Do site Festival de Cinema de Gramado
Em cerimônia virtual realizada no Palácio dos Festivais, ocorreu, na noite de sábado (26), o anúncio e a entrega dos Kikitos do 48º Festival de Cinema de Gramado. Separados pela distância física, mas aproximados pela tecnologia e pela vontade de integrar a primeira edição multiplataforma, as equipes participaram por telão. Atentos e emocionados, ouviram e vibraram a cada revelação desta edição histórica.
O longa pernambucano “King Kong en Asunción”, de Camilo Cavalvante, conquistou três Kikitos, entre eles o de Melhor Filme do 48º Festival de Cinema de Gramado (confira os vencedores abaixo). Andrade Júnior, o protagonista que não chegou a ver a obra concluída porque faleceu em maio de 2019, foi reconhecido como Melhor Ator pela atuação do matador de aluguel que, depois de cometer o último assassinato na região desértica de Salar de Uyuni, esconde-se no interior da Bolívia e, em seguida, decide ir atrás da filha que nunca conheceu. A produção passou por três países e contou com profissionais de cinco.
“Estou muito surpreso. Eu acho que cinema e arte não são corrida de cavalo, que tem o melhor ou o pior. Todos os filmes que foram apresentados têm o seu valor. Sem a arte, a gente não sobrevive ao peso da vida. Seguimos com a vontade de construir um país e uma América Latina mais igual, mais justa e mais afetuosa… A gente está vivendo um momento surreal, de violência e de falta de tolerância do ser humano”, comentou o diretor Camilo, emocionado. O filme levou o Kikito ainda na categoria Melhor Trilha Musical, prêmio para Shaman Herrera, que divide a estatueta com Salloma Salomão, de “Todos os Mortos”.
“Todos os Mortos”, o longa de Caetano Gotardo e Marco Dutra, que aborda a história do Brasil a partir da perspectiva de pessoas escravizadas, venceu nas categorias de Melhor Atriz Coadjuvante, para Alaíde Costa, e Melhor Ator Coadjuvante, para Thomás Aquino. O consagrado cineasta Ruy Guerra levou o Kikito de Melhor Direção por “Aos Pedaços”. O filme levou ainda o prêmio de melhor fotografia para Pablo Baião, e melhor desenho de som, para Bernardo Uzeda. “Quero agradecer a coragem de dar uma premiação a um filme como ‘Aos Pedaços’ que foge a regras, é um filme que nem todo jurado teria coragem de premiar. À minha equipe, que me ajudou a descobrir o filme que eu queria fazer. Foi um filme em que precisei de muitos talentos, e tive esses talentos. Mas também não posso deixar de falar da escuridão em que estamos vivendo. Um governo que dizima as populações indígenas e quilombolas. Um governo racista, que promove uma avalanche de destruição. Obrigada ao Festival por abrir essa janela por onde respiramos um pouco de ar puro”, agradeceu Ruy Guerra.
Ganhador de Melhor Fotografia, Pablo Baião comentou: “É muito bonito ver o Festival de Cinema de Gramado se renovar. Eu vi todos os filmes, os filmes concorrentes são belíssimos. Há lindas fotografias e por isso sou mais honrado por ganhar esse prêmio. Muito obrigado por fazerem esse Festival. A gente vai continuar, o cinema vai viver. Vai sobreviver a esse governo que nos vê como inimigos”, finaliza Baião.
A portuguesa Isabel Zuaa conquistou o júri e foi eleita a melhor atriz pela atuação no longa. “Um Animal Amarelo”, tragicômica fábula tropical, como descreve o diretor Fernando Bragança. A história de um cineasta falido que mergulha em uma jornada pelo Brasil também é vencedora nas categorias Melhor Direção de Arte para Dina Salem Levy, e Melhor Roteiro para Felipe Bragança. Isabel recebeu a notícia de sua casa, em Portugal. Muito emocionada, teve tempo de agradecer e manifestar a admiração pelas atrizes que disputaram com ela o Kikito antes da família invadir a tela para um abraço coletivo.
“Me Chama que eu Vou”, o documentário sobre a vida do cantor Sidney Magal levou o prêmio de Melhor Montagem, Kikito que vai para Eduardo Gripa. O Prêmio Canal Brasil foi concedido para o curta Inabitável, de Luciana Souza, que recebe R$ 15 mil e o direito a exibição na programação do Canal.
Estrangeiros
“La Frontera”, de Davi Davi, é o Melhor Filme longa estrangeiro do 48º Festival de Cinema de Gramado. Assinando também o roteiro, o jovem cineasta que retrata o drama de famílias afetadas pelas crises de fronteira entre Colômbia e Venezuela levou o Kikito nas duas categorias.
