Paralelo 29

PARALELAS: Onde estão os monumentos de Santa Maria? Ciosp é chamado na Câmara de Vereadores

Detalhe da estátua do poeta Felippe D´Oliveira, que ficava na Praça Saldanha Marinho/Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29

Tubias Calil, do MDB, pediu a convocação de servidor público para explicar sumiço de estátuas que sumiram do Centro de Santa Maria

O superintendente do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) de Santa Maria, Sandro Nunes, irá à Câmara de Vereadores na terça-feira (13), às 16h, para falar sobre o sumiço de monumentos do Centro da cidade, entre eles o busto do poeta Felippe D´Oliveira.

A Câmara de Vereadores aprovou por unanimidade requerimento de Tubias Calil (MDB) para que Nunes fosse convocado para dar explicações sobre o cercamento eletrônico da cidade.

“Das 14 esculturas, nove sumiram”, justificou Tubias, referindo-se aos monumentos que ficavam na Praça Saldanha Marinho, no Centro de Santa Maria.

Além do busto de Felippe D´Oliveira, uma obra de arte produzida pelo artista plástico Victor Brecheret, um dos mais importantes representantes do modernismo no século passado, também sumiram os bustos do teatrólogo Lepoldo Fróes e do fundador da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Mariano da Rocha Filho, entre outros.

Em uma reunião realizada na semana passada, a executiva do MDB discutiu uma série de assuntos para orientar a ação da bancada na Câmara e entre eles estava o sumiço dos monumentos.

A postura do Legislativo Municipal tem sido muito tímida, para não dizer omissa, em relação ao patrimônio da cidade.

Não é de agora que há furtos e depredação de monumentos, como o próprio Paralelo 29 já noticiou. O problema é que só há manifestações de indignação depois que as coisas acontecem.

Lei de 1990 não é cumprida

Santa Maria tem uma lei municipal de 4 de setembro de 1990 que cria o setor de conservação e cadastramento de monumentos, de autoria do então vereador James Pizarro (PDT), hoje professor aposentado da UFSM.

O texto cita 36 monumentos existentes à época, incluindo o busto de Felippe D´Oliveira. Naquela época, o monumento em homenagem ao fundador da UFSM ainda não existia, mas se a lei estivesse sendo cumprida, certamente não teria desaparecido.

Além do cadastramento dos monumentos, a lei abre caminho para a preservação. A maioria dos monumentos da cidade estão pichados, sujos e cobertos por limo.

“Eu sabia que isso iria acontecer”, diz ex-vereador

Procurado pelo Paralelo 29, o ex-vereador James Pizarro, autor da Lei dos Monumentos, lamentou o furto e a destruição dos monumentos de Santa Maria. Ele disse que a lei teve justamente o objetivo de preservar a história local.

“Foi um projeto de lei visionário. Eu sabia que isso iria acontecer”, diz Pizarro, que, na época, percorreu as ruas e praças para mapear os monumentos existentes.

OS MONUMENTOS MAPEADOS NA ÉPOCA

Estátua de Marcelo Champagnat, na Praça Astrogildo de Azevedo (antiga Praça Roque Gonzales ou Praça do Hospital de Caridade)/Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29

Lista consta na justificativa do projeto de lei da década de 90 do então vereador James Pizarro:

