Paralelo 29

Manifestantes bolsonaristas dificultaram combate ao fogo, diz Corpo de Bombeiros

Foto: Band TV, reprodução

Bombeiros que tentavam apagar as chamas em veículos incendiados durante tumulto na área central de Brasília, na noite desta segunda-feira (12), também foram alvo dos ataques dos manifestantes apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que criticam a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Segundo o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, o grupo que tomou as ruas da cidade, bloqueando o trânsito e incendiando ao menos oito veículos, incluindo ônibus, lançou pedras e outros objetos contra ao menos três viaturas da corporação no momento em que os militares faziam seu trabalho, atrapalhando o combate ao fogo.

“A corporação ficou muito limitada em sua área de atuação, pois, em razão da violência da manifestação, o perigo às guarnições de bombeiros era real”, informou a corporação, em nota. Só o Corpo de Bombeiros mobilizou 18 viaturas e 63 pessoas para atender às várias ocorrências.

Homem desmaiou na confusão

Ainda de acordo com a corporação, só uma pessoa precisou de atendimento médico: um homem de 67 anos, cujo nome não foi divulgado desmaiou, durante a confusão.

Atendido primeiramente pelos bombeiros, ele foi encaminhado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA 24h) de São Sebastião, região administrativa do Distrito Federal, reclamando de ter inalado gás lacrimogêneo e de estar sentindo dor de cabeça.

Segundo o Corpo de Bombeiros, quatro ônibus e quatro carros foram incendiados em um raio de 1 quilômetro, entre o início da Asa Norte e o começo da Asa Sul, no centro da capital federal, a apenas 4 quilômetros da Praça dos Três Poderes.

Manifestantes são contra eleição de Lula

A confusão começou depois que parte dos manifestantes que estão acampados em frente ao Quartel General do Exército há mais de um mês, protestando contra o resultado das eleições presidenciais, tentaram invadir a sede da Polícia Federal, na Asa Norte, no início da noite de ontem.

O catalisador dos atos violentos teria sido a prisão do indígena José Acácio Serere Xavante, decretada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Acácio, um dos manifestantes acampados diante do QG do Exército, foi detido na tarde dessa segunda-feira.

Ex-candidato à prefeitura de Campinápolis (MT), ele se apresenta como uma das lideranças da Terra Indígena Parabubure e, em vídeos compartilhados pelas redes sociais, questiona o processo eleitoral e a vitória de Lula na eleição presidencial. O petista foi diplomado na segunda pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mesmo dia em que ocorreram as manifestações.

Ninguém foi preso

A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), Moraes determinou a detenção de Acácio por suspeita de crime de ameaça, perseguição e ataques ao estado democrático de direito.

Contido pela Polícia Militar, o grupo que pedia a liberação de Acácio tomou as ruas da área central, bloqueando o trânsito e incendiando veículos, incluindo ônibus – um deles estacionado em frente ao prédio da PF, no Setor Comercial Norte.

Para conter a baderna, policiais militares usaram bombas de efeito moral e gás pimenta, mas não prenderam ninguém.

Governo do DF fala sobre episódio

Em nota divulgada nesta terça-feira (13), a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal informou que ninguém foi detido porque as forças de segurança agiram para dispersar a manifestação, procurando “reduzir danos e evitar uma escalada ainda maior dos ânimos”. No entanto, nenhum vândalo foi preso pelas forças de segurança.

A secretaria assegurou, contudo, que a Polícia Civil está tentando identificar os responsáveis pelo quebra-quebra para responsabilizá-los. Nesta terça-feira , o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), classificou como “lamentáveis” os fatos desta segunda-feira.

Em sua conta pessoal no Twitter, Ibaneis escreveu que as forças policiais (criticadas por não terem efetuado nenhuma prisão em flagrante) agiram com rapidez e da maneira mais adequada possível.

“Junto do secretário de Segurança do Distrito Federal, acompanhei todas as ações e orientei que todos, devidamente identificados, que participaram desse ato de vandalismo sejam punidos conforme prevê a lei”, acrescentou o governador, assegurando que esteve em contato com o Ministério da Justiça e Segurança Pública e com o governo de transição durante todo o tempo.

Futuro governo se manifesta

Os atos de vandalismo ocorreram faltando 20 dias para a posse de Lula e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, ambos diplomados na segunda, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Antes mesmo das forças de segurança pública conseguirem pôr fim ao tumulto, o futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, o senador eleito Flávio Dino, se reuniu com o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Júlio Danilo. Após a reunião, os dois deram declarações a jornalistas. Dino disse que alguns manifestantes confundem liberdade de expressão com direito de cometer crimes.

“Há pessoas que, infelizmente, desejam o caos antidemocrático e ilegal? Sim, há. Só que essas pessoas não venceram e não vencerão amanhã. Este é o sentido principal da nossa mensagem: tranquilidade. Temos plena confiança nas garantias do governo do Distrito Federal”, afirmou Dino.