Mostra gaúcha
O melhor longa-metragem gaúcho Portuñol, da diretora Thais Fernandes, fala sobre a intersecção de culturas. “Muito feliz por este reconhecimento, e quero parabenizar os colegas, agradecer a todas as pessoas que fizeram parte deste filme. Queríamos mostrar uma fronteira que muita gente não conhece, a mistura de cultura, mostrar a importância de conviver com as diferenças. É uma narrativa que fala da importância de conviver com as diferenças”, diz Thais.
Avaliação do novo formato
Desta vez, os espectadores puderam acompanhar os 51 filmes concorrentes, entre longas e curtas, pelas telas do Canal Brasil e pelo serviço de streaming do Canal. Rafael Carniel, presidente da Gramadotur, autarquia municipal responsável pela realização do Festival de Cinema de Gramado, afirmou que nunca considerou a possibilidade de não realizar o evento.
“Neste ano de pandemia, a gente manteve o Festival de Cinema de Gramado em respeito a uma indústria que gera R$ 25 bi de faturamento, quase 2% do PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro. É um mercado que, antes da pandemia, crescia em média 7%, até mais do que o turismo. São aproximadamente 13 mil empresas que geram em torno de 300 mil postos de trabalho. São cerca de 100 profissões ligadas à indústria do audiovisual. Mas mais do que isso eu pergunto: qual o valor da indústria que muito além de gerar números, toca a vida das pessoas? No contexto de pandemia ela tem formado opiniões, tem tirado o mundo da ignorância, interrompido a cegueira sobre a realidade do outro. Qualificado, emocionado, aliviado a dor das pessoas”, completou.
Os vencedores:
Longa-metragem Brasileiro – LMB
- Melhor Filme – King Kong en Asunción
- Melhor Direção – Ruy Guerra, por Aos Pedaços
- Melhor Ator – Andrade Júnior, por King Kong en Asunción
- Melhor Atriz – Isabél Zuaa, por Um Animal Amarelo
- Melhor Roteiro – Felipe Bragança, por Um Animal Amarelo
- Melhor Fotografia – Pablo Baião, por Aos Pedaços
- Melhor Montagem – Eduardo Gripa, por Me Chama Que Eu Vou
- Melhor Trilha Musical – Salloma Salomão, por Todos os Mortos e Shaman Herrera, por King Kong en Asunción
- Melhor Direção de Arte – Dina Salem Levy, por Um Animal Amarelo
- Melhor Atriz Coadjuvante – Alaíde Costa, por Todos os Mortos
- Melhor Ator Coadjuvante – Thomás Aquino, por Todos os Mortos
- Melhor Desenho de Som – Bernardo Uzeda, por Aos Pedaços
- Prêmio Especial do Júri: Elisa Lucinda, por Por que você não chora?
- Menção Honrosa do Júri: Higor Campagnaro, por Um Animal Amarelo
Longa-metragem Estrangeiro – LME
- Melhor Filme – La Frontera
- Melhor Direção – Mariana Viñoles, por El gran viage al país pequeño
- Melhor Ator – Anibal Ortiz, por Matar a un Muerto
- Melhor Atriz – Daylin Vega Moreno (Diana), Sheila Monterola (Chalis), por La Frontera
- Melhor Roteiro – David David, por La Frontera
- Melhor Fotografia – Nicolas Trovato, por El Silencio del Cazador
- Prêmio Especial do Júri: El Gran Viaje al País Pequeño
Longa-metragem Gaúcho – LMG
- Melhor Filme – Portuñol, de Thaís Fernandes
Curta-metragem Brasileiro – CMB
- Melhor Filme – O Barco e o Rio
- Melhor Direção – Bernardo Ale Abinader, por O Barco e o Rio
- Melhor Ator – Daniel Veiga, por Você tem olhos tristes
- Melhor Atriz – Luciana Souza, Inabitável
- Melhor Roteiro – Inabitável, Matheus Farias e Enock Carvalho
- Melhor Fotografia – O Barco e o Rio, para Valentina Ricardo
- Melhor Montagem – Você tem olhos tristes, para Ana Júlia Travia
- Melhor Trilha Musical – Atordoado, eu permaneço atento, para Hakaima Sadamitsu, M. Takara
- Melhor Direção de Arte – O Barco e o Rio, para Francisco Ricardo Lima Caetano
- Melhor Desenho de Som – Receita de Caranguejo, Isadora Torres e Vinicius Prado Martins
- Prêmio especial do júri: Preta Ferreira, por Receita de Caranguejo
Júri Popular
- Curta Brasileiro – O Barco e o Rio, de Bernardo Ale Abinader
- Longa Estrangeiro – El gran viaje al país pequeño, de Mariana Viñoles
- Longa Brasileiro – King Kong en Asunción, de Camilo Cavalcante
Júri da Crítica
- Curta Brasileiro – Inabitável
- Longa Estrangeiro – El Gran Viaje al País Pequeño
- Longa Brasileiro – Um animal amarelo