Paralelo 29

Vitrine, propaganda capenga, paternidade assumida e vice na Capital

Coluna Giro do Paralelo
Arte: Diego Borges

Começou nesta sexta-feira (9), a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão. Com 10 minutos por bloco, os candidatos a prefeito de Santa Maria terão até 12 de novembro para convencer o eleitor a escolher seu projeto. Já os concorrentes a vereador, 348, de acordo com o sistema de divulgação de candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), terão só as inserções no intervalo das programações para se apresentar, somando 28 minutos diários.

Em um cenário atípico com uma grave pandemia em curso, o horário eleitoral será a grande vitrine das eleições de 2020. Se, em outros pleitos, a propaganda no rádio e na TV foram fundamentais, eu diria que, agora, ela será decisiva na escolha dos eleitos. Isso porque com as visitas limitadas e sem aglomerações, a propaganda veiculada em emissoras de rádio de massa e na TV aberta têm um alcance muito maior comparada às redes sociais, ambiente mais utilizado pelos candidatos desde o início oficial da campanha, 27 de setembro.  

Mas não basta só ter a vitrine, é preciso saber utilizá-la. Grande parte dos eleitores está decepcionada com a política e, agora, soma-se uma pandemia, a quarentena e a crise na economia. Como consequência, as pessoas tendem a estar com menos paciência. Portanto, o candidato que for objetivo, claro, realista e não apresentar promessas mirabolantes deve chamar a atenção dos eleitores. A conferir.

Primeiro dia de propaganda eleitoral é tumultuado e capengo

O primeiro dia do horário eleitoral gratuito começou tumultuado em Santa Maria. Com maior alcance de TV aberta, a RBS Santa Maria só veiculou, às 13h, os programas de três dos seis candidatos a prefeito.  Foram ao ar somente as propagandas de Jader Maretoli (Republicanos), de Luciano Guerra (PT) e de Sergio Cechin (Progressistas). As inserções dos concorrentes a vereador também não foram veiculadas.

Isso é inédito. Já ocorreu de programas de candidatos serem retirados do ar por não estarem adequados à legislação eleitoral, mas, no caso  de três majoritárias de uma só vez e mais as inserções de vereador, nunca havia acontecido.

Dos candidatos a prefeito, ficaram de fora Evandro de Barros Behr (Cidadania), Jorge Pozzobom (PSDB) e Marcelo Bisogno (PDT). As assessorias informaram que os programas foram entregues e alegam que o problema teria ocorrido com a plataforma utilizada pela RBS, que teria travado as propagandas e que algumas, inclusive, teriam ido parar em outras cidades.

As assessorias argumentam, ainda, que nas outras emissoras, os programas foram exibidos sem problemas, inclusive nas rádios. No espaço das majoritárias, foi transmitida a propaganda do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).  

Para substituir os programas dos candidatos que não foram ao ar, foram veiculadas propagandas da Justiça Eleitoral / Crédito: Reprodução

Procurada pelo site, a assessoria de imprensa do grupo RBS em Porto Alegre enviou a seguinte nota: “Em função do grande volume de candidatos e materiais de divulgação dos partidos nos primeiros dias de campanha eleitoral, houve problemas na entrega desses conteúdos em diversas emissoras de TV em todo o Brasil. Estamos trabalhando para regularizar a situação o mais breve possível e afirmamos que os partidos não terão prejuízo – serão feitas compensações na grade de programação.”

Independentemente do problema, o  fato é que as coligações que não puderam veicular seus programas sofreram um grande prejuízo em relação às demais. As coordenações estavam muito descontentes. E com razão.  

