Paralelo 29

Dia de Finados: santos populares atraem milhares de visitantes nos cemitérios

Ivi Pivetta Moro, do Tumúltulos, percorre cemitários para contar histórias/Foto: Reprodução

Conheça alguns mortos com fama de milagreiros cujas sepulturas são bastante visitadas em Santa Maria, no RS e no Brasil

O Dia de Finados, 2 de novembro, é uma data em que familiares vão aos cemitérios para homenagear seus entes queridos. Também nesse dia, milhares de pessoas visitam sepulturas de pessoas consideradas milagreiras. São os chamados santos populares, que a própria população elegeu.

Nesses locais há muitas velas acesas, flores e placas com agradecimento por supostas graças alcançadas. Em Santa Maria, dois túmulos são bastante visitados no Cemitério Ecumênico Municipal. O mais antigo é o jazigo de Mariazinha Penna, que morreu de câncer na primeira metade do século passado.

Mais recentemente, o túmulo do menino Bernardo Uglione Boldrini, assassinado pela madrasta em crime que teve a participação do pai, também passou a ser bastante visitado. No local, além de velas, flores e placas de agradecimento, são vistos brinquedos.

Ainda em Santa Maria, conforme o perfil Tumúltulos, criado pela designer Ivi Pivetta Viero, há outros casos que chamam a atenção, conforme ela explicou no Podcast Estação 29.

A impressionante história do Crime da Mala

Afora a questão dos santos populares, há muitas histórias curiosas e interessantes que Ivi recolheu nos cemitérios gaúchos, que ela tem visitado em busca de fatos históricos e pistorecos.

Um desses túmulos é o de Conceição, vítima do famoso Crime da Mala, que ocorreu na metade do século passado em Santa Maria. Conforme o canal Tumúltulos, Conceição chegou a ser considerada uma santa popular, porém, com o passar dos anos, é possível que a história dela tenha sido esquecida.

Ivi Pivetta Viero, criadora do canal Tumúltulos, conta a história de Conceição, assassinada

ALGUNS MILAGREIROS FAMOSOS NO RIO GRANDE DO SUL

MARIAZINHA PENNA1933-1953 – SANTA MARIA

  • O jazigo mais visitado em Santa Maria é o de Maria Zaira Cordova Penna, conhecida como Mariazinha Penna, que fica no Cemitério Ecumênico Municipal
  • Mariazinha nasceu no antigo Distrito de Camobi, hoje Bairro Camobi, em Santa Maria, e morreu de câncer aos 20 anos
  • Aos 16 anos, Mariazinha bateu a coxa em uma cadeira, ao sair do banho. A contusão evoluiu. Mais tarde, foi diagnosticado um câncer no fêmur
  • Da casa onde morava, na Rua Floriano Peixoto, no Centro de Santa Maria, vizinhos ouviam os gritos de dor de Mariazinha. Há uma lenda urbana em torno de Mariazinha: o cheiro insuportável de seu quarto passou a exalar um cheiro de perfume depois de sua morte, em 11 de outubro de 1953
  • Mesmo sofrendo muito, Mariazinha rezava muito e acabou aceitando a doença, o que, para muitos, seria uma prova de sua santidade
  • Assim que morreu, começaram, em Santa Maria, peregrinações em seu túmulo. Até hoje, devotos e populares acendem velas e colocam placas agradecendo Mariazinha por graças alcançadas.
  • O processo de canonização para tornar Mariazinha Penna santa oficial da Igreja Católica chegou a ser cogitado, mas não foi adiante

MENINO BERNARDO

Tumúlio da família Uglione, onde Bernardo está sepultado, em Santa Maria/Foto: Reprodução
  • Vítima de um crime brutal aos 11 anos de idade, Bernardo Uglione Boldrini está sepultado no Cemitério Ecumênico Municipal, em Santa Maria, no mesmo jazigo em que estão sepultadas a mãe, Odilaine, e da avó, Jussara
  • Bernardo, que morava em Três Passos, foi assassinado em abril de 2014, com uma superdosagem de medicamentos ministrada pela madrasta dele, Graciele Ugulini, e enterrado em uma cova, no município vizinho de Frederico Westphalen
  • O pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini, foi condenado por participação no assassinato, assim como a madrasta e mais duas pessoas
  • O túmulo de Bernardo começou a ser bastante visitado. No local, há flores, velas, placas de agradecimento e brinquedos, como carrinhos e ursinho

RUSSO – 1930 – SANTIAGO

Túmulo de Russo, em Santiago/Foto: Reprodução
  • Há mais de uma versão sobre a história de Joseph Mirard, um russo que apareceu em Santiago no início dos anos 1930
  • Acusado de assassinato, ele foi perseguido pela polícia, que o prendeu em um milhar
  • Uma das versões sobre o destino do russo é que ele foi morto e seu corpo teria ficado exposto em praça pública, com a boca cheia de milho, para depois ser jogado em uma valsa rasa nos fundos do cemitério
  • Outros populares recolheram o corpo e o enterraram. A história de Russo até hoje divide historiadores de Santiago, mas o fato é que ele tornou-se santo popular reverenciado pela população, que acende velas e agradece por graças recebidas em seu túmulo

