ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – Escritor
[*] Poema classificado para o 7° Candieiro da canção e da poesia de Uruguaiana 2023.
Um ventito soprou nas margens,
Do silêncio noturno das matas,
E a chimanga em lua de prata,
Um clarão de vida na paisagem.
O meu olhar despe a imagem,
Que vem na curva dos caminhos.
Dedilho acordes no pinho,
Sinto a tua flor na distância,
Aspiro lonjuras de estância,
No aconchego dos teus carinhos.
Vertentes nos olhares que alonga,
Um incerto destino estradeiro,
Foi-se ao léu o sonho posteiro,
Num choramingo de milonga.
Vivo em noites de ronda,
Pelos olhos verdes de luz,
Os eternos sonhos que conduz,
No galope de meu Picaço,
E o aconchego do abraço,
Nos versos que não compus.
Chimarreio um pensamento,
Com a Rosa dos olhos verdes,
Portas, janelas e paredes,
Fazem o meu confinamento,
Lá fora um dia cinzento,
Que encerra a minha cancela,
Meus desejos são as tramelas,
Do sorriso desta chirua,
Que dá forma ao clarão da lua,
E abre a pampa nos olhos dela.
O silêncio noturno da querência,
E a Rosa Chimanga povoa,
Meus olhares num véu de garoa,
Uma estampa da sua essência,
Traduz a minha existência,
Uma saudade que maltrata,
É um nó que não desata,
E sorvo em silêncio os mates,
Travo comigo um embate,
Que a minha vontade arrebata.
Num horizonte em desatino,
Com a prenda linda e guapa,
Desbravo as cercas do mapa,
Que embala o sonho teatino.
Assim sigo o meu destino,
Debaixo de um mar estrelado,
E vamos num chão colorado,
Com esta chinoca milongueira,
Que se enche de lua cheia,
Num sul de crepúsculo dourado.
Num trote de mil amores,
Vai buenacho este paisano,
Na dura lida dos anos,
Vencendo os corredores,
Redescobrindo os valores,
Num campo horas a fio,
Vou contente num assobio,
Com os olhos verdes da chimanga…
E os lábios cor de pitanga…
Preenchem todo o meu vazio!