  • Locomotiva em homenagem à Rede Ferroviária, conhecida como Maria Fumaça, instalada em outubro de 1968 no então Parque Ipiranga, na Avenida Presidente Vargas
  • Monumento em homenagem às mães, de1958, localizado na Praça Saldanha Marinho
  • Busto de Felipe d` Oliveira, inaugurado em 1935, na Praça Saldanha Marinho
  • Obelisco do Rotary Clube, inaugurado em 1971, na Avenida Presidente Vargas, esquina com a Avenida Ângelo Bolson
  • Obelisco do Lyons Clube Santa Maria, de 1971, na Praça Salgado Filho (Praça Estado de Israel), no Bairro Salgado Filho, na zona Norte
  • Obelisco (um livro) em homenagem a Allan Kardec, de 1971, localizado Avenida Presidente Vargas, em frente ao Lar Joaquina
  • Obelisco em homenagem ao Expedicionário Brasileiro, de 1945, Praça da República (atual Praça dos Bombeiros, no Bairro Bonfim)
  • Dois canhões em homenagem ao Regimento Mallet, de 1968, na Praça do. Mallet
  • Obelisco em homenagem ao Dr Xavier da Rocha, de 1940, remodelado em 1969, localizado na Praça Eduardo Trevisan, ex- Praça Cristóvão Colombo, também conhecida como Pracinha do Maneco, por ficar em frente ao Colégio Manoel Ribas
  • Monumento a Leopoldo Froes, localizado na Praça Saldanha Marinho
  • Busto de Serafim Valandro, de 1935, localizado na Praça Saldanha Marinho
  • Obelisco em homenagem à Sociedade União dos Caixeiros Viajantes do RS e ao Centenário de Santa Maria, inaugurado em 1958, na Praça Saldanha Marinho
  • Busto em homenagem ao Coronel Niederauer, inaugurado em 1922, na Avenida Rio Branco, esquina Venâncio Aires
  • Busto de Fontoura Ilha, de 1963, na Avenida Rio Branco entre as Ruas Venâncio Aires e Andradas
  • Obelisco da 1ª Escola de Santa Maria, inaugurado em 1938, na Avenida Rio Branco, entre as Ruas Venâncio Aires e Andradas
  • Monumento em homenagem aos 10 anos da UFSM, inaugurado em 1979, na Avenida Rio Branco, entre as Ruas Venâncio Aires e Andradas
  • Estátua em homenagem ao Padre Caetano Pagliuca, de 1965, na Avenida Rio Branco, entre as Ruas Venâncio Aires e Andradas
  • Obelisco da Carta Testamento de Getúlio Vargas, inaugurado em 1965, na Avenida Rio Branco, entre as Ruas Venâncio Aires e Andradas
  • Obelisco da Carta Geral do Brasil, Serviço de Nivelamento Geral, de 1922, na Avenida Rio Branco, entra as ruas Venâncio Aires e Andradas
  • Busto da Educadora Margarida Lopes Avenida Rio Branco, entre as ruas Andradas e Silva Jardim
  • Obelisco Comemorativo ao 50º Ano de Fundação da Cooperativa de Consumo dos Empregados da Viação Férrea do RS, de 1963, Avenida Rio Branco
  • Obelisco ao Povo Libanês, inaugurado em 1959, na Avenida Rio Branco
  • Busto em homenagem a Irineu Evangelista de Souza (Barão de Mauá), inaugurado em 1946,na Avenida Rio Branco
  • Obelisco em homenagem à Intentona Comunista, de 1935, Avenida Rio Branco, entre as Ruas Silva Jardim e Vale Machado
  • Obelisco em homenagem à Maçonaria de Santa Maria, inaugurado em 1958, na Avenida Rio Branco
  • Pedestal com o busto de Joaquim Pedro Salgado Filho, de 1953 (na época, estava depositado no Centro Cultural)
  • Homenagem ao Irmão Weibert, Educador Apóstolo, inaugurado em 1948, na Praça Roque Gonzales (atual Praça Dr Astrogildo de Azevedo, conhecida como Pracinha do Caridade)
  • Estátua em homenagem ao Dr. Astrogildo de Azevedo, inaugurada em 1967, na Praça Roque Gonzales (atual Praça Dr Astrogildo de Azevedo, conhecida como Pracinha do Caridade)
  • Homenagem ao Ferroviário Obelisco do Morro da Viação Férrea, feito por Flôres da Cunha, no Bairro Itararé, região Nordeste da cidade
  • Busto de Champagnat, de 1954, na época da lei instalado no Jardim do Colégio Santa Maria. Há uma estátua do padre Marcelino Champagnat, bem mais antiga, na Praça Roque Gonzales, atual Praça Dr Astrogildo de Azevedo (conhecida como Pracinha do Caridade)
  • Homenagem ao General Artigas, localizado na Praça Saldanha Marinho
  • Homenagem à Bíblia, localizado na Praça Saldanha Marinho
  • Homenagem ao Jubileu de Prata da 1ª Turma da Faculdade de Medicina de Santa Maria. localizado na Avenida Rio Branco, entre as ruas Venâncio Aires e Andradas
  • Monumento em Homenagem ao Padre das Cabras, localizado no Largo da Estação da Viação Férrea
  • Monumento à Brigada Militar do Estado, localizado no Trevo da Brigada Militar, no Bairro Nossa Senhora das Dores, região Nordeste da cidade
  • Monumento a Duque de Caxias, na Avenida Borges de Medeiros
Busto em homenagem a irmão Weibert, localizado na antiga Praça Roque Gonzales, atual Praça Astrogildo de Azevedo/Foto: José Mauro Batista, Paralelo 29

