nossos veraneios e devaneios. E Anita – a Garibaldi – estaria de acordo com a ideia. O outro motivo coloco mais abaixo.

Se tivéssemos vencido, Bento Gonçalves seria aclamado nosso primeiro e perpétuo presidente. Mas o perpétuo durou pouco e Netto não quis sucedê-lo.

Assim, tentou manter-se na presidência e foi deposto por um Charrua, chamando Calderón, que ficou no comando até meados da década de 90, quando foi degolado por Adão Latorre.

Aí entram na história o Júlio, Borges e Assis, e a coisa mais ou menos se repete.

Nesse momento consolida-se o nome República do Rio Grande do Sul. E a capital seria Restinga Seca contando hoje com mais de 999 mil habitantes. Por que Restinga Seca?  Não tenho a mínima ideia, mas nada a ver com Antonio Meneghetti.

Este imenso torrão teria como presidentes: Vargas, Olívio Dutra e Pepe Mujica. Leonel Brizola também seria aclamado presidente e, possivelmente, teria recebido um Nobel da paz ou da educação.

Se os Farrapos tivessem vencido nós teríamos toda a obra de Mario Benedetti, Horacio Quiroga e Eduardo Galeano disponíveis nas nossas bibliotecas. Seriamos conterrâneos de Alfredo Zitarrosa, Ana Prada, Los Olimareños e Bajofondo. É mole ou quer mais?

Fico só imaginando como seriam as nossas seleções de futebol. Seleção Farroupilha de Futebol.

Teríamos um goleiro tipo Mazurkiewicz e craques na estirpe de Luiz Suarez, Cavani, Hugo de Leon, Ancheta, Rubem Paz, Obdulio Varela e Ghiggia.

Todos eles acompanhados de Renato, Eurico Lara, Tesourinha, Carpegiani, Caçapava, Falcão e Valdomiro. Aqui vem o segundo motivo pelo qual Santa Catarina faria parte desta república no caso de vitória dos Farrapos. Eu preciso de Falcão e Valdomiro nesta seleção. Bem entendido?

Se os Farrapos tivessem vencido, nós poderíamos sofrer outros golpes e crises políticas, mas estaríamos livres do golpe de 64 e não seríamos atormentados pelo fantasma da Copa do Mundo de 50, isso seria coisa para os brasileiros.

Enfim, eu não saberia dizer qual o tamanho dos desfiles e festejos farroupilhas, mas lembremos que seriam desfiles e festejos de vencedores.

Não imagino nada menos do que dois meses acampados na orla do Guaíba ou na orla do Vacacaí em Restinga Seca. O pôr do sol do Passo das Tunas seria aclamado como o mais bonito do planeta. 

Então, e se os Farrapos tivessem vencido?

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