Paralelo 29

Podcast Estação 29: “Não sou eu o canalha”, diz Arigony, delegado da tragédia da Kiss

Foto: Reprodução, Estação 29

Às vésperas do novo júri da Kiss, Marcelo Arigony relembra sua atuação no inquérito e diz que o caso não irá se encerrar com o julgamento de fevereiro de 2024

Desde fevereiro deste ano no comando na Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DPHPP), o delegado Marcelo Mendes Arigony ainda enfrenta dissabores por conta de sua atuação à frente do inquérito que investigou a tragédia da boate Kiss, ocorrida em 27 de janeiro de 2013.

No podcast Estação 29 do site paralelo29.com.br, Arigony conversou com José Mauro Batista e Rodrigo Dias sobre sua trajetória profissional. O assunto Kiss, evidentemente, não ficou de fora.

Em mais de um momento, o delegado afirmou que ele “não é o canalha”, referindo-se aos fatos que contribuíram para a tragédia.

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Imagens que não saem da memória

O delegado que, à época do incêndio que matou 242 jovens e feriu outros 636, era responsável pela Delegacia Regional de Polícia, com sede em Santa Maria, recorda em detalhes da madrugada em que começaram a a aparecer dezenas de corpos empilhados na Rua dos Andradas, centro da cidade, onde funcionava a casa noturna que pegou fogo por causa de uma faísca de um artefato pirotécnico.

Acionado por um dos integrantes da Banda Gurizada Fandangueira, que animava uma festa universitária com centenas de jovens, o artefato disparou uma faísca que incendiou o teto de espuma. A fumaça tóxica logo se alastrou, assim como o pavor que tomou conta de quem estava na boate.

Já nas primeiras horas de investigação, a Polícia Civil, sob o comando de Arigony, pediu a prisão preventiva de quatro pessoas: dois sócios da boate, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr; e dois integrantes da banda, Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão.

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Inquérito criticado por responsabilizar gestores e políticos

Mas foi a conclusão do inquérito, dois meses depois da tragédia, que alçou o jovem delegado, então com 40 anos, à condição de algoz de autoridades e políticos.

Em seu relatório, Arigony indiciou criminalmente 16 pessoas e apontou outras, em um total de 28 pessoas como responsáveis diretas e indiretas pela maior tragédia do Rio Grande do Sul. O policial não poupou nem mesmo a maior autoridade de Santa Maria, na época, o prefeito Cezar Schirmer (MDB).

A tragédia da Kiss fez os olhos da imprensa mundial olharem para Santa Maria, e, obviamente, para o delegado responsável pelo caso.

No podcast, Arigony diz que ficou “sozinho” no final da investigação, revela perseguição de políticos e afirma que sua permanência como delegado regional tornou-se inviável.

“Nosso trabalho foi técnico. Apontamos pessoas com quem tínhamos relação”, diz, referindo-se aos “inimigos” que ganhou por conta de seu trabalho na condução das investigações.

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“Os pais precisam de uma resposta”

Às vésperas do novo júri dos quatro acusados pelo Ministério Público pela tragédia – o julgamento foi marcado para 26 de fevereiro de 2024, em Porto Alegre -, Arigony reflete:

“Justiça tardia é rematada injustiça, como dizia a professora Ada Pelligrini. Que tu eras há 10 anos atrás? Quem eu era? Quem estamos julgando? São os mesmos? Por outro lado, temos que dar uma resposta para esses pais”.

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Para Arigony, o caso deverá se arrastar ainda por mais tempo devido às possibilidades de realização de mais de um júri (cisão do processo) e de recursos.

O podcast também tratou de outros assuntos, como a violência em Santa Maria, os assassinatos, a atuação de facções e os golpes aplicados dentro das casas prisionais. O podcast Estação 29 tem produção da publicitária Alexa Oliari e pode ser acessado nas plataformas do Paralelo 29, no Youtube e no Spotify.

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