Paralelo 29

Emoção marca homenagens às 242 vítimas do incêndio na boate Kiss, que completa 10 anos

Foto: Ariéli Ziegler, SEC, PMSM

Programação, que começou na quarta-feira, segue até sábado em Santa Maria, com vigília, palestras e pedidos de justiça. Ainda não há data para novo júri

As homenagens às vítimas do incêndio da boate Kiss, que completa 10 anos nesta sexta-feira (27), começaram na quarta-feira (25) com uma colagem de frases nas proximidades da casa noturna.

Nesta quinta-feira (26), membros da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) e do coletivo Kiss: Que Não se Repita conversaram com moradores de Santa Maria, na Praça Saldanha Marinho, a pouco mais de uma quadra da Kiss, e farão uma vigília em frente ao prédio onde funcionava a boate.

No dia em que a tragédia completa dez anos, nesta sexta-feira, vários bares e casas noturnas de Santa Maria decidiram ficar com as portas fechadas ou sem música ao vivo em respeito à data.

Flávio Silva, Adherbal Ferreira e Gabriel Barros: ex-presidentes e atual presidente da AVTSM em evento na praça/Foto: Tomaz Silva, Agência Brasil

Paulo Carvalho, de 72 anos, é pai de Rafael, uma das vítimas no incêndio na Kiss. Ele diz que o filho tinha vindo a Santa Maria para visitar uns amigos. Então começou a receber ligações e ver notícias sobre o incêndio, mas não conseguia falar com Rafael. Ele recebeu a notícia da morte do filho quando já estava entrando no aeroporto.

 “E quando a gente estava no aeroporto, encaminhando já para pegar o voo, aí o pai na Natália e o amigo da Natália dizendo que já tinham achado e que tava lá”, conta Carvalho.

Relembrar essa história ao completar 10 anos é uma maneira de evitar que uma tragédia assim volte a ocorrer, diz Carvalho, que veio do Estado de São Paulo, onde mora, para as homenagens. 

“Já se criou uma melhor conscientização, mas é preciso avançar mais ainda. E não é com esquecimento que a gente vai conseguir avançar, pelo contrário, é só lembrando cada vez mais para cada vez mais ter mais consciência e mais receio”, disse.

Para a psicóloga Ariádini de Andrade, essa data é muito importante de ser lembrada. “Quando a gente pede isso para eles para superarem e segurem em frente dessa forma é pedir um silenciamento e impede que coletivamente a gente possa compreender que dores são essas e compreender qual nosso lugar diante da tragédia também. Porque isso afeta todos nós”, disse a psicóloga .

Na noite dessa quinta-feira, os familiares iniciaram uma vigília, às 22h, em frente do prédio da boate, na Rua dos Andradas. A ação deve se entender durante a madrugada até por volta das 2h30min, horário em que a tragédia aconteceu.

O incêndio na boate Kiss resultou na morte de 242 jovens no dia 27 de janeiro de 2013 em Santa Maria. O fogo foi provocado pela faísca de um artefato pirotécnico acionado por um integrante da banda Gurizada Fandangueira que atingiu o teto de espuma. As vítimas morreram em consequência da intoxicação pela fumaça da espuma e por queimaduras.

O caso continua sem que ninguém tenha sido responsabilizado. Após anulação do júri, que havia condenado quatro pessoas em dezembro de 2021, ainda não há uma data para novo julgamento.

AS CONDENAÇÕES DO JÚRI

  • Elissandro Callegaro Spohr, empresário e um dos sócios da boate – Pegou 22 anos e 6 meses de  prisão
  • Mauro Londero Hoffmann, empresário e um dos sócios da boate – Pegou 19 anos e 6 meses
  • Marcelo de Jesus dos Santos, integrante da Banda Gurizada Fandangueira – Pegou 18 anos
  • Luciano Bonilha Leão, integrante da Banda Gurizada Fandangeira – Pegou 18 ano

Caminhada e colagem

As homenagens às vítimas começaram na noite de quarta-feira, com uma caminhada silenciosa da Tenda da Vigília, que fica na Praça Saldanha Marinho, até o prédio da boate, na Andradas.

No caminho, familiares, sobreviventes, amigos de vítimas e voluntários colocaram cartazes na calçada, um deles questionando onde os santa-marienses estavam em 27 de janeiro de 2013.

Quando a caminha chegou em frente ao prédio da boate, a emoção tomou conta das pessoas que lá estavam. O sobrevivente Gabriel Rovadoschi Barros, psicólgolo e atual presidente da AVTSM, encerrou a primeira noite da programação com um apelo para que a tragédia não seja esquecida como forma de se evitar que fatos semelhantes aconteçam novamente.

Eventos prosseguem até sábado na cidade

A programação para marcar os 10 anos da tragédia prossegue nesta sexta-feira com uma série de atividades, entre elas culto ecumênico e palestras.

Entre os convidados está uma representante das mães de vítimas da boate Cromañon, que pegou em 30 de dezembro de 2004, em Buenos Aires, na Argentina, deixando 194 mortos. A tragédia provocou mudanças profundas no país.

Também participam da programação os jornalistas Marcelo Canellas, que se formou em Santa Maria e dirige a série documental Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria (Globoplay), e Daniela Arbex, de Minas Gerais, autora do livro Todo Dia a Mesma Noite: A História Não Contada da Boate Kiss, que inspirou a série de mesmo nome em exibição na Netflix.

CONFIRA A PROGRAMAÇÃO DE SEXTA-FEIRA (27) E SÁBADO (28)

Sexta-feira (27)
(todas as atividades do dia ocorrem na Praça Saldanha Marinho)

  • 10h – Abertura e Culto Ecumênico
  • 13h45min – Soltura dos Balões
  • 14h – Mães y Madres: Kiss e Cromañón com Nilda Gomez (Familias Por La Vida – Argentina) e Mães da AVTSM
  • 15h30min – O Caso Kiss: até quando a justiça vai servir à impunidade? com Tâmara Soares (advogada que representa a AVTSM no litígio internacional), Paulo Carvalho (pai do Rafaele diretor jurídico da AVTSM) e Pedro Barcellos Júnior (advogado que representa a AVTSM noprocesso penal)
  • 17h – Por que prevenção vale a pena? com Antonio Berto (Pesquisador chefe do Laboratório de Segurança ao fogo e a Explosões no Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT) e Rogério Lin (Superintendente da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT e membro da Associação Brasileira de Proteção Passiva Contra Incêndio – ABPP)
  • 19h – 10 anos do ‘‘Kiss: que não se repita” — Apresentação da Campanha ‘Tempo Perdido’
  • 20h30min – Por que contar essa história 10 anos depois? com Daniela Arbex (jornalista e
  • autora do livro Todo Dia A Mesma Noite: A História Não Contada da Boate Kiss) e Marcelo
  • Canellas (jornalista e diretor da série Boate Kiss: A Tragédia de Santa Maria)
  • 22h – Encerramento com Juliana Pires, Matheus Lopes e Beto Pires

Sábado (28)

  • 20h – Missa em homenagem aos 242 jovens, na Basílica Nossa Senhora Medianeira.

(Com informações de reportagem de  Gabriel Brum – Rádio Nacional – EBC e da Secretaria Extraordinária de Comunicação da Prefeitura de Santa Maria)

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