ALESSANDRA CAVALHEIRO – JORNALISTA
Quando me vi em um momento crítico da vida, descobri a meditação. Certamente, depois de ter vivenciado o milagre de ser mãe, foi o que de melhor me aconteceu na vida. Existe um senso comum de que meditar é esvaziar a mente de pensamentos. Doce ilusão.
Ainda mais nesses tempos de tanto apelo de uma infinidade de conteúdos que entram em nossas cabeças, sem ao menos percebermos. Já diziam os mestres: ‘A mente é uma macaca louca com o rabo pegando fogo’. Ensinamento básico.
A aventura interna e secreta da meditação começou quando recebi orientações de um lama do budismo tibetano e, desde então, só sei que devo seguir pelo território sem fim da mente, revestida de coragem para desbravar meu universo.
Tornamo-nos seres contemplativos e mais ’lentos’ porque entendemos que não, a correria do dia a dia não é obrigatória. Não precisamos correr. É melhor contemplar a beleza da vida. Eu acho isso muito sofisticado e revolucionário.
A meditação não é uma prática para curar as doenças psicológicas e psiquiátricas, não queira meditar para engatar um novo relacionamento ou para comprar uma casa ou um carro. Nem tente meditar se for para realizar qualquer desejo material ou mundano.
Demorei alguns anos para compreender que meditar é algo que nos leva a conquistar o que está além dos sentidos. Até mesmo do sexto sentido. É além. É mais profundo.
Durante seis anos de estudos sistemáticos no Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB), liberado pelo lama Padma Samten, um qualificado mestre, encontrei as práticas e os conhecimentos que significaram um antes e depois na minha trajetória.
O trabalho de pensar, contemplar, meditar, estudar, ouvir ensinamentos é árduo, mas vale cada segundo. Não ajuda a pagar contas, nem resolve os problemas do clima, é outra coisa. Mas descortina um novo mundo interno.
Se você pretende, nas férias, buscar um ‘retiro espiritual’, não pense que serão momentos de puro relax e prazer junto à natureza.
A prática do darma exige disciplina, força de vontade, bastante dedicação e entrega aos ensinamentos. Não voltei descansada de nenhum retiro que fiz, e foram vários.
Porém, vivenciei explosões na mente que me levaram a ampliar a visão e pensar mais astronomicamente, digamos. Além da visão comum. Isso dá um estofo interno e ganhamos ferramentas valiosas para encarar os desafios da vida.
Fundamentalmente, nos tornamos mais pacíficos, já que a prática da imobilidade física nos leva a uma calma mais profunda. Ficamos menos responsivos, ou seja, começamos a pensar e sentir melhor antes de reagir e conquistamos mais controle sobre a respiração e o corpo em si. A meditação nos ajuda a sermos mais conscientes dos mínimos movimentos que fazemos. E dos impactos que causamos no outro.
Ao passarmos correndo por uma árvore, temos determinada visão. Ao passarmos lentamente, a contemplação nos leva a ver a árvore com mais clareza, seus detalhes, características. Olhar a mente com vagar propicia um encontro íntimo da melhor qualidade.
Com a meditação consegui criar um observador interno e um refúgio, para onde vou sempre que considero necessário. Neste lugar secreto, nada me atinge.
Ali, tudo posso, recarrego as baterias, paro para compreender as mazelas da vida e encontro as respostas. Ali no meu refúgio sou imbatível, enfim. Conquistar esse espaço na mente exigiu muito trabalho. Sinceramente, eu desejo a todos os seres que alcancem essa compreensão da vida.
Sento no chão, na postura de Lótus (ou meio-Lòtus) e primeiro, começa o embate do corpo. Observo as dores, as limitações, o desconforto. É preciso ficar confortável na postura.
Coluna ereta, respiração profunda. Fazemos um voto de imobilidade durante um tempo que vamos definir. Comecei com 5 minutos. Parecia uma eternidade diante da vontade de coçar o nariz, ou engolir a saliva, por exemplo.
Depois de olhar o corpo, partimos para a observação da mente. Os pensamentos vêm velozes, começamos a observar as emoções que eles trazem.
Sentimos no peito, na cabeça, depende do que vem. Imóveis, deixamos ir. A ordem é não nos apegarmos aos conteúdos que chegam. Observamos nosso interno. A mente é um palco, pare e contemple sua grandeza infinita. Com a prática, a macaca, enfim, deixa a loucura um pouco de lado.
Mas não pense que existe um fim, uma diplomação, um encerramento. Aprendemos sem cessar, e assim seguimos nossa jornada interna, secreta e desafiadora da mente. E não esqueça: a mente mente.
Não seja tão crente. Deixe passar os pensamentos como se fossem nuvens e não leve a vida tão a sério. Não queira alcançar a iluminação como se fosse um troféu ao fim de uma competição.
Relaxe na postura e encontre um pouco de paz em meio aos ditames deste mundo louco. Vale a pena a viagem. Experimente!