História apagada

Os monumentos, assim como as construções, ajudam a contar a histórica de uma cidade. Os monumentos são parte disso. E Santa Maria tem muitos deles.

Por mais que se possa questionar alguns desses personagens, se são mesmo merecedores de homenagens, os monumentos são bens públicos e fazem parte da riqueza local. Por isso mesmo, devem ser preservados e mantidos. É o que a Cidade Cultura não tem feito.

Obra de arte de valor inestimável

Busto do poeta Felippe D´Oliveira: obra de arte feita por um dos maiores artistas brasileiros do século passado desapareceu da Praça Saldanha Marinho/Foto: Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Ao longo dos anos, e o Paralelo 29 já denunciou essa situação. Estátuas, bustos, obeliscos, hermas e esculturas existentes nas praças e ruas da cidade, a maioria delas no Centro (Praça Saldanha Marinho e Avenida Rico Branco), estavam sujas, pichadas e depedradas.

As placas com o nome do monumento e outros dados, como data da inauguração, simplesmente sumiram. Depois, foram os próprios bustos que começam a desaparecer, culminando com o furto do busto do poeta Felippe D´Oliveira, uma obra de arte com a assinatura de Victor Brecheret, um dos maiores artistas brasileiros do século passado. Um bem público de valor inestimável.

Instalada há quase um século na Praça Saldanha Martinho, o busto do poeta foi furtado, possivelmente para ser vendido para algum sucateiro desmanchar e revendê-la como material reciclável.

Furtos e vandalismo não são recentes

Anos antes, já haviam sumido a Carta Testamento do presidente Getúlio Vargas (Avenida Rio Branco), o próprio busto de Getúlio (Avenida Presidente Vargas) e o obelisco da Praça Eduardo Trevisan, conhecida como Praça do Maneco, em frente ao Colégio Estadual Manoel Ribas. Todas no Centro.

De todas elas, a mais valiosa do ponto de vista artístico é o busto de Felippe D´Oliveira, tanto que a Prefeitura de Santa Maria criou uma campanha na qual oferece uma recompensa de R$ 5 mil para quem ajudar a localizar o paradeiro do monumento.

Responsabilidade compartilhada

É muito importante que o chefe do Ciosp, que também responde pela Guarda Municipal, compareça na Câmara de Vereadores para dar explicações. A comunidade merece uma satisfação.

Por outro lado, a responsabilidade pela história da cidade não é uma obrigação apenas do poder público. Este é, e deve, ser o principal guardião dos bens públicos municipais.

No entanto, os cidadãos também são responsáveis pela preservação dos patrimônio e pela história da cidade. Só que, para isso, é preciso uma campanha local eficiente de conscientização e, igualmente, a recuperação de prédios históricos abandonados.

É inadmissível que o Clube Caixeiral, um símbolo da cidade, esteja na situação em que está. Mais incompreensível ainda é o fato de um prédio público, que é a Casa de Cultura (antigo Fórum), estar há anos aguardando por uma reforma.

Vale lembrar aqui aquela famosa teoria da janelas quebradas. Ou seja, se, em um determinado local, alguém começar a quebrar janelas de prédios ou vidros de veículos e ninguém fizer nada, logo logo essa situação tomará dimensões desastrosas.

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