GUAPA1897-1924

  • Dona de um bordel, a uruguaia Maria Isabel Hornos nasceu em 15 de junho de 1897 e chegou a São Gabriel na década de 20 do século passado, onde montou uma pensão para mulher
  • O apelido Guapa surgiu do modo campeiro com que Maria Isabel se vestia, com botas, bombacha e chapéu de abala larga. Também consta que tocava gaita e era uma trovadora respeitada
  • Guapa foi assassinada na noite de 3 de março de 1924, quando se enfeitava para ir a um baile de Carnaval. Ela foi executada a tiros com tiros nas costas por um cabo do Exército
  • A versão recorrente é que o militar teria assassinado Guapa a mando de uma rica estancieira gabrielense cujo marido teria um romance com a uruguaia. O cabo nunca foi julgado, pois o crime teria ocorrido por “encomenda”
  • Confira a história no canal Tumúltulos

CIGANINHA 1944 – SÃO GABRIEL

  • Anita Cotischi chegou em São Gabriel em 1944, com ciganos que que montaram um acampamento na cidade. Logo, Anita ganhou a simpatia dos gabrielenses
  • A moça, no entanto, desapareceu. Quando populares foram procurar por ela, receberam a notícia de que ela estava muito doente
  • Anita, a Ciganinha, morreu de câncer em 8 de agosto de 1944 em uma das tendas do acampamento. Seu túmulo é um dos mais visitados de São Gabriel, segundo o perfil Tumúltulos

ALGUNS SANTOS POPULARES FAMOSOS NO BRASIL

MARIA LÚCIA VIEIRA (1961-1970) – BAURU (SP)

  • Torturada, estuprada e assassinada em uma casa abandonada, no Centro de Bauru, em novembro de 1970, aos 9 anos de idade, Mara Lúcia é considerada milagreira.
  • A menina desapareceu em 11 de novembro de 1970, quando foi vista pela última vez, supostamente na companhia de um homem.
  • Seu corpo foi encontrado em 15 de novembro do mesmo ano. Até hoje, o crime brutal não foi solucionado. Pessoas fazem promessas e agradecem por graças alcançadas no túmulo dela, que fica no Cemitério da Saúde, em Bauru

CRIOLANDO RODRIGUES DE LIMA (1904-1981) – JAÚ (SP)

  • O túmulo de Criolando Rodrigues de Lima é uma dos mais visitados no Cemitério Municipal Ana Paula de Rosa, na cidade de Jaú, no interior de São Paulo. Há um culto no entorno de Criolando seria clarividente. Em suas visões e premonições, segundo a crença popular, ele teria a capacidade de prever quando as pessoas morreriam. Costumava visitar casas de familiares de falecidos com um buquê de flor para consolá-los, o que o tornou conhecido como “Anjo da Morte”.
  • O curioso é que Criolando morreu em 7 de setembro de 1981, e foi sepultado em Santo André, onde morreu em consequência da tuberculose. O prefeito de Jaú, na época, conseguiu autorização da família para transladar os restos mortais de Criolando para a cidade de origem, onde ganhou nova sepultura. Assim, surgiu o culto a ele com pagamento de promessas

MARIA BUENO – 1860 CURITIBA (PR)

Túmulo de Maria Bueno, em Curitiba, atrai milhares de pessoas/Foto: Daniel Castellano, SMCS
  • Sepultada no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, em Curitiba, Maria Bueno atrai milhares de visitantes e pagadores de promessas. Maria Bueno nasceu em Morretes, em 1864 e, segundo historiadores locais, foi degolada por um pretendente na madrugada de 29 de janeiro de 1893. O assassino era um policial que se apaixonou por Maria, que era noiva e, por isso, o rejeitou.
  • A história de Maria Bueno virou tema de peças teatrais, livros, novelas e de estudos. De origem humilde, ela é descrita como uma uma mulher que não se submetia aos homens

MARIA POLENTA 1888-1959 – Curitiba (PR)

  • Falecida em 22 de 1959, Maria Trevisan Tortato era uma espécie de curandeira, que tratava até fraturas no Bairro de Água Verde, em Curitiba
  • Ganhou a alcunha de “Curadora de Ossos” e foi bastante homenageada, inclusive com um monumento e com nome de rua. Seu funeral foi um dos maiores em nível local, afirmam historiadores. Maria Polenta, que ganhou esse apelido devido à sua origem italiana, pois ela nasceu na Itália e veio para o Brasil em 1892

JOSÉ OSWALDO SCHIETTI – 1941-1950 – LONDRINA (PR)

  • José Oswaldo morreu aos 8 anos de idade, no colo do pai, em um acidente de automóvel. José Oswaldo viajava com a família, quando o carro em que ele estava capotou. O menino morreu a caminho do hospital
  • Durante anos, a história de José Oswaldo foi contada com outras versões, o que levou a família a procurar a imprensa para desmentir outras versões, como a de que ele havia sido atropelado no dia em que faria a primeira comunhão
  • A crença de que o menino seria milagreiro surgiu quando brotou um veio d´água no túmulo dele, que as pessoas consideram água benta. A família reformou o túmulo para consertar o vazamento, porém, mesmo assim, a população continuou a visitar a sepultura no cemitério São Pedro, que fica no Centro de Londrina


Compartilhe esta postagem

Facebook
WhatsApp
Telegram
Twitter
LinkedIn