Acampamento no QG do Exército

Já Danilo confirmou que ao menos parte das pessoas envolvidas na confusão participa do acampamento em frente ao QG do Exército.

“A gente não pode garantir que são todos porque alguns podem inclusive residir em outros locais, mas parte realmente estava lá no QG, lá no acampamento, e participou desses atos. Quem for identificado será responsabilizado”, assegurou o secretário distrital.

Assim que os primeiros vídeos começaram a circular pelas redes sociais, senadores usaram seus perfis para repudiar os atos de vandalismo causados por um grupo de manifestantes, na área central de Brasília, na noite desta segunda-feira (12).

Vandalismo repercute no Senado

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSDB), classificou como “absurdos os atos de vandalismo” e pediu apoio das forças públicas para controlar a situação. Outros senadores classificaram a ação como “ato terrorista” e pediram que os responsáveis sejam identificados e responsabilizados. Parlamentares governistas, no entanto, disseram que não se pode ter certeza sobre a autoria dos atos.

“A depredação de bens públicos e privados e o bloqueio de vias só servem para acirrar o cenário de intolerância que impregnou parte da campanha eleitoral que se encerrou. As forças públicas de segurança devem agir para reprimir a violência injustificada, com o intuito de restabelecer a ordem e a tranquilidade de que todos nós precisamos para levar o país adiante”, afirmou Pacheco. 

Carros e ônibus queimados

Um grupo de manifestantes chegou a queimar carros e ônibus, e também tentou invadir a sede da Polícia Federal em Brasília após a prisão do líder indígena José Acácio Serere Xavante que apoia Bolsonaro.

Conforme descreveu a senadora Leila Barros (PDT-DF), “vândalos vestidos de verde e amarelo promovem cenas de terror no centro de Brasília. Eles tentaram invadir a sede da Polícia Federal, quebraram carros e queimaram um ônibus”. Ela também ressaltou que “é preciso identificar e punir os criminosos”.

Vários senadores afirmaram que esses atos foram mais um ataque contra a democracia brasileira. “São inaceitáveis os atos antidemocráticos que estão ocorrendo em Brasília. É preciso identificar e punir exemplarmente os criminosos!”, protestou o senador Fabiano Contarato (PT-ES). 

Os senadores Jean Paul Prates (PT-RN) e Randolfe Rodrigues (Rede-AP) reforçaram as cobranças por punições dos participantes dos atos desta segunda.

“Vamos peticionar ao STF, no inquérito dos atos antidemocráticos, pedindo a investigação dos que financiaram e apoiaram os atos criminosos desta segunda-feira. Eles tentam atacar a nossa democracia, mas as nossas instituições são maiores, o Brasil é maior, o povo é maior!”, declarou Randolfe. 

Por sua vez, o senador Alvaro Dias (Podemos-PR) lamentou os ataques e os comparou a práticas características de sistemas anarquistas. 

“Vandalismo! Cinco ônibus queimados e carros destruídos em frente à Polícia Federal em Brasília. Lamentável anarquia no dia da diplomação do presidente eleito. Houve tentativa de invasão da sede da Polícia Federal. Os invasores foram rechaçados pelo policiamento que fez uso de balas de borracha”. 

Na avaliação da senadora Soraya Thronicke (União-MS), os manifestantes “estão sendo usados” para praticar crimes contra as instituições e contra a democracia. Ela alertou os manifestantes sobre as consequências dos atos. 

“A Lei 14.197, de 2021, sancionada por Bolsonaro, trata dos crimes contra o Estado democrático de direito. Consulte sempre um(a) advogado(a) antes de fazer besteira! A democracia aceita tudo, menos que atentem contra ela. Vocês estão sendo usados, e não é para o bem geral da nação!”.

O senador Telmário Mota (Pros-RR) criticou a postura do governo federal frente à situação. Para ele, o Executivo Federal “fechou os olhos para a desordem”.

Telmário disse que “ontem [segunda-feira], aqui em Brasília, tive a sensação de que os comandantes militares estão dando guarida nas áreas militares para bandidos, criminosos, praticarem vandalismo contra bens públicos e privados, tudo em nome da insatisfação eleitoral. O governo federal fechou os olhos para a desordem”. 

Autoria dos ataques

Já o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), escreveu que “manifestantes do PT chegam a Brasilia ainda que em menor número para diplomação. Na mesma noite atos de guerrilha e quebra quebra por pessoas encapuzadas de preto, foice e enxada na mão… ninguém preso. E o problema é a camisa do Brasil! A esquerda nunca surpreende. Pura narrativa”.

Também questionando a autoria dos ataques, o senador Marcos Rogério (PL-RO), considerou precipitada a atribuição de autoria a “bolsonaristas radicais”. Para o parlamentar, “há indícios de que os atos de violência tenham sido praticados por radicais da esquerda, infiltrados. Não nos esqueçamos as manifestações da direita sempre foram pacíficas”.

(Com informações da Agência Brasil e da Agência Senado)

Compartilhe esta postagem

Facebook
WhatsApp
Telegram
Twitter
LinkedIn