Nos últimos anos, o país tem presenciado ataques vorazes persistentes contra a democracia. Nunca, desde a redemocratização do país, a partir de 1985, se viu tanto ódio ao Estado Democrático de Direito, aquele mesmo que garante a todas a liberdade de se manifestar, inclusive aos que questionam e atacam a própria democracia.
Ações violentas como o atendado com explosivos na noite dessa quarta-feira, na capital do país, exigem uma profunda reflexão e, mais que isso, a revisão de posturas de muitas lideranças.
Essas agressões, num primeiro momento, voltam-se contra instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF), para, depois, chegarem a pessoas comuns, incluindo amigos, colegas e familiares.
Esse cenário ganha força com a polarização política que divide o país desde 2018. Não que a existência da polarização em si leve a isso, mas sim os extremismo que resultam das disputas ideológicas que elevam essa tensão a ponto gerar respostas violentas.
Em outras épocas e em outros lugares houve e há dispustas e tensões entre forças políticas hegemônicas, sem muito espaço para o meio termo. Isso, contudo, não levou a atos extremos como atentados a bombas ou ameaças com armas.
O Rio Grande do Sul é um exemplo de superação de disputas históricas sangrentas como as que ocorreram entre chimangos e maragatos numa passado nem tão distante historicamente.
Dito isto, é recomendável a leitura do livro “Jihadi John – como nasce um terrorista: uma história real”, escrito pelo jornalista britânico Robert Verkaik.
No livro, o repórter conta como um adolescente londrino adere ao Estado Islâmico e se transforma no terrorista mais procurado do mundo. Vernaik se debruça sobre as motivações que levam milhares de jovens como Jihadi à radicalização e à intolerância.
Voltando ao Brasil dos tempos atuais, os ataques à democracia ganharam força em discursos que pregam soluções de força para a solução de conflitos.
Nasce daí a ideia de que determinadas situações podem ser resolvidas no carteiraço, na porrada e à bala, sem espaço para o diálogo.
Essa preferência pela força na solução de conflitos tem como combustível discursos populistas e personalistas ancorados na ideia de que as instituições só servem quando atendem somente aos interesses de grupos que se supõem superiores e detentores de direitos e crenças inquestionáveis.
E quando essas narrativas ganham eco nas redes sociais e em instâncias de representação, como os Poderes Legislativo e Executio, elas formam uma grande onda. É essa narrativa em forma de onda que fornece a matéria-prima da intolerância que fabrica fanáticos e insanos como o homem que cometeu o atentado suicida em Brasília.
Podemos começar a mudar esse cenário no país, a começar pelas lideranças locais. Prefeitos e vereadores que tenham um mínimo de responsabilidade para com os destinos do país devem atentar para o que dizem nas tribunas e para o que postam nas redes sociais, pois a simples palavra de uma pessoa com influência pode detonar os gatilhos dó ódio e da insanidade.
Ademais, os democratas devem repudiar esses discursos e fazer com que aqueles que atentam contra o Estado Democrático de Direito, sejam incitadores, financiadores e executores sejam identificados e punidos com o rigor da lei. Assim, a Justiça deve ser pressionada a endurecer suas ações contra inimigos da democracia.
Valdir Rogério Luiz, irmão de Francisco Wanderley Luiz, o responsável pelo ataque com explosivos na Praça dos Três Poderes na noite desta quarta-feira (13), a motivação do ato não está ligada a problemas pessoais, mas sim à polarização política. “O gatilho começou dois anos atrás, na polarização. As pessoas deixam se levar. Ele tinha uma causa, deixou escrito”, disse Rogério ao jornal O Estado de S. Paulo.
Francisco Wanderley Luiz, também conhecido como Tiu França, tornou-se uma figura mais envolvida com discursos polarizados, segundo o relato. Ele já havia visitado o gabinete do deputado Jorge Goetten (Republicanos-SC) em 2023, ano em que o deputado notou sinais de alteração emocional em Francisco, sugerindo que ele passava por uma fase conturbada. “Diziam que estava com problemas mentais por causa da separação da mulher”, comentou Goetten.
No entanto, Rogério rejeita a ideia de que conflitos pessoais influenciaram o ato do irmão. “Com certeza (foi motivação política). Ele citou nomes no recado que deixou, tinha os desafetos dele”, afirmou. Francisco postava mensagens de cunho extremista nas redes sociais e participou de atos golpistas em frente a quartéis do Exército após Jair Bolsonaro perder a eleição presidencial