JOÃO EICHBAUM – ADVOGADO E ESCRITOR
O tema do celibato clerical já serviu como matéria para muitas obras, grandes romances como O Seminarista, de Bernardo Guimarães,
O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, como sublime poesia em As Pupilas do Senhor Reitor, de Júlio Diniz, e como afronta à Inquisição em O Corcunda de Nôtre Dame, de Victor Hugo.
Em jornais, a matéria muito se destacou nas páginas policiais. Nessa área, há um caso real, que rendeu trabalho de conclusão em Faculdade, transformado em livro, por obra de Luiz Vescio. “O Crime do Padre Sorio” ficou nos arquivos da história do Rio Grande do Sul como uma frustrada investigação policial.
O padre Sorio, vigário de Silveira Martins, então distrito de Santa Maria, combatia acerbamente a maçonaria, que possuía um núcleo muito forte naquela localidade.
Um dia ele foi encontrado deitado, gemendo sobre uma poça de sangue, à margem de uma estrada do interior daquele distrito. Tinha sido capado. O sangue escorria de seu saco escrotal destroçado.
Havendo ele se negado a denunciar seus agressores, o caso deu razão a conjecturas. A primeira suspeita recaiu sobre os maçons, que a recusaram, veementemente.
Então sobrou uma versão, bastante apimentada: ele teria abusado sexualmente de uma jovem, filha de agricultores, e a engravidara. Mas, o padre morreu, poucos dias depois de ferido, levando consigo, para a eternidade, o segredo.
Claro, o destroço das partes pudendas do padre emprestava maior subsistência à versão de abuso, sustentando a suspeita de que a vingança teria sido obra dos irmãos da moça violada, para que o sacerdote jamais tornasse a repetir o feito.
Coagida perante a família, a moça teria apontado o padre como autor. Essa versão preponderou em narrativas que atravessaram gerações.
Passados esses acontecimentos, durante muito tempo o tema da sexualidade clerical ficou à margem dos assuntos principais. De vez em quando, trazida por diz-que-diz, corria a notícia de que esse ou aquele padre havia “apostatado”, largando a batina para pegar mulher.
Até que começaram a estourar, mundo afora, casos de pedofilia atribuídos a padres. Muitos desses casos foram parar nos tribunais e a Igreja teve que abrir seus cofres para pagar indenizações às vítimas.
Atualmente a melhor obra nesse assunto é a do sociólogo italiano Marco Marzano. Após exaustiva pesquisa, inquirindo ex-padres, padres ainda no exercício sacerdotal e mulheres envolvidas sexualmente com padres, ele publicou “A Casta dos Castos”.
Segundo Marzano, a Igreja jamais abolirá o celibato, usado para inculcar nos fiéis a ideia de que padres são “homens superiores, privilegiados por uma graça divina que lhes garante a abstinência sexual”.
Em recente pronunciamento disse o Papa que “o prazer sexual é uma dádiva de Deus”. Assim, excluiu os padres dessa dádiva, mas deixou sem explicação os escândalos sexuais na Igreja…
Ninguém escapa às exigências da natureza, salvo casos de hipotireoidismo, que inibe a produção de hormônios. Mas para atender às urgências dos padres livres desse mal, conforme dados colhidos por Marzano, o que sempre esteve mais à mão foi o autoatendimento.