Paralelo 29

CRÔNICA DO ATHOS: Andantes

Foto: Athos Ronaldo Miralha da Cunha

ATHOS RONALDO MIRALHA DA CUNHA – ESCRITOR

Um dia inteiro, ou uma tarde, isolado do mundo. Com o único objetivo de caminhar. Vencer distâncias e pensamentos soltos. Não existe modo mais tranquilo de espairecer.

Caminhar por estradas de chão ou trilhas na mata é um ato de desobediência. É, praticamente, uma contraversão nestes tempos de correrias e competição.

Ali andamos desarmados com a alma leve e o coração em sincronia com o universo. Não existe paralelos e nem alinhamentos. Somos um corpo em movimento.

De sol, suor, poeira e sombras nos matos. E banhos numa cachoeira. São paisagens que não se esgotam e nossos olhares contemplam a tudo e todos.

Caminhar é uma filosofia de vida.

Então, chegamos no livro de Frédéric Gros “Caminhar, uma filosofia”.

Coletânea apresenta 25 ensaios que exploram relação entre caminhada e pensamento/Foto: Reprodução

O livro nos presenteia com uma coletânea de 25 ensaios que exploram a relação entre a caminhada e o pensamento. E contamos com exemplos de grandes filósofos, escritores e ativistas que fizeram da caminhada uma prática cotidiana. Nietzsche, Rousseau, Rimbaud, Thoreau, Gandhi, Kant e Nerval são alguns citados pelo autor.

Caminhar, uma filosofia é um livro que nos convida a refletir sobre o sentido e o valor da caminhada, não apenas como um exercício físico, mas como uma forma de expressão de liberdade, de resistência e de convívio irmanados em um único objetivo: um passo de cada vez.

Não se faz nada quando estamos caminhando. Mas o fato de não ter nada pra fazer, além de caminhar, nos permite recuperar o sentimento de ser, a alegria de existir e as lonjuras que nos aproximam. O ato da caminhada é viver uma existência longe e livre das habilidades sociais, expurgada do fútil e das máscaras.

Frédéric mostra como diferentes caminhantes, em diferentes épocas e contextos, encontraram na caminhada uma fonte de inspiração, transformação e sabedoria.

“Se ao menos eu pudesse ter, em algum lugar, uma casinha, caminharia de seis a oito horas por dia, formulando pensamentos que, em seguida, lançaria de um só jato no papel”. Nietzsche precisava caminhar para escrever.

O livro é escrito com clareza e leveza, sem perder a profundidade e a erudição. Cada ensaio é uma viagem pela vida e pela obra de um caminhante, que revela aspectos de sua personalidade.

O livro é também uma homenagem à caminhada, que o autor considera uma arte, uma ética e uma política. Caminhar, uma filosofia é um livro que nos faz querer caminhar mais, e melhor.

Cada um dos 25 ensaios, um aprendizado e melhor compreensão e significação do mundo.

A máxima dos memes dos trilheiros: se for convidado para uma trilha, não vá! Não vá! Não vá!

Só vale como meme, e acho divertido.

– Falta muito? – é uma pergunta corrente entre os caminhantes.  

Mas o que conta nesses tempos controversos são as longas e lentas caminhadas. Pois neste mundão somos todos Andantes.

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