Paralelo 29

60 anos do golpe militar: Dom Ivo, bispo de Santa Maria, bateu de frente com generais

Foto: Reprodução

Na CNBB, religioso criticou regime militar e defendeu e abrigou ativistas dos direitos humanos durante o período mais obscuro da ditadura

JOSÉ MAURO BATISTA – PARALELO 29

Durante o período em que foi secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entre 1971 e 1978, o então bispo diocesano de Santa Maria, dom Ivo Lorscheiter, levantou sua voz contra os generais, sobretudo no período mais obscuro da ditadura militar, os chamados Anos de Chumbo.

Depois, como presidente da CNBB, de 1979 a 1986, também por dois mandatos, dom Ivo continuou sua luta pelos direitos humanos. O religioso abrigou ativistas de direitos humanos, além de bispos e sacerdotes de tendência de esquerda, entre eles o seu próprio primo, o cardeal dom Aloísio Lorscheider.

Nascido na pequena cidade de São José do Hortêncio, no Rio Grande do Sul, dom Ivo foi bispo auxiliar de Porto Alegre e bispo da Diocese de Santa Maria por três décadas.

Ao longo de sua trajetória, dentro e fora da Igreja, destacou-se por suas críticas contundentes ao regime militar no Brasil e pela sua acirrada defesa dos direitos humanos.

Combateu as prisões ilegais, a tortura e os assassinatos ocorridos durante o período mais obscuro da ditadura implantada há exatos 60 anos, quando um golpe civil-militar depôs o presidente João Goulart.

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QUEM FOI DOM IVO LORSCHEITER

  • Nasceu em 7 de dezembro de 1927 em uma família simples e religiosa, de origem alemã
  • Após concluir o primário na cidade de São José do Hortêncio, iniciou seus estudos no seminário menor de são josé de Gravataí, em 1939, onde ficou até 1945
  • Em seguida foi cursar filosofia no seminário central de São Leopoldo
  • Em 1949 vai para Roma estudar teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, concluindo doutorado em 1955
  • De volta ao Brasil, foi professor e reitor do Seminário Menor de Gravataí, diretor e vice-reitor da Faculdade de Filosofia do Seminário Maior de Viamão
  • Nos anos 60, foi professor de cultura religiosa na PUC-RS
  • Em 1965, foi nomeado bispo pelo Papa Paulo VI
  • Foi secretário-geral e depois presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entre 1971 e 1986, período em que enfrentou a ditadura e protegeu integrantes da Teologia da Libertação

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Religioso não baixou guarda para Médici

Uma das passagens mais instigantes da trajetória de dom Ivo envolve o general Emílio Garrastazu Médici, que governou o país de 1969 a 1974, com mão de ferro, no período mais truculento do regime.

Descontente com as críticas de dom Ivo, Médici disse ao então secretário-geral da CNBB que se o tom dos pronunciamentos não fosse moderado, os militares dariam aula de religião.

Dom Ivo respondeu: “Nós não criticamos vocês por aspectos técnicos, mas por aspectos éticos. Vocês fazem coisas moralmente injustas”, respondeu o bispo santa-mariense.

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Obrigação católica

O dirigente da CNBB costumava justificar sua atuação crítica em relação à ditadura com uma frase simples: “É obrigação de todo católico opor-se às violações dos direitos humanos”, completava.

Doente, dom Ivo Lorscheiter morreu em Santa Maria em 5 de março de 2007, aos 79 anos, deixando um legado em defesa da inclusão social e dos direitos humanos. Por conta de sua atuação, ficou conhecido como Gigante da Esperança.

(Com informações da Agência Brasil)


 

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