JOAO EICHBAUM – ADVOGADO E ESCRITOR
Por que acontecem festas, foguetórios, comilanças, bebedeiras, abraços e beijos, após o solstício de verão quando, segundo o calendário gregoriano, começa um “novo ano”?
Esse calendário é assim chamado por ter sido criado pelo Papa Gregório XIII, através da bula “Inter gravíssimas”. Sua finalidade foi a de ajustar o ano civil ao ano solar. Esse é o tempo que a terra leva para dar uma volta ao redor do sol, que é conhecida como translação.
Então, o que se festeja é um fenômeno da natureza. Essa natureza, da qual somos produtos, nem sempre tem seus fenômenos explicados cientificamente. Mas, vários deles têm pelo menos sua existência e suas funções constatadas pela ciência.
Quando, porém, assim não era, quando o homem ainda não tinha atingido o nível de inteligência que hoje o privilegia, quando ele era um simples descendente de Adão ou de Noé, e não um contemporâneo de Einstein ou de Tim Berners-Lee, à falta de explicações se atribuía todo e qualquer fenômeno natural à vontade dos deuses. Por isso, havia deuses para todos os gostos e ocasiões, para todas as circunstâncias que não tivessem explicações em si mesmas.
O calendário romano, apesar de sua origem, tem marcas da mitologia pagã. Os meses iniciais são nele assinalados com nomes de deuses de Roma.
Janeiro é ligado ao deus Jano, a quem eram atribuídas visões do passado e do futuro; fevereiro é devido ao nome do deus Februus, divindade dedicada pelos romanos à purificação e à renovação; com o nome março é honrado o deus Marte, protetor dos campos e da colheita; maio representa honra a Maia, a deusa romana da primavera, cuja abertura ocorria no mês de abril, assim denominado por ter etimologia no verbo latino “aperire”. Junho tem origem no nome da deusa Juno, esposa de Júpiter. Ela era venerada como a divindade responsável pela fertilidade humana, representada na maternidade.
Como se vê, todos os fenômenos da natureza eram atribuídos a deuses. Mas a verdadeira deusa é ela, a natureza. E é por força dela que existimos.
Como não poderia deixar de ser, somos, como ela, sujeitos a humores, bons e maus, imprevisíveis, porque nossa mãe e deusa, não nos previne dos acasos. E são os acasos, a partir do grande acaso, o acasalamento eventual de óvulos e espermatozoides, que regem a nossa vida, através de uma engrenagem sem regras, nos destinando papéis na convivência social.
Pelos festejos, lágrimas, abraços, beijos, bebedeiras e comilanças que movem o povo, quando a terra termina sua maratona de 365 dias, 5 horas, 45 minutos e 46 segundos em torno do sol e, sem descanso, começa outra, é responsável a esperança.
Ela representa um latente e irreprimível desejo de que se realizem os bons fenômenos da natureza, conforme os atributos dos deuses, homenageados pelos primeiros meses do ano: purificação de propósitos, renovação da vida, alegrias primaveris, fertilidade da terra e das mulheres. A primeira fertilidade gera riquezas; a outra leva à recreação mais íntima, de que deus nenhum abriria mão.