Duelo dos prefeituráveis da base e o primeiro cutuco

O prefeito Jorge Pozzobom e seu vice, Sergio Cechin (à esq.), costumavam cumprir agendas juntos até se tornarem adversários na campanha eleitoral /Crédito: João Alves, prefeitura de Santa Maria

O prefeito Jorge Pozzoobom (PSDB) e o seu atual vice, Sergio Cechin (Progressistas), são as duas candidaturas da base do governo e tendem a fazer um duelo ao longo da campanha eleitoral, principalmente, na propaganda eleitoral gratuita. Nas redes socais, está a todo vapor.  Para começar, os dois têm quase o mesmo tempo no horário eleitoral: Pozzobom tem 2 minutos e 43 segundos por bloco, e Cechin, 2 minutos e 41 segundos.

O primeiro programa de Cechin sinalizou que terá farpas (confira abaixo) a julgar por algumas frases ditas pelo candidato progressista ao se referir indiretamente ao governo de Pozzobom. Antes, ele relatou sua história e seu vínculo com a cidade, além de enumerar os motivos de se lançar candidato a prefeito. Alguém tem dúvida para quem eram direcionadas as declarações abaixo?

“Não posso ver Santa Maria ser governada pela vaidade e guiada pelo marketing.”

“Sobra propaganda, falta compromisso.”

Já o programa de Pozzobom nas emissoras de rádio procurou ressaltar o enfrentamento da pandemia, mostrar que é um prefeito que tem diálogo e toma decisões coletivas, além de veicular depoimentos de moradores de locais onde sua gestão fez obras. Mas, claro, esse foi só a primeira mostra. Tem muito mais programa pela frente.

Parece que o marqueteiro de Cechin errou a mão ao cutucar o agora ex-aliado já no primeiro dia de propaganda.  Se os dois candidatos partirem para essa levada, pode não cair bem aos olhos dos eleitores. É legítimo Pozzobom buscar a reeleição, bem como Cechin querer ser prefeito, mas ambos não podem esquecer que eram aliados até bem poucos dias e, portanto, têm responsabilidade tanto em relação ao bônus quanto ao ônus desta administração.

Segundinhos para aparecer

Com menos espaço no horário eleitoral, Evandro de Barros Behr (Cidadania) não teve muito tempo para se apresentar ao eleitor, junto com sua vice, Carla Kowalski (Cidadania). No programa de rádio, ele se limitou a dizer que “tem muito pouco tempo e muito a mostrar.” Ele, que integra a coligação “A Santa Maria que queremos, a cidade que merecermos” (Cidadania e PSC), terá de fazer malabarismo com seus 18 segundos por bloco.

Candidato Evandro de Barros Behr tem 18 segundos na propaganda eleitoral / Crédito:Legiane Stumpf

Centro com cara de campanha e as regras sanitárias

Quem passou pelo centro de Santa Maria nos últimos dias percebeu que o local está com cara de campanha. Há cabos eleitorais com bandeiras distribuindo santinhos e mesas móveis espalhadas, principalmente, nos arredores do Calçadão. E nem todo mundo está observando as regras de segurança sanitária, como praticar o distanciamento social e evitar as aglomerações.

Campanha eleitoral já começa a aparecer no centro de Santa Maria./Crédito: José Mauro Batista, Paralelo29

Por falar em regras, a Justiça Eleitoral de Santa Maria, por orientação do Ministério Público Eleitoral, divulgou, na noite de quinta-feira (8), uma norma com orientações sanitárias da Secretaria Estadual da Saúde sobre a campanha.  Entre elas, estão evitar aglomerações, o aumento do fluxo de pessoas, especialmente em ambientes fechados, e o contato físico. Além disso, orienta o distanciamento social de 1 metro nos casos de uso adequado de máscaras e de 2 metros para situações em que não for possível o uso da proteção, como em jantares e ambientes com consumo de comida.

Então, candidatos e cabos eleitores: respeitem as regras! Isso, certamente, será avaliado pelo eleitor na hora do voto.

Santa-mariense de vice na Capital

A santa-mariense Maria Luiza Oliveira Loose (PSB, foto abaixo), conhecida como Malu (foto), é candidata a vice na chapa encabeçada pela deputada estadual Juliana Brizola (PDT) na disputa à prefeitura de Porto Alegre.

