O Tribunal do Júri condenou, na noite desta quarta-feira (18), a ré Alexandra Dougokenski a 30 anos de prisão pela morte do filho, Rafael Mateus Winques, em 15 de maio de 2020, na cidade gaúcha de Planalto. Os jurados condenaram a mãe de Rafael por homicídio qualificado com todas as qualificadoras apontadas na denúncia do Ministério Público Estadual.
A juíza do caso aplicou uma pena total de 30 anos e 2 meses de prisão, em regime fechado, pelos crimes de homicídio, ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
O júri, que começou na segunda-feira (16), teve momentos de muito bate-boca e tensão entre o advogado de Alexandra, Jean Severo, e a acusação. A sessão foi interrompida várias vezes para que os ânimos se acalmassem.
Assistente de acusação, o advogado de Santa Maria Daniel Tonetto, que representa o pai de Rafael, Rodrigo Winques, disse, no júri, que Alexandra agiu com frieza.
“A acusada esperou que o coitadinho dormisse, pelos medicamentos que ela deu e o matou estrangulado. Pegou uma corda, arrastou aquela pobre criança, como se fosse um dejeto, e por 10 dias o manteve em uma caixa de papelão, como se fosse um saco de lixo”, disse Toneto.
“Enquanto toda a cidade procurava essa criança, Alexandra estava tomando chimarrão, sempre bem pintada”, prosseguiu o advogado criminalista.
RELEMBRE O CASO
O crime foi cometido no dia 15 de maio de 2020 na casa em que Alexandra morava com Rafael e outro filho. Além de homicídio doloso quadruplamente qualificado (motivo torpe, motivo fútil, asfixia, dissimulação e recurso que dificultou a defesa da vítima), ela também será julgada por outros três crimes: ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual.
Conforme o MPRS, nos dias que antecederam o homicídio, a ré passou a se sentir paulatinamente incomodada com as negativas do filho em acatar suas ordens, como diminuir o uso do celular e das horas de jogos online.
Ela acreditava que a desobediência colocaria à prova o domínio que precisava ter sobre os filhos. De acordo com a denúncia, temia, ainda, que esse comportamento do caçula pudesse incentivar o filho mais velho, de onde vinha a pensão que garantia seu sustento, a desobedecê-la. Foi este contexto que levou Alexandra a articular a morte de Rafael.
Para levar o plano adiante, retirou da casa de sua mãe comprimidos do medicamento diazepam e os deixou guardados até o momento oportuno para utilizá-los. Decidiu matar o filho na noite anterior ao crime, após perceber nova desobediência de Rafael e repreendê-lo, aos gritos, para que parasse de jogar.
Momentos antes, ela tinha realizado pesquisas na internet sobre uso de substâncias tóxicas para diminuir a resistência das vítimas, como “Boa Noite Cinderela” e colírios, e assistido a filmes em que o prazer sexual é alcançado por violência, asfixia e uso de máscaras.
COMO FOI O ASSASSINATO, SEGUNDO O MP
Entre as 23h do dia 14 de maio de 2020 e a 00h30min do dia 15 de maio de 2020, Alexandra fez com que Rafael tomasse dois comprimidos de diazepam. A ingestão foi comprovada por laudos periciais.
A denunciada esperou em seu quarto até que o medicamento fizesse efeito. Horas depois, ainda na madrugada de 15 de maio, verificando que a resistência da criança estava reduzida em razão do medicamento, e munida de uma corda, estrangulou o filho até que sufocasse.
“Após constatar que Rafael estava morto, Alexandra engendrou uma forma de ocultar o cadáver e despistar as suspeitas que pudessem recair sobre si. Para tanto, vestiu o corpo do filho, pegou seus chinelos e os óculos e decidiu levá-lo até a casa vizinha, onde sabia que existia um local propício à ocultação”, explica a promotora Michele Dumke Kufner.
“A mãe sabia que no local havia um tapume que encobriria o corpo. Ao deparar com uma caixa de papelão, depositou o corpo, configurando a ocultação de cadáver com três agravantes: para assegurar a impunidade do crime de homicídio, crime contra criança e contra descendentes”, diz.
OS CRIMES
Além do homicídio, o MPRS imputou à Alexandra o crime de falsidade ideológica, por inserir declaração falsa em documento público. A mãe, ao registrar boletim de ocorrência, mentiu à polícia dizendo que acordou e percebeu que Rafael não estava, que a cama estava desarrumada e que não sabia o que poderia ter “o motivado a sair de casa sem avisar ninguém”. Na verdade, neste momento, já sabia que Rafael estava morto. Disse, ainda, que Rafael levou duzentos reais em espécie.
A fraude processual, outro crime pelo qual foi denunciada, decorre do fato de Alexandra ter forjado uma marcação no calendário de casa. Ela circulou a data 14 de maio de 2020 e depois mandou mensagem à polícia afirmando que havia encontrado um calendário com uma marcação no último dia em que Rafael teria sido visto com vida.
Para o MPRS, Alexandra quis reforçar a falsa versão do desaparecimento, ludibriar a polícia, atrapalhar as investigações e afastar eventuais suspeitas que pudessem recair sobre si, tentando fazer com que a polícia acreditasse que Rafael havia fugido.
(Com informações do MPRS)