Ela é formada em Pedagogia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), trabalha como professora e integra as direções estadual e nacional do seu partido.

Juliana e Malu integram a coligação “Porto, Alegre de novo”, que, além de PDT e PSB, é formada pela Rede.

 

Paternidade assumida

Candidato a vereador em Porto Alegre, o ex-prefeito de Santa Maria e ex-secretário de Segurança Pública Cezar Schirmer (MDB) postou em sua rede social um comentário sobre os frutos colhidos com a implantação do Programa de Incentivo ao Aparelhamento da Segurança Pública (Piseg), que reúne Estado e iniciativa privada para viabilizar investimentos na área. Foram arrecadados quase R$ 10 milhões por meio da compensação do ICMS de empresas. Os resultados foram anunciados na quinta-feira (8) pelo governador Eduardo Leite (PSDB) e pelo seu vice, Ranolfo Vieira (PTB), atual secretário de Segurança.

Schirmer, que ganhou visibilidade pelo trabalho na área no governo de José Ivo Sartori (MDB), lembrou na postagem sobre a paternidade da legislação e aproveitou para fazer uma ponte com sua campanha a vereador.

Candidato a vereador na Capital, Schirmer fez uma postagem sobre o resultado de programa criado na sua gestão como secretário da Segurança / Crédito: Reprodução Facebook

 “Quando criamos, em 2018, no governo Sartori, a Lei de Incentivo à Segurança, tínhamos a certeza do sucesso da medida para equipar nossas polícias. Hoje, o governo anuncia a destinação de mais R$ 9,7 milhões para os órgãos de segurança”, comenta  o ex-prefeito, em um trecho na postagem, prometendo fazer lei semelhante na Capital, caso seja eleito. Aliás, no primeiro dia de propaganda, sexta-feira (9), ele prometeu transformar  Porto Alegre na “capital mais segura do Brasil”.

A frase da semana

 Habituado a fazer frases de efeito, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) largou mais declaração de impacto durante pronunciamento no Palácio do Planalto na quarta-feira (7). Há tempos, o governo federal vem minando a Lava-Jato, a maior operação contra a corrupção no país, ao escolher para procurador-Geral da República, Augusto Haras, crítico da Lava-Jato, interferir na Polícia Federal e desmantelar as forças-tarefas que apuram as denúncias de corrupção.

Bolsonaro se disse orgulhoso de ter acabado com a Lava-Jato, justamente a grande vitrine de sua campanha, quando prometeu ser implacável contra a corrupção.

“É um orgulho, é uma satisfação que eu tenho, dizer a essa imprensa maravilhosa que eu não quero acabar com a Lava-Jato. Eu acabei com a Lava-Jato, porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação.”

As suas atitudes são muito diferentes do discurso da campanha. A Lava-Jato não duraria para sempre, agora os mecanismos de combate à corrupção têm de constantemente serem aperfeiçoados. A justificativa de Bolsonaro é de que não há mais corrupção no governo. Ele deveria fica alerta, já que se uniu ao Centrão, o mesmo bloco que estava com o PT e que tem muitos de seus membros bem enroscados com denúncias.

Durante pronunciamento no Palácio do Planalto, o presidente Bolsonaro se disse orgulhoso de acabar com a Lava-Jato /crédito: Marcelo Camargo, Agência Brasil

Nessas horas, o que pensa o eleitor que votou em Bolsonaro zo vê –lo mimando a Lava-Jato, ou então jantando na casa do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, trocando afagos, ou, ainda, recebendo elogios do senador Renan Calheiros (MDB), campeão de processos no STF, pelas declarações em relação à Lava-Jato?

Vamos combinar que não é prerrogativa só do presidente Bolsonaro chegar ao poder e mudar o discurso. Outros chefes do país engrossaram essa fila.

(Colaborou José Mauro